Com um par de fungadas, eu disse:
– Porra, Dennis, você é um colírio para meus olhos… Snif, snif… Obrigado por ter vindo – disse, atirando minha mão direita para a frente e travando meu cotovelo, oferecendo um aperto de mão caloroso. – Mas procure não ficar muito perto de mim, acho que peguei alguma coisa naquela cela da prisão… Snif, snif… Uma forte gripe, eu acho – sorri timidamente e projetei minha mão um pouco mais, como se dissesse: “Cumprimente, amigo!”.
Infelizmente, o Chef era mais macho que a maioria dos homens e não seria um vírus de gripe que iria assustá-lo:
– Venha cá! – disse ele. – Com gripe ou sem gripe, são em momentos como este que você sabe quem são seus verdadeiros amigos.
Quem são seus verdadeiros amigos? Caramba, que merda de culpa angustiante! Agora eu tinha o privilégio de conhecer o puro pânico que já havia se instalado em meu cérebro. Então veio um relâmpago mais rápido do que a morte. A culpa foi logo dizendo: “Como você pode delatar alguém tão leal quanto o Chef? Você não tem vergonha?”. Mas aí o pânico respondeu: “Foda-se o Chef! Se você não delatar esse cara, você vai acabar babando que nem o velho idiota do Sr. Gower”. A culpa contra-atacou: “Isso não importa, o Chef tem sido leal e verdadeiro, e delatar esse homem vai transformar você em uma escória mais suja que o esgoto!”. E o pânico replicou: “Bela merda! Eu prefiro ser a escória que ficar na cadeia o resto da vida! Além disso, o Chef vai acabar delatando o Demônio de Olhos Azuis para salvar a própria pele, então qual é a diferença, porra?”. A culpa argumentou: “Isso não é necessariamente verdade. O Chef não é uma bichinha covarde, como você, ele é um cara durão!”. Então, de repente, uma nova onda de pânico! O Chef tinha passado pela minha mão e estava rapidamente diminuindo a distância.
Caralho! O que devo fazer? Pense, seu rato! O caminho mais fácil ou o mais difícil? Culpa ou autopreservação? Infelizmente, quando você é um rato, a autopreservação supera tudo: pouco antes de o Chef e eu nos abraçarmos, meu cérebro de rato desencadeou uma enxurrada de sinais de emergência para meu sistema musculoesquelético. Mais rápido do que pude perceber, minha bunda empinou como um garoto de programa anunciando seu produto, e meus ombros caíram para a frente como Quasimodo tocando um sino de igreja, e foi assim que nos abraçamos, o Chef de Jersey de pé e orgulhoso e o Lobo de Wall Street como um prostituto corcunda.
– Você está bem? – perguntou o Chef, liberando-me do abraço. Ele agarrou meus ombros e me segurou pelos braços. – Não me diga que machucou as costas de novo?
– Não, não – respondi rapidamente. – É que fiquei um pouco dolorido de ficar sentado naquela cadeia… E também minha gripe… snif, snif – esfreguei meu nariz com a palma da mão. – Você sabe, é incrível, mas, se eu ficar só um pouco doente, isso vai direto para minhas costas.
Caralho! Mas que merda eu estava falando? Dei de ombros, tentando organizar os pensamentos.
– Vamos, vamos sentar lá fora. Um pouco de ar fresco vai me fazer bem.
– Vá na frente e eu sigo você – disse ele.
Um par de prodigiosas portas francesas levava para o pátio de pedra e, no momento em que passamos por elas, pude sentir o clic, clic, clic da temida máquina fotográfica do Mórmon. Ela parecia estar fazendo buracos em mim, como se fossem raios laser atravessando meu corpo. Quando atingimos a área onde estava a mesinha de teca, eu ofereci ao Chef a poltrona superfaturada que ficava de frente para a janela do quarto.
