– E você perdeu corretores por causa dele? – perguntou o Canalha.
– Não – respondi rapidamente –, os corretores amavam a imprensa marrom, sobretudo esse artigo. De fato, no dia seguinte à publicação da revista, eles vieram trabalhar vestidos em trajes medievais e ficaram correndo e gritando: “Nós somos seu alegre bando! Nós somos seu bando!” – ri com essa imagem do passado. – O que me incomodou no artigo, no entanto, foi a foto que eles usaram. Era horrível.
TOC sorriu com sarcasmo.
– Você quer dizer aquela com você em pé ao lado do cano enferrujado? – ele soltou uma risada irônica.
O Mórmon acrescentou:
– Sim, aquela em que você aparece com um sorriso malévolo!
Balancei a cabeça, desgostoso.
– Sim, sim, sim – murmurei. – O cano enferrujado, como se a Stratton estivesse indo para o ralo. Eu sei tudo sobre isso. O fotógrafo da Forbes me ferrou nessa; primeiro, ele me levou até o telhado e então, casualmente, me pediu para ficar ao lado do cano da calha de chuva – revirei os olhos. – Não percebi a sacanagem na época, porque estava mais preocupado com meu cabelo enquanto ele batia um milhão de fotos, esperando até me pegar no momento certo, quando eu dei aquele sorriso de merda. Essa foi a imagem que eles usaram – balancei a cabeça, não acreditando em minha própria ingenuidade. – E, é claro, o artigo zombou de meus dias na empresa de carnes e frutos do mar, enfatizando a ideia de que eu não tinha nada que me meter no mundo das altas finanças, já que era um humilde vendedor de bifes e nada mais que isso. Na verdade, o título do artigo era Bifes, ações, qual é a diferença?.
Olhei para a Bruxa e disse:
– Mas acontece que você está certa, Michele. Como o artigo apontou, nós continuamos no negócio por mais algum tempo, embora não se pudesse categorizar aquilo como um negócio. Era mais como correr atrás do próprio rabo ou brincar de pegar a bola – parei para pensar por um momento. – Depois que o furacão se foi, o quintal da casa de Paul ficou submerso sob 1 metro de água. Passamos as duas semanas seguintes tentando nos tirar da lama. E então, do nada, aquele quintal se transformou em um sumidouro e tudo começou a entrar em colapso, a começar pela garagem, depois o pátio e em seguida a própria casa. Nós até chamamos um geólogo para saber se a casa estava sobre uma falha geológica anteriormente desconhecida, mas não estava. Nós tivemos outros problemas também. Compramos um freezer usado muito velho, achando que poderíamos economizar alguns dólares. Mas aquele troço era descontroladamente ineficiente e sugou energia elétrica suficiente para eletrificar Nova Jersey inteira. E, é claro, a fiação na casa de Paul não conseguiu suportar tamanha amperagem – busquei minhas lembranças por algum tempo. – Acho que foi no início de dezembro que quase pusemos fogo na casa dele. Foi quando sua mãe veio marchando pelo quintal, com uma corda amarrada em volta da cintura para que não fosse sugada para o centro da terra, e gritou: “Caiam fora daqui! E levam essas merdas de picapes com vocês!”.
Sorri com a lembrança.
– Mas a mãe de Paul era uma mulher amável e nos deu um mês para encontrar um novo armazém. Aquilo pareceu uma coisa bastante razoável na ocasião, embora fosse mais fácil falar que fazer. Nós não tínhamos histórico de crédito e nosso balanço era um desastre, de forma que todos os proprietários de armazéns e galpões se negaram a fazer qualquer tipo de negócio conosco. Havia seis de nós nesse momento: Elliot, Paul, eu e nossos três funcionários, começando pelo grande Frank Bua, que, com 1,95 metro, era a imagem cuspida de um bebê de comercial, o Gerber Baby, só que com barba; depois havia o pequeno George Barbella, que ficava alguns centímetros acima do status de anão e parecia o próprio diabo; e o intratável pedaço de merda chamado Chucky Jones,2 que se parecia com o deus nórdico Thor. Só que, com 1,60 metro e pouco, era o deus Thor depois de ser esmagado. Não surpreendentemente, cada um de nossos funcionários tinha uma disfunção grave, embora, no caso de Frank, tivesse mais a ver com a esposa dele. Ela sofria de uma doença rara chamada alopecia totalis, que fazia com que todos os seus cabelos caíssem, até mesmo os cílios e as sobrancelhas. A moça parecia uma versão feminina daquele ator, o Yul Brinner. Já George Barbella era completamente obcecado pela nossa comida, ainda mais que Elliot. Ele costumava reclamar que nossos camarões tinham sido vitrificados com água para aumentar o peso deles. “Quando meus clientes cozinharem esses camarões jumbo”, gemia, “eles vão ficar micro!” – dei de ombros inocentemente. – Mas fazer isso com os camarões era um procedimento da indústria, de forma que não era culpa minha. Enfim, ele realmente deveria ter se preocupado com a comida cheirando a querosene.
