Foi então que um tcheco de meia-idade, fedido, usando um uniforme azul e cinza da polícia, caminhou até nós. Ele nos olhou com desconfiança por um momento; em seguida, apontou para uma série de poltronas de couro, de encosto alto, que tinham sido colocadas ao redor de uma enorme mesa de mogno. Nada mau, pensei. Sentamos, e um garçom uniformizado apareceu do nada, carregando uma bandeja de aperitivos que colocou diante de nós sem dizer uma só palavra.
Eu olhei para o garçom, que estava suando.
– Desculpe-me – disse eu, humildemente. – Por que é tão quente aqui?
Ele lançou-me o olhar de uma pessoa desinteressada e lobotomizada e depois foi embora sem dizer uma palavra. Quando cheguei mais perto para pegar meu copo, Cabana advertiu:
– Não beba o vinho! – começou a dizer, olhando em volta, nervosamente. – É isso que eles querem – ele olhou para mim de volta, com olhos selvagens. – Você entendeu?
O Chef se inclinou.
– Eu acho que o cara não fala inglês – sussurrou em meu ouvido –, mas quando eu estava saindo do avião o capitão me disse que eles estão tendo a pior onda de calor em cem anos. Acho que hoje foi o dia mais quente na história do país.
DENTRO DO TÁXI, eu respirei pela boca.
– Argh, você já sentiu um cheiro tão ruim assim? – perguntei a Danny.
Danny balançou a cabeça gravemente.
– Nunca. O cara precisa ser mergulhado em ácido sulfúrico.
O Chef concordou com a cabeça, em seguida acrescentou suas pitadas de sabedoria:
– Não se preocupem – disse ele, confiante. – Nós vamos ficar no melhor hotel do país. Tenho certeza de que vai ter ar-condicionado lá. Vocês podem contar com isso.
Dei de ombros, não acreditando muito nele.
– Praga é a maior cidade da Tchecoslováquia? – perguntei ao motorista malcheiroso.
Sem aviso, o motorista do táxi cuspiu um catarro gigante em seu próprio painel.
– Os eslavos são cães – rosnou ele. – Eles não fazem mais parte do país. Estamos na República Tcheca: a Joia do Leste Europeu! – e girou o pescoço para um lado e para o outro, como se estivesse tentando recuperar a compostura.
Eu assenti nervosamente com a cabeça e olhei para fora, tentando absorver um pouco da beleza da Joia do Leste, mas não havia iluminação pública e eu não conseguia enxergar nada. No entanto, ainda estava esperançoso; afinal, depois de tudo, nosso destino era o fabuloso Hotel Ambassador, o único hotel quatro estrelas em Praga. E graças a Deus! Aquela parte da nossa viagem parecia estar amaldiçoada. Um pouco de mimo seria exatamente o que o médico receitaria!
INFELIZMENTE, o Chef não sabia que o Hotel Ambassador tinha acabado de ser classificado como um dos piores hotéis quatro estrelas da Europa. Coisa que descobri no momento em que pisei no lobby do hotel, que estava a uns 100 graus e com uma umidade de 1.000%. Na verdade, era tão sufocante que eu quase desmaiei.
O espaço do lobby era vasto e sombrio, como um abrigo antibombas da época da Guerra Fria. Havia apenas três sofás, que tinham uma perturbadora cor de bosta de cachorro.
Na recepção, sorri para a garota tcheca que fazia o check-in, uma pálida jovem loira com ombros largos, enormes seios tchecos, blusa branca e um crachá onde se lia Lara2.
– Por que não há ar-condicionado? – perguntei à adorável Lara.
Lara sorriu tristemente, expondo alguns dentes tchecos tortos.
– Nós estamos com problemas no ar-condicionado – respondeu, em um inglês com forte sotaque. – Não está funcionando agora…
Com o canto do olho eu vi Danny desabar, mas depois o Chef ofereceu mais palavras de sabedoria.
– Nós vamos ficar bem aqui – disse ele, balançando a cabeça uma única vez. – Eu já vi coisa muito, muito pior.
Eu recuei, descrente.
– É mesmo, Chef? Onde?
Ele sorriu conscientemente.
– Você esquece que eu sou de Nova Jersey.