Resisti ao impulso de olhar para as venezianas, servindo um copo de chá gelado para cada um de nós. E então comecei uma conversa sem importância:
– Eu vou te falar – disse, cansado. – Não posso acreditar que esses sacanas filhos da puta – depois que sacanas filhos da puta escapou de minha boca, me ocorreu que TOC e o Canalha poderiam não apreciar a caracterização que fiz deles. Eu fiz uma nota mental para ser mais gentil no futuro – me mantêm em prisão domiciliar. Como se eu realmente representasse um risco de fuga com uma esposa e dois filhos. Que porra de piada…
Balancei a cabeça em desgosto e o Chef concordou.
– Sim, bem, esse é o jogo que esses cretinos jogam – disse venenosamente. – Eles vão fazer tudo o que puderem para tornar sua vida miserável. Como está a Duquesa, segurando as pontas?
Eu balancei a cabeça e deixei escapar um grande suspiro.
– Não muito bem – respondi.
Fiz uma pausa, tentando reprimir meu desejo de abrir o coração para o Chef. Até mesmo os ratos têm orgulho, afinal de contas, e eu sabia que inúmeros outros acabariam ouvindo essa fita em algum momento.
– Ela está agindo como se tudo fosse um grande choque para ela, como se pensasse que estava casada com um médico ou algo assim. Eu não sei… Não acho que vamos superar isso, não como um casal, pelo menos…
– Não diga isso – respondeu o Chef rapidamente. – Vocês dois vão superar isso, mas só se você for forte. Ela é sua esposa, então ela vai seguir sua liderança, de um jeito ou de outro. Mostre um pouco de fraqueza e… Badabing! – o Chef bateu as mãos ao mesmo tempo – ela sai pela porta da rua em dois segundos. Essa é a natureza da fêmea, gravitar em torno da força.
Eu levei um momento para considerar as palavras do Chef, e por um breve instante meu ânimo se elevou, mas depois afundou de novo. Com efeito, as palavras do Chef eram normalmente carregadas de sabedoria, mas naquele caso ele estava completamente errado. Manter-se ou não forte não tinha nada a ver com aquilo, a Duquesa era forte o suficiente de sua própria maneira, e forte o suficiente para saber que sob nenhuma circunstância ela permitiria que meus problemas diminuíssem sua cota de extração de ouro. Ela cresceu muito pobre nas ruas ladeadas de lixo de Bay Ridge, no Brooklyn, e de jeito nenhum ela se arriscaria a ver essa história se repetindo.
No entanto, foi uma oportunidade perfeita para mostrar ao Chef um ponto importante, ou seja, que eu não tinha intenção de cooperar. Em um tom muito sério, eu disse:
– Bem, talvez eu não possa controlar as ações da Duquesa, mas posso controlar as minhas. Você não tem que se preocupar comigo quanto a me manter forte, Dennis. Eu vou lutar contra isso até o fim, até meu último suspiro, se for preciso. Não me importo quanto possa custar, quanto sangue possa ser derramado nem quantos corpos serão enterrados ao longo do caminho. Eu não dou a mínima para toda essa porra! Estou levando essa coisa a julgamento e vou ser absolvido – balancei a cabeça, gostando do meu jeito fanfarrão e de como isso tinha soado. Era bem ao estilo do Lobo. Pena que eu era uma bichinha covarde… – É só esperar pra ver – acrescentei, contorcendo o nariz ameaçadoramente.
– Bom para você! – disse o Chef de maneira enfática. – Isso era exatamente o que eu queria ouvir. Mantenha-se assim e os cretinos lá do centro da cidade vão ter uma desagradável surpresa – e encolheu os ombros com confiança. – Eles esperam que você deite no chão e se finja de morto, porque é isso que todo mundo faz. Mas quando se trata de ir ao fundo das coisas, eles têm a versão deles, e nós temos a nossa, e a nossa versão vai fazer tanto sentido para um júri quanto a versão deles…
– E o ônus da prova não está conosco – acrescentei com confiança –, está com eles!
– Exatamente – disse o Chef –, e, até onde sei, você é inocente até que se prove o contrário, que é como as coisas funcionam em nosso belo país – ele piscou e meu deu um rápido sorriso. – E, mesmo que seja culpado, eles ainda têm que provar essa culpa além de uma dúvida razoável, e isso não é uma coisa muito fácil de fazer quando existem duas versões das coisas, entendeu?