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– Claro – disse TOC, calorosamente. – Existem alguns lugares muito bons na Reade Street. É uma caminhada de menos de dois minutos daqui até lá.

O Canalha concordou com a cabeça.

– Foi uma manhã muito produtiva. Você fez por merecer um bom almoço.

– Na verdade – retrucou a Bruxa – devo dizer que você nos proporcionou um raro vislumbre da mente de um criminoso.

Ofereci-lhe um sorriso sem graça em troca.

– Bem, estou feliz que você sinta as coisas dessa forma, Michele, porque estou ansioso para agradar.

CAPÍTULO 8

FEDORENTOSLOVÁQUIA

Após trinar como um canário por mais de sete horas, o primeiro dia de cantar na Court Street tinha finalmente chegado ao fim. Eu tinha ido bem longe na história do meu primeiro dia como corretor licenciado, que, por pura coincidência, foi no dia 19 de outubro de 1987, o dia do Grande Crash no Mercado de Ações. Meus quatro captores, bem como meu próprio advogado, tinham achado uma grande ironia nisso. Afinal, entre meu primeiro dia na faculdade de odontologia, meu primeiro dia no negócio de carnes e frutos do mar e meu primeiro dia em Wall Street, eu de fato parecia ter o Toque de Midas, só que ao contrário: tudo o que eu tocava se transformava em merda.

No entanto, pelo outro lado da moeda, não havia como negar que eu tinha certa resiliência. Da forma como Magnum colocou, se alguém me enfiasse em um vaso sanitário e apertasse a descarga, eu iria sair do outro lado segurando uma licença de encanador. E embora as palavras de Magnum tivessem sido grandemente apreciadas, eu estava totalmente certo de que não havia nenhuma licença de encanador esperando por mim do outro lado daquela privada…

Eu estava na limusine de novo, à caminho da velha Brookville, onde iria me colocar de volta sob prisão domiciliar, reduzido mais uma vez a um simples prisioneiro dentro da minha própria casa, bem como a uma piñata emocional para que a Duquesa golpeasse. Como sempre, o balbuciante paquistanês estava ao volante, mas ele não havia dito uma só palavra desde que tinha deixado a Sunset Park 30 minutos antes, quando eu tinha ameaçado cortar-lhe a língua fora se ele não parasse de falar.

Nós estávamos na Long Island Expressway, em algum lugar perto da divisa entre o Queens e Long Island. Estávamos na ponta de um dos congestionamentos da cidade, na hora do entardecer, quando as luzes da rua se acendem, mas fazem pouca diferença. À medida que o carro se arrastava ao longo do caminho no ritmo de uma lesma, eu olhei para fora da janela, perdido em meus pensamentos.

A grande crise de 1987 foi o ponto central da minha vida, um excepcional acontecimento a partir do qual todos os outros eventos se desenrolaram. O índice Dow Jones caiu 508 pontos naquela Segunda-Feira Negra em um único pregão, enviando o maior mercado de ações da história moderna a um ponto insustentável.

Na verdade, eu tinha sido nada mais que um observador casual, não apenas da queda da Bolsa, mas também da fabulosa preparação que a precedeu. No verão de 1982, na esteira dos cortes de impostos sobre os rendimentos e da queda nas taxas de juros, a inflação galopante havia sido finalmente domada e a economia de Reagan foi o alvo da raiva de todos. O dinheiro tornou-se barato, fazendo com que o mercado de ações começasse a pegar fogo. Michael Milken tinha acabado de inventar títulos de alto risco, virando a América corporativa de cabeça para baixo. Especuladores hostis como Ronald Perelman e Henry Kravis, que faziam parte de uma nova raça de celebridades financeiras armadas com baús de dinheiro levantados pelos títulos de alto risco de Milken, foram se tornando nomes conhecidos. Um a um, eles estavam fazendo com que as maiores corporações dos Estados Unidos ficassem de joelhos por meio de aquisições hostis. TWA, Revlon, RJR Nabisco… Quem seria o próximo?