O Canalha recuou em seu assento.
– A comida cheirava a querosene?
– Às vezes – respondi. – A garagem de Paul não tinha aquecimento e, quando dezembro estava se aproximando, quase congelamos até a morte. Então comprei esse aquecedor gigante a querosene, que parecia um torpedo sobre rodas. Ele fez um bom trabalho ao aquecer o lugar, embora fosse mais quente que o Sol e fizesse mais barulho que um F-15 decolando. De vez em quando ele falhava, expelindo uma espessa fumaça que caía na comida. Ainda assim, era bem melhor que ficar congelando – fiz uma pausa para tomar um gole de água. – E então tinha a disfunção do Chucky, que era, entre tantas outras coisas, abaixar as calças no meio da garagem e injetar testosterona na bunda. Mas, vendo pelo lado bom, ele tinha um senso de humor fantástico e deu a cada um de nós apelidos bem legais: Frank Bua era Gerber Baby, George Barbella era Tattoo, em homenagem ao anão da Ilha da Fantasia, e Paul Burton era o Telão, porque segundo ele, Paul tinha uma testa enorme, tão grande que daria para projetar um filme nela.
Eles já sabiam do apelido de Elliot. Eu estava prestes a falar o meu quando TOC sorriu e disse:
– Elliot era o Pinguim. E o seu, qual era? – ele estreitou os olhos astutamente. – Deixe-me adivinhar: você era Napoleão, certo?
“Que imbecil”, pensei. A Duquesa costumava me chamar de Napoleão quando estava tentando me irritar! Ela até me fez colocar a roupa desse pequeno filho da puta para uma festa de Halloween uma vez. Será que o TOC tinha ouvido falar disso? Ou será que era tão óbvio assim para todo mundo que eu tinha um complexo de Napoleão? Ou ele tinha apenas adivinhado? Bem, isso realmente não tinha importância.
Eu estava prestes a mandar TOC se foder quando o Mórmon me salvou do problema:
– Olha quem está falando! – soltou o Mórmon, e começou a rir, como fizeram também a Bruxa e o Canalha. A mensagem não dita era: o TOC e o Lobo de Wall Street têm complexo de Napoleão!
Mas Magnum, no entanto, não ria, recusando-se a zombar da estatura de outro homem; afinal, ele era do tamanho de dois homens crescidos, e tirar sarro de um menorzinho seria inadequado.
Antes de TOC ter a chance de puxar a arma para o Mórmon, eu respondi:
– Você está parcialmente certo, Greg, pelo menos acerca de Elliot. O apelido dele não era apenas Pinguim, na verdade era Pinguim Suicida. Veja, nós já estávamos à beira da falência, e Elliot estava à beira do suicídio. Assim, Chucky costumava circular pelo escritório com o dedo indicador esticado apontando para a têmpora e o polegar apontando para cima, como se estivesse se preparando para explodir os próprios miolos. “Oi, eu sou o Pinguim Suicida”, ele dizia, “e eu entrego carnes e frutos do mar para os restaurantes da cidade. Estou com uma sobra de pedidos extras na minha picape e não posso levar de volta para meu freezer”, e ele continuava dizendo isso sem parar, enquanto gingava ao redor da garagem agitando os braços como um pinguim. “Ajudem-me! Ajudem-me!”, gritava. “O furacão Gloria mijou em cima de mim e o aquecedor a querosene está me sufocando e a mulher do Gerber Baby parece um alien e a mãe do Telão está mandando fechar nosso cinema e… – comecei a rir. – Ele era realmente uma peça rara, Chucky, e então um dia… PUF! Ele sumiu. Desapareceu como um peido no vento. Acontece que ele estava roubando lojas de bebidas alcoólicas à noite. A última vez que ouvi falar dele foi quando dois detetives vieram até a garagem tentando descobrir seu paradeiro. Ele deve estar provavelmente morto ou fazendo stand up em algum lugar.