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Deixei escapar uma risada.

– De qualquer forma, posso lhes dizer que nunca fui tão afetado por um único encontro em toda a minha vida. Eu me lembro de ficar observando a Ferrari ir embora e dizer para mim mesmo: “Se esse cara consegue ganhar 1 milhão por ano, eu vou conseguir ganhar 50 milhões!” – parei e deixei essas palavras submergirem na mente de meus ouvintes. – Essa previsão acabou por ser surpreendente, não acham? Embora tenha falhado em prever a segunda metade da equação: que eu enfrentaria uns 200 de anos de prisão – e travei os olhos nos da Bruxa –, além da condenação eterna de minha alma.

E continuei:

– De qualquer forma, na época eu estava morando com minha primeira esposa, Denise, embora ela ainda não fosse minha esposa de verdade. Nós dois estávamos dividindo um pequeno apartamento em um prédio infestado de yuppies em Bayside, chamado Bay Club. Foi lá que conheci Danny Porush. Ele morava no andar de cima, embora eu ainda não o tivesse encontrado para conversar. Eu já o tinha visto por perto de vez em quando, mas nunca tinha realmente parado para falar. É engraçado, mas eu me lembro de sempre ter pensado nele como um sujeito normal, como se ele fosse o yuppie perfeito. Na verdade, ele e sua esposa, Nancy, eram o retrato de sucesso e felicidade. Os dois até eram parecidos! Mas, claro, eu não sabia na época que os dois eram primos de primeiro grau. E também não tinha ideia de que a única missão na vida de Nancy era torturar Danny, para fazer com que a vida dele fosse tão miserável e tão difícil quanto possível, nem que Danny, apesar de sua aparência normal, era completamente maluco, gastando a maior parte do tempo enfurnado em um antro de crack no Harlem, fumando o dinheiro de seu empreendimento mais recente, uma falência induzida por cocaína. Mas estou avançando um pouco aqui… Eu só conheceria Danny no ano seguinte. Voltando a Michael Falk: foi naquela mesma tarde que eu contei a Denise sobre meu rápido encontro com esse antigo perdedor. Quando terminei de falar, não eram necessárias outras palavras. Denise apenas olhou para mim com seus grandes olhos castanhos e balançou a cabeça lentamente, e foi tudo. Nós dois sabíamos, ali mesmo, que meu destino era Wall Street. Eu era o vendedor mais talentoso do mundo, ambos sabíamos disso. Meu erro era ter escolhido o produto errado para vender.

– Como você conseguiu um emprego como corretor da Bolsa? – perguntou o Canalha. – Sua formação era em biologia e você estava saindo de uma falência. Por que alguém iria contratá-lo?

– Eu bati numa porta com a ajuda de um amigo de meus pais, um homem chamado Bob Cohen. Ele era um gerente de nível médio na LF Rothschild e tinha influência suficiente para me conseguir uma entrevista. A partir daí, eu me venderia. Saí, comprei um terno azul barato e, em seguida, dois dias depois, me encontrava sentado no ônibus expresso a caminho de Manhattan para uma entrevista de emprego. Nesse meio tempo, Denise ficou sentada em casa esperando por um caminhão de reboque para reaver nosso Porsche, coisa que aconteceu na mesma hora em que eu estava sendo contratado como corretor estagiário na LF Rothschild.

Então eu sorri tristemente e disse:

– Depois disso, minha parada seguinte foi na empresa de carne e frutos do mar, onde despejei a bomba em Elliot – parei por um momento, pensando. – Ainda me lembro desse dia como se fosse ontem, do sentimento agridoce que me atravessou, das emoções misturadas que senti. Eu estava tão feliz em relação a meu futuro quanto estava triste por me separar de Elliot. Ele era como um irmão para mim. Nós tínhamos sido parceiros desde a metade de nossa adolescência. Juntos, tínhamos atravessado uma parede de fogo, tirando da lama picapes atoladas e batendo à porta de possíveis clientes até os nós dos dedos sangrarem. E agora estávamos tomando caminhos diferentes. Nosso armazém, claro, era um completo desastre. Estávamos cercados por caminhões quebrados e caixas vazias, e o congelador era uma desgraça total. A porta estava aberta e não havia uma única caixa lá dentro. Espessas camadas de gelo cresciam dentro do freezer, como se fosse fungo. Aquilo servia como um lembrete desagradável de quão mal administrado fora nosso negócio. Lembro-me de minha autoconfiança sendo quebrada. Com o coração pesado, eu disse a Elliot: “Me desculpe, estou saindo fora, isso é algo que tenho de fazer. Eu tenho de tentar Wall Street. O dinheiro que as pessoas estão conseguindo ganhar lá é impressionante, Elliot. Verdadeiramente impressionante”. Ele logo respondeu: “Eu sei disso, mas não consigo me imaginar sentado atrás de uma mesa o dia todo. Tudo é feito por telefone. Você vai ligar para pessoas que nunca viu antes, tentando fazer com que elas enviem dinheiro a você… Não faz sentido para mim…”.

Balancei a cabeça lentamente.

– Sei que isso pode parecer engraçado agora, mas eu me lembro de ter pensado exatamente a mesma coisa, que era inconcebível que alguém que eu nunca tinha visto nem conhecido antes fosse me enviar centenas de milhares de dólares com base em um telefonema. Sem falar que eu estaria telefonando para pessoas de todo o país. Quer dizer, quais eram as chances de um completo estranho do interior do Texas ser insano o suficiente para me enviar meio milhão de dólares de seu suado dinheirinho, sem nunca ter colocado os olhos em mim? Mas eu ainda tinha a imagem de Michael Falk queimando em meu cérebro. O simples fato era que alguns jovens estavam fazendo fortuna em Wall Street. Eu pertencia àquele lugar.

A Bruxa entrou na conversa:

– Então, Elliot não quis ir com você?

Balancei a cabeça.

– Acredite ou não, ele não quis. Ele ficou no negócio de carnes e frutos do mar para mais uma tentativa. Elliot imaginou que poderia ganhar dinheiro como um show de um homem só, mais enxuto e eficiente – pensei por um momento. – Não me levem a mal, não é que eu tenha lhe oferecido um emprego ou algo parecido. Eu não tinha autoridade para isso; mas eu de fato lhe perguntei se não estaria interessado em ir até lá para uma entrevista de emprego se eu a conseguisse. Mas ele disse que não, mais uma vez – dei de ombros. – Cheguei em casa à noite sem carro, sem dinheiro e pessoalmente falido. E quer saber? Eu nem dei bola. Eu ia ser um cara de Wall Street, e isso era tudo que importava. O fato de que meu salário seria de apenas 100 dólares por semana não me incomodava nem um pouco. Eu tinha esperança, a esperança de um futuro, que é a maior esperança de todas.

Fiz uma pausa e passei alguns momentos estudando o rosto de meus captores, perguntando a mim mesmo o que eles estavam pensando, o que eles achavam de mim. E, embora isso fosse impossível de dizer, eu tinha uma leve suspeita de que eles estavam mais confusos que nunca. Não exatamente sobre minha história, mas sobre qual tinha sido a exata motivação para um cara como eu.

Em qualquer caso, aquela manhã tinha sido apenas um aquecimento. O material mais suculento, como as prostitutas, as drogas, a devassa ilegalidade de minha vida, ainda estava a um dia ou dois de distância. Com esse pensamento, olhei para TOC e perguntei:

– Você acha que poderíamos almoçar agora? É quase 1 hora da tarde e estou começando a ficar com fome.