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Eu balancei a cabeça lentamente.

– Claro que entendi – disse sem entusiasmo –, mas… Eu quero dizer… A história de cobertura que temos é muito boa, mas ainda não é tão crível como a verdade.

– Não se iluda – retrucou o Chef. – A verdade é mais estranha que a ficção às vezes. – Ele deu de ombros. – Na verdade, eu aceitaria mais um álibi que fosse bom do que a versão verdadeira dos fatos. De qualquer forma, acho que o maior problema que estamos enfrentando aqui é que Danny ainda está na cadeia. Quanto mais tempo ele ficar lá, maiores são as chances de ele mudar de lado… – o Chef fez uma pausa, como se estivesse procurando as palavras certas. – Veja, enquanto está sentado lá, Danny não tem ideia do que está acontecendo do lado de fora. Ele não sabe que eu estou do lado dele e que você está do lado dele, ele pode até pensar que está sozinho em tudo isso, talvez até que você esteja cooperando. Só Deus sabe o que os federais estão sussurrando em seu ouvido.

O Chef balançou a cabeça em consternação, mas em seguida, de repente, seu rosto se iluminou:

– Vou dizer o que realmente preciso fazer: eu preciso dar um jeito de entrar naquela cela para falar com Danny, para que ele saiba que tudo vai ficar bem. – O Chef comprimiu os lábios e assentiu lentamente. – Isso seria a melhor coisa que poderia acontecer para nós agora. Talvez eu consiga colocar meu nome na lista de visitas. O que você acha?

Porra, o Chef era um cara pra lá de durão! Ele estava preparado para ir direto ao coração do território inimigo! Será que ele não conhecia o medo? Ele era um guerreiro tão poderoso assim? Agora tudo começava a fazer sentido: os federais nunca tinham sido capazes de capturar o Chef e o Demônio porque eles não pensavam como os outros homens. Eles eram verdadeiros Scarfaces, mafiosos de colarinho branco de um tipo totalmente diferente.

Só então Gwynne veio andando para fora da cozinha.

Ah, cacete!, pensei. Ela vai começar a falar, falar, falar…

Será que ela ia fazer tudo cair por terra? Não tinha como saber. Seu coração era puro demais para entender todo o mal que estava acontecendo, todas as malandragens. Quando ela se aproximou, notei que estava segurando o telefone sem fio. Ela cumprimentou o Chef primeiro, em tons quentes do Suclass="underline"

– Olá, Dennis, como vai você? – que saiu como “Olá, Dainess, cumu vai ocê?”.

– Eu estou bem – respondeu o Chef, em tons quentes de Jersey. – Nunca tive melhor, cara! E você, como tá, Gwynne?

Tou beim, tou beim – a dama sulista respondeu, e havia um sorriso muito triste ligado a esses dois “Estou bem”. Um sorriso que dizia tanto quanto “Estou bem tanto quanto seria de se esperar, considerando que meu patrão está com um pé na prisão, sua esposa com um pé em uma nova mina de ouro e eu a ponto de ser dispensada de um emprego do caralho!”.

Então ela se virou para mim e disse:

– Seu devogado está ao telefone. Ele disse que é importante.

Magnum? Por que ele iria me telefonar naquele momento? Ele sabia sobre aquela reunião. Por que interromper o fluxo das coisas? Eu pedi um minuto para o Chef e então me levantei da cadeira para pegar o telefone sem fio de Gwynne. Com as costas voltadas para o Chef, olhei bem dentro dos olhos de Gwynne e apontei discretamente para a cozinha com o queixo, como a dizer: “Tudo bem, por que você não dá o fora daqui antes que faça alguma merda, sua tagarela?”, ao que ela deu de ombros e voltou para a segurança da cozinha.

Andei alguns metros para longe de onde o Chef estava sentado, para as grades de ferro na borda do pátio, coloquei os cotovelos no corrimão e me inclinei. Ainda estava ao alcance do Chef quando eu disse ao telefone:

– Ei, Greg. O que está acontecendo?

– Sim, é o Greg – disse a voz de TOC –, mas não o Greg que estava esperando. Basta agir naturalmente.

