– …e eu realmente ficaria feliz com isso – continuou Maria, em um tom irritado – quer dizer, se você dissesse à sua esposa para manter as patas longe de meu noivo.
Ela disse tudo, pensei. Na verdade, eu não poderia ter concordado mais com Maria, e foi por isso que respondi com um pesado clique em seu ouvido, sem nem dizer adeus. Então me virei para o Chef e congelei, confuso, sem saber o que dizer. Minha mente estava tremendo descontroladamente. Já tinha sido bem difícil me concentrar antes, mas agora era um pouco demais. Tudo estava me atingindo ao mesmo tempo, vindo de todos os lados. Todo homem tem um limite e eu tinha alcançado o meu.
Enquanto olhava para o Chef, eu sabia que deveria estar tentando descobrir uma maneira de abordar o assunto do Demônio de Olhos Azuis e sabia que TOC e Mórmon estavam bem lá em cima, vidrados em cada uma de minhas palavras, fazendo anotações detalhadas sobre meu desempenho, notas que um dia iriam para minha carta do Promotor e ajudariam a decidir quantos anos eu deveria passar na prisão.
No entanto, com tudo o que estava acontecendo, com tudo o que estava em jogo, com a minha liberdade na balança, a única pergunta que meu cérebro estava pedindo que eu respondesse era: a que horas a Duquesa voltaria para casa hoje? Isso era tudo o que importava para mim. Eu queria confrontá-la, não, eu precisava confrontá-la. Eu não poderia seguir em frente com minha vida até que tivesse uma briga com ela. Uma briga estrondosa que só poderia acabar em uma coisa: violência. A Duquesa chegara ao fim. Era passado. Eu não ia deixá-la escapar com isso, nem por um segundo a mais. Se isso fosse de fato a história de um desastre completo, então tudo bem, seria uma história sem sobreviventes, exceto as crianças. Que meus pais as criassem, concluí; eles certamente iriam fazer um trabalho muito melhor do que a Duquesa e eu.
– Você está bem? – perguntou o Chef calorosamente. – Você parece um pouco pálido.
Sem resposta, então…
– Não… Quer dizer, sim. – Comecei balançando a cabeça. – Eu estava… Foi só algo relacionado ao negócio de maternidade da Nadine. Uma garota ligou, está grávida… Com um bebê – sorri distraidamente. – Eu estou bem. Estou ótimo, Dennis…
E a primeira coisa que eu vou fazer quando a Duquesa chegar em casa, pensei, é confrontá-la. Mas eu não vou contar a ela sobre o telefonema, não no início. Vou esperar até que ela diga que não tocou a campainha daquele filho da puta, e então vou saltar sobre ela. Aí, vamos ver…
Sentei-me de novo, meu coração explodindo no peito, minha mente fora de controle. Coloquei o telefone em cima da mesa. Minha boca estava completamente seca. Olhei para o Chef, forçando um sorriso. Era hora de acabar com a reunião. Eu não podia mais ficar lá. Eu não poderia manter um único pensamento construtivo até que confrontasse a Duquesa.
Com desespero em meu coração, fiz uma última tentativa:
– Vou lhe contar uma coisa – murmurei. – Eu não sei o que é pior: meus problemas com os federais ou meus problemas com a Duquesa – balancei a cabeça em genuína confusão. Então, com um sorriso, acrescentei: – Talvez eu devesse ir ver o Bob, talvez ele possa me oferecer algumas palavras de consolo, de sabedoria, porque dessa minha vida não tenho mais nada.
Houve alguns momentos de silêncio, então o Chef quase me lançou longe da minha cadeira quando disse:
– Eu acho que é uma excelente ideia. Bob vai gostar muito de conversar com você. Que tal na terça no campo de golfe? Você acha que vai conseguir sair se conversar com as pessoas da tornozeleira?
Sim, pensei, tenho certeza de que as pessoas que cuidam da tornozeleira estarão dispostas a fazer vista grossa para um encontro meu com o Demônio de Olhos Azuis, embora, naquele momento, eu pudesse cagar dois montes de merda para isso. Tudo o que me interessava era saber a que horas a Duquesa voltaria para casa.
Todo o resto era incidental.
CAPÍTULO 10
COMO CONFRONTAR UMA DUQUESA
Passo um: acenda um fogo abrasador.
