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– Afinal, qual era seu apelido? – perguntou a Bruxa, comprimindo os lábios finos até desaparecerem.

Eu sorri e disse:

– Fácil, Michele. Chucky me chamava de J. P., que era a abreviatura de J. P. Morgan. Veja, Chucky nunca zombava de mim. Ele acreditava em mim, amava as reuniões que eu fazia. Depois de cada reunião, ele me puxava de lado e dizia: “Que porra você está fazendo nesse negócio? Isso aqui não está à sua altura, você é o cara mais esperto que conheço, J. P.”. Ele me incentivava a desencanar do Telão e do Pinguim. “Eles estão segurando você, cara!”, dizia ele. “Afinal, você é o J. P. Morgan e eles são apenas dois pilantrinhas de merda” – fiz uma pausa, lembrando-me desse conselho. – Ele de fato acertou no alvo em relação a Paul, ele era muito preguiçoso para vender de porta em porta. E também estava certo sobre nossa empresa, ir de porta em porta era uma tarefa de tolos, uma coisa totalmente ridícula. Mas ele estava enganado sobre Elliot. O Pinguim era um vencedor, no verdadeiro sentido da palavra. Ninguém trabalhou mais que ele, e ele era completamente leal a mim. Nós iríamos fazer uma fortuna juntos, embora não no negócio de carne e frutos do mar. Seria em Wall Street. Primeiro, a gente precisava aprender mais algumas lições sobre humildade.

Respirei fundo e disse:

– Foi em algum momento no final de dezembro que finalmente chegamos ao fundo do poço. Nós estávamos literalmente sem um centavo, e a mãe de Paul ameaçava chamar o xerife. Tudo parecia estar perdido; todas as opções haviam se esgotado. E então algo incrível aconteceu, algo totalmente inesperado. Eu tinha acabado de voltar à garagem depois de um dia tortuoso na rua, quando o Pinguim me disse: “Recebi um telefonema estranho hoje de um de nossos fornecedores de carne. Ele me perguntou em que termos a gente queria”. Ele encolheu os ombros, como se estivesse confuso. “Eu não sabia sobre o que eles estavam falando, por isso disse que ia pensar no assunto e depois voltaria a telefonar.” “O que esse negócio de termos quer dizer?”, perguntei. “Nossos termos para a rendição?”. O Pinguim Suicida encolheu os ombros de novo e disse: “Não tenho a mínima ideia, mas que diferença faz? Nosso freezer está vazio, e não temos dinheiro para comprar comida, então… Isso quer dizer que estamos fora do negócio, vamos fechar”.

Fiz uma pausa e sorri diante da lembrança de como éramos pouco sofisticados naquela época. Nós não tínhamos a mínima ideia de que nossos fornecedores estavam dispostos a nos enviar comida a crédito. Parecia estranho que eles estivessem dispostos a fazer isso conosco, mas, como eu estava prestes a aprender, aquilo era um procedimento operacional padrão: todo mundo dava crédito. O jargão no mundo dos negócios foi termos, que é a forma curta para termos de pagamento.

Com uma pitada de malícia em meu tom de voz, eu disse:

– Depois que eu descobri que nossos fornecedores eram burros o suficiente para nos enviar comida a crédito, rapidamente vi que havia uma saída. Era simples: crescer com tudo. Ou seja, assumir tanto crédito quanto fosse possível e empurrar as condições de pagamento para o mais longe possível no futuro. Depois, comprar a maior quantidade possível de picapes, todas elas sem pagamento à vista, coisa que pode ser feita se você estivesse disposto a pagar juros de 24%. Mas eu não estava preocupado com os pagamentos mensais, porque quanto mais picapes eu tivesse na rua, mais comida estaria vendendo e melhor seria meu fluxo de caixa. Em outras palavras, uma vez que meus fornecedores estavam me dando 30 dias para pagar a comida, e meus clientes me pagavam à vista todos os dias, enquanto eu continuasse vendendo mais e mais meu fluxo de caixa continuaria melhorando sempre. Mesmo que eu não estivesse gerando um centavo de lucro em cada venda, ainda estaria gerando caixa, usando os 30 dias de folga.

O Canalha disse rapidamente:

– Mas esse é o ABC da administração.

Ah, claro!, pensei cinicamente. O Canalha obviamente não poderia apreciar a arte negra do malabarismo com o fluxo de caixa! (Ele era muito honesto para isso.) Não sei, talvez ele entendesse a matemática simples desse tipo de coisa, mas havia muitas estratégias diabólicas que eu podia empregar, especialmente na fase final, quando os credores ficavam circulando ao redor e o balanço patrimonial mostrava um sangramento de tinta vermelha que escorria mais rápido que um hemofílico com ferimento à bala. Seria preciso pelo menos um mês para explicar todas as nuances imundas para alguém como o Canalha.

Por outro lado, Elliot e eu rapidamente nos tornamos mestres Jedi nessa arte e, com a mesma rapidez, passamos para o lado escuro, para que fossemos capazes de encontrar todas as maneiras possíveis de fazer malabarismos com o fluxo de caixa. Minha forma favorita era a extorsão financeira inversa, durante a qual você virava o jogo com um fornecedor, explicando-lhe que a única chance de ele receber era aceitar um pequeno pagamento em uma fatura antiga em troca de esticar ainda mais o crédito. Essa funcionava como mágica. E havia o velho truque da assinatura no cheque, quando a gente entregava a um fornecedor um cheque com uma assinatura faltando, a minha ou a de Elliot, o que fazia com que o banco devolvesse o cheque por faltar um endosso, em oposição à insuficiência de fundos. É claro, nós estávamos sempre tomando o cuidado de avisar ao gerente sobre esse cheque, senão ele poderia ficar tentado a autorizar o pagamento e o cheque voltaria saltando como um canguru.

Havia vários outros truques, só que nenhum deles era da conta do Canalha. Então, tudo o que eu disse foi:

– Exatamente, é o ABC da administração, Joel. E, antes que eu percebesse, eu tinha 26 caminhões na rua, um armazém legítimo e um monte de dinheiro no banco. Naturalmente, meu balanço era um desastre total, embora eu me recusasse a me preocupar com esse tipo de coisa. Ao contrário, eu preferia apresentar as reuniões de vendas para 26 panacas, a maioria deles viciados em heroína, crack ou álcool. Ainda assim, pelo menos eu era o orgulhoso proprietário de uma aparentemente bem-sucedida empresa de carnes e frutos do mar. E todos os meus amigos estavam realmente impressionados comigo, todos eles achavam que eu era um empreendedor de primeira linha – encolhi os ombros inocentemente. – Foi quando conheci Kenny Greene. Ele veio trabalhar para mim no negócio de carnes…

– Sério? – perguntou TOC. – Eu não sabia disso.

Aquiesci com a cabeça lentamente, perguntando-me por qual motivo Kenny Green não tinha sido indiciado juntamente com Danny e eu. Ele era o terceiro sócio na Stratton, embora só tivesse se juntado à empresa depois que havíamos resolvido nosso problema com a Comissão de Assuntos Mobiliários, quatro anos antes. Ainda assim, ele tinha sido um sócio com 20% da empresa, do mesmo modo que Danny (eu era dono dos 60% restantes). Ele ganhou dezenas de milhões de dólares e tinha infringido tantas leis quando nós. Parecia altamente ilógico (e também um pouco injusto) que ele tivesse escapado da ira do TOC, a menos, é claro, que ele estivesse cooperando o tempo todo!