Puta merda! Por que TOC estaria me ligando? Ele tinha perdido o juízo?

– Oi – respondi casualmente –, bem, isso não me surpreende. Danny é um cara ponta firme. Ele nunca vai cooperar – virei-me para o Chef e pisquei, então disse ao telefone: – De qualquer forma, basta dizer ao advogado de Danny que eu estou sempre ao lado dele, não importa o que aconteça. Para o que ele precisar.

– Ótimo – disse o TOC – isso é que é pensamento rápido. Você está fazendo as coisas muito bem até agora. Mas escute: Dennis parece muito aberto para falar com você, então eu quero que tente marcar uma reunião com Brennan. Acho que ele pode comprar essa ideia.

– Vou tentar fazer isso – respondi com ceticismo, sabendo muito bem que as chances de conseguir uma reunião cara a cara com o Demônio de Olhos Azuis eram de uma em um milhão. Mesmo no melhor dos momentos, o cara agia como um paranoico filho da puta; com as coisas complicadas, como então, não havia nenhuma maneira de convencê-lo a ser imprudente o suficiente para se encontrar comigo. – Mas não converso com Nancy faz quase um ano – continuei. – Eu acho que ela odeia o governo mais que o Danny.

Eu olhei para o Chef, que estava olhando para mim com curiosidade, da forma que uma pessoa faz quando está tentando descobrir o que está sendo dito do outro lado em uma conversa por telefone. Nossa, se ele soubesse! Eu lhe lancei um rápido sorriso, revirei os olhos e balancei a cabeça rapidamente, como se quisesse dizer: “Meu advogado está me fazendo perder tempo aqui”, então eu disse para o telefone:

– Sim, bem, você apenas diga ao advogado de Danny para se certificar de que Danny saiba que eu estou com ele. Esse é o… – bip, bip, era a chamada em espera. – … ponto mais importante aqui. Bem, eu tenho que desligar. Eu tenho outra ligação.

Cliquei na outra linha:

– Alô?

Uma voz feminina desconhecida e abafada disse:

– Oi… É o Jordan?

– Sim – respondi, um pouco irritado com a voz sensual. O que essa porra de voz quer? – Aqui é o Jordan, quem fala?

– Maria Elena. Sou a noiva de Michael Burrico.

Meu coração afundou no estômago antes que meu cérebro percebesse o motivo. Michael Burrico tinha sido o primeiro amor da Duquesa, naqueles tempos gloriosos em que ela ainda era uma duquesa em formação. Na última vez que ouvi falar dele, estava morando em Manhattan e ficara rico no negócio da construção. Na mente da Duquesa, eu sabia, isso poderia traduzir-se em três palavras simples: mina de ouro.

Em um tom misturado com sarcasmo, eu disse a Maria:

– Sim, Maria. Seu noivo foi o primeiro namorado de minha amada segunda esposa. A que devo o prazer de seu telefonema?

Maria soltou um gemido minúsculo antes de dizer:

– Bem, eu sei que você está passando por um momento complicado, mas achei que gostaria de saber que sua esposa estava batendo na porta do meu noivo na noite passada, por volta da meia-noite. Ela estava…

Maria continuou falando, mas eu parei de ouvir, ou, mais precisamente, me senti incapaz de ouvir, porque minha cabeça já estava se enchendo de vapor. Eu poderia literalmente ouvir o som sibilante, enquanto mágoa, raiva, vergonha e desesperança inundaram todos os meus sentidos ao mesmo tempo.

Eu nem sabia quem estava mais envergonhado àquela altura, se eu ou ela. Nossa vida juntos tinha chegado ao ponto de se tornar motivo de chacota, o derradeiro sinal de advertência de homens ricos e esposas-troféu, de queimar etapas nos negócios, de queimar etapas na vida. Tínhamos brincado no Jogo da Vida de forma rápida e sem freios, desabando na autoestrada a 1 milhão de quilômetros por hora, e acabamos como derrotados, a história de um desastre total e irremediável. A única diferença entre a Duquesa e eu era que ela estava tentando se afastar do acidente sem um arranhão, enquanto eu não tinha escolha a não ser aceitar meu destino como vítima tetraplégica com queimaduras.