A lareira de pedras francesas do quarto principal tinha 1,5 metro de altura por 2 metros de largura e fora adaptada com um mecanismo elétrico de acendimento. Como sempre, quatro grossos pedaços de tronco de pinheiro, divididos longitudinalmente, apoiavam-se sobre uma prodigiosa pilha de gravetos de cedro branco. Como era setembro, a lareira não tinha visto sequer uma chama em quase 5 meses. Tudo bem, ótimo. Precisamente às 21h15, apertei o botão de aço inoxidável na parede, acendendo a primeira, mas não a última chama arrasadora daquela noite.
Passo dois: queime uma peça de mobiliário superfaturada.
Grunhindo e gemendo, eu arrastei uma das aquisições favoritas de minha ex-aspirante a decoradora, um pufe otomano de seda branca de 13 mil dólares, que deve ter demorado quase um ano para ser feito por aqueles ladrões safados em High Point, na Carolina do Norte, e o deixei a 1 metro das chamas. Sentei-me e olhei para o fogo. Em menos de um minuto, os gravetos começaram a crepitar e as chamas ardiam ameaçadoramente. Não satisfeito, agachei-me e puxei o pufe para mais perto e sentei-me de novo. Muito melhor. Em dez minutos, o pufe e eu estaríamos torrados.
Passo três: acenda as chamas da justa indignação.
Uma tarefa simples. Será que existiria algum júri no mundo que me condenaria se eu esfaqueasse o coração gelado da Duquesa usando aquele abridor de cartas de 18 quilates que estava descansando confortavelmente em sua escrivaninha de laca branca de 26 mil dólares? Eu só precisaria me preocupar com um júri que fosse composto por seus pares, ou seja, formado por 12 garimpeiras de cabeça loira que não teriam enxergado nenhum ato criminoso no fato de uma mulher casada, e com dois filhos, note-se!, ir bater à porta da casa do ex-namorado à meia-noite, enquanto o marido estava em casa na cama (em prisão domiciliar) contemplando o suicídio e sonhando com maneiras de reconquistá-la. Mantive esse pensamento e respirei profundamente algumas vezes, com raiva. Continuei olhando para o fundo das chamas, deixando o fogo assar minha pele cada vez mais irritada, mais honrada, mais indignada com a passagem de cada segundo.
Foi então que ouvi os sons familiares da Duquesa ao chegar, o triturar do cascalho na garagem, o bater da maciça porta de mogno da frente, o click clack clack de seus sapatos de salto alto supercaros subindo os degraus da suntuosa escada. E finalmente a porta do quarto se abriu. Virei-me de frente e lá estava ela, vestida de preto. Era apropriado, pensei, considerando-se que ela havia acabado de chegar a seu próprio funeral.
Quando ela me viu sentado tão perto das chamas, ela parou e fez uma pose, com a cabeça inclinada para um lado, as mãos nos quadris, os ombros jogados para trás e as costas ligeiramente arqueadas, empurrando seus gloriosos seios para a frente. Ela abriu a boca para dizer algo, mas as palavras não saíram. Então ela começou a mastigar o interior da bochecha.
Houve alguns momentos de silêncio, enquanto nós só olhávamos um para o outro, como se fossemos dois pistoleiros esperando o momento de sacar as armas para o duelo. A Duquesa estava ótima, como sempre. Não havia como negar isso, mesmo então. A claridade do fogo iluminava seu conjunto inteiro: o vestido preto minúsculo, os sensuais sapatos pretos de salto alto, aquelas longas pernas sem meia, sua juba de cabelos loiros brilhantes, os faiscantes olhos azuis, as maçãs do rosto salientes, os lábios com gloss, a suave linha do queixo.
Sim, a Duquesa era, de fato, uma mulher composta de várias partes, embora naquele momento a única parte de seu corpo na qual eu estava interessado fosse uma pequena área um pouco acima de seu silicone na mama esquerda, bem entre a segunda e a terceira costelas. Era ali que seu coração gelado estava localizado e seria ali que eu mergulharia o abridor de cartas de ouro. Então eu giraria o abridor para cima e levemente para a esquerda, e com esse movimento giratório cortaria a artéria pulmonar dela, o que faria com que ela se afogasse no próprio sangue. Seria uma morte dolorosa, medonha, horrível, o tipo de morte que uma Duquesa garimpeira merecia.