Em outubro de 1987, a euforia tinha atingido seu auge, quando o Dow Jones ultrapassou a marca de 2.400. A era dos yuppies estava em pleno andamento, e o final dela não estava à vista. E enquanto os Michael Falks da vida ganhavam milhões, pessoas como Bill Gates e Steve Jobs foram mudando o mundo. Era o início da Era da Informação, que chegou com a força de uma bomba atômica. Computadores mais rápidos que a velocidade da luz estavam aparecendo em todas as mesas, e eles eram poderosos, intuitivos e reduziram o mundo ao tamanho de uma aldeia global.

Para Wall Street, isso abriu vastas possibilidades: computadores mais rápidos renderam enormes aumentos no volume de negociações, assim como produtos financeiros mais atualizados e novíssimas estratégias de negociação. Os produtos financeiros, chamados de derivativos, permitiram às grandes instituições compensar suas carteiras de investimento como nunca puderam fazer antes, e as novas estratégias, a mais emocionante delas chamada de seguro da carteira de investimentos, começaram a alimentar o frenesi de compras.

Em uma farsa financeira de proporções kafkianas, esse seguro de carteira de investimentos provocou avanços no índice Dow Jones para estimular os computadores a cuspir volumosas ordens de compra para derivativos, o que então fez com que o Dow avançasse ainda mais e estimulou aqueles mesmos computadores a cuspir mais ordens de compras de derivativos… E isso foi em frente sem parar. Teoricamente, poderia ter continuado para sempre.

Na verdade, não poderia, porque as duas toupeiras que tinham inventado aquela coisa de seguro na carteira de investimentos programaram um mecanismo à prova de falhas dentro do programa. Em outras palavras, depois de um determinado nível de aumento de preços, os computadores diriam: “Espere um segundo, tem algo de podre no reino da Dinamarca! É melhor vender todas as ações em nossas carteiras, e tão rapidamente quanto nossos cérebros de silicone permitirem!”.

Foi quando os problemas começaram. Em uma versão real de O exterminador do futuro, computadores se conectaram e começaram a expelir ondas intermináveis de ordens de venda à velocidade da luz. De início, o mercado declinou drasticamente, e isso já era ruim. Mas, infelizmente, os computadores continuaram a vender e, por volta do meio-dia, o volume era tão grande que as máquinas no piso da Bolsa de Valores de New York (NYSE) não conseguiram acompanhar. Isso foi trágico, porque do nada a coisa toda chegou a um impasse.

Enquanto isso, os corretores, sendo corretores da Bolsa, pararam de atender aos seus telefones, pensando: qual é a vantagem de ficar escutando a porra de um cliente irado gritar: “Venda, caramba, venda!” quando não há compradores ao redor para vender? Então, em vez de segurar as mãos de seus clientes e dizer que ia ficar tudo bem, eles se recostaram em suas poltronas, colocaram os sapatos de couro de crocodilo sobre as mesas e deixaram os telefones fora do gancho. Por volta das 4 da tarde daquele dia, o Dow Jones tinha despencado 22%, meio trilhão de dólares desapareceu no ar, a confiança dos investidores foi abalada e a era dos yuppies tinha oficialmente chegado ao fim.

Mais de uma década depois, enquanto contava esses eventos para meus captores, eu me sentia estranhamente separado deles, como se o jovem que vivera tudo aquilo, um pobre idiota chamado Jordan Belfort, fosse um completo estranho para mim, alguém cuja história de vida eu estava narrando em primeira pessoa por uma questão de simplicidade. Mais estranho ainda foi o modo como eu tinha convenientemente omitido o impacto pessoal que esses eventos causaram em mim, especialmente quando se tratou de meu casamento com minha primeira esposa, Denise, com quem eu tinha me casado três meses antes do crash da Bolsa. Nós dois estávamos mais falidos do que qualquer outra pessoa. No entanto, sabíamos que o sucesso estava logo ali, ao virar da esquina. Então tínhamos esperança e tivemos fé, até a Segunda-Feira Negra.

E foi nesse ponto que eu parei: Jordan Belfort tinha acabado de deixar a sala de reuniões da LF Rothschild com o desespero no coração e o rabo entre as pernas. Ele era um jovem de 25 anos, quebrado, com uma falência nas costas e uma licença para vender ações que de repente se tornara inútil.