Tal lógica é brilhante, pensei. O Chef foi um verdadeiro guerreiro!
Encorajado por suas palavras, lancei meu cartão AmEx, sorri para Lara e disse a mim mesmo: “Isso não pode ser tão ruim… Quando se está tão cansado e pós-Lude como eu estou, a tendência é só desmaiar de exaustão”.
DUAS HORAS DEPOIS, eu estava deitado na cama, olhando para o teto, totalmente pelado e pensando em suicídio. Meu quarto no hotel devia ser mais quente que a sala da caldeira do Titanic. As janelas tinham sido aparafusadas e não se podia abri-las, e o aquecedor estava ligado. O motivo, ninguém no hotel parecia saber. No entanto, era calor que vinha do aquecedor, nada estava vindo pelo ar-condicionado, e eu teria pago 1 milhão de dólares para alguém soltar um enxame de abelhas que ficassem pairando sobre mim e agitando suas minúsculas asinhas.
Era pouco mais de 2 da manhã, cerca de 8 horas da noite no horário de Nova York. Eu precisava desesperadamente falar com a Duquesa. Eu precisava ouvir algumas palavras gentis da parte dela, ouvi-la dizer que me amava e que tudo ficaria bem. Ela sempre conseguia me fazer sentir melhor, mesmo nos momentos mais complicados. Tentei ligar para ela meia dúzia de vezes e continuei recebendo a mesma porra de gravação do caralho, dizendo que as linhas para o exterior estavam ocupadas.
E então o telefone tocou. Ahhh, a deliciosa Duquesa! Ela sempre sabe! Peguei o telefone. Droga, era Danny.
– Eu não consigo dormir – rosnou. – Precisamos engolir uns Ludes e ir caçar umas putas, não há outro jeito.
Sentei-me na cama.
– Você está brincando! Alguém vem buscar a gente daqui umas poucas horas, Dan! Isso é loucura – respondi, e passei alguns momentos pensando naquilo, chegando à conclusão de que o plano dele era, de fato, insano. – E, seja como for, como vamos encontrar putas a essa hora da noite? É muito complicado.
– Já arranjei tudo com a Lara – respondeu ele, orgulhoso. – Há um lugar que fica a menos de dez minutos daqui, na periferia de Praga. Lara me garantiu que lá vamos encontrar as melhores putas fedidas do país. – Ele fez uma breve pausa. – De qualquer forma, temos de fazer isso, JB. Seria um carma muito ruim deixar as coisas seguirem seu curso atual. Precisamos tomar medidas drásticas. Temo por você, se não consegue ver isso.
– De jeito nenhum – respondi. – Dessa vez eu passo. Se quiser, vá sozinho.
De alguma forma, e ainda não tenho certeza de como, uma hora mais tarde eu tinha engolido três Ludes e tinha uma enorme prostituta tcheca em cima de mim, com cabelos loiros descoloridos e o rosto de um cão pastor, cavalgando como um cavalo de corridas. Quase nenhuma palavra foi trocada, apenas 200 dólares e algo que soava como “Ooo-brrri-gaduuu!” logo depois que eu meti naquela enorme boceta tcheca. Que seja. Boceta era boceta, pensei, e apesar de ela ser grande o suficiente para estacionar um táxi tcheco lá dentro, eu ainda sentia que era meu dever patriótico depositar dentro dela minha carga vermelha, branca e azul, e, se não fosse por qualquer outro motivo, apenas para lembrá-la quem tinha vencido a Guerra Fria.
Uma hora depois eu estava de volta a meu quarto de hotel, suando de novo, planejando minha própria morte e sentindo muita saudade da Duquesa. Mas, acima de todas as coisas, eu estava me perguntando por que tinha acabado de fazer aquilo. Eu amava a Duquesa mais que qualquer coisa, mas não conseguia me controlar. Eu era fraco e estava decadente. O lobo selvagem vivia escondido dentro de mim, logo abaixo da superfície, pronto para se levantar diante da menor provocação e mostrar suas presas viciadas. Eu não tinha a menor ideia de como aquilo iria acabar, mas a fofoca em Wall Street era a de que eu estaria morto dentro de poucos anos. Que seja. Eu já estava morto em mais de uma maneira…