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– Isso é muito impressionante – raciocinou o TOC –, considerando que vocês dois estavam totalmente quebrados.

– Sim – disse rapidamente – e isso teria sido até mais impressionante se ela tivesse a mínima ideia de que a Bolsa tinha desabado – sorri tristemente.

O Canalha estreitou os olhos.

– Ela não tinha ouvido a notícia?

Eu balancei a cabeça, negando.

– Denise nunca assistia ao noticiário. Ela era mais uma garota das novelas que uma garota dos noticiários – fiz uma pausa por um momento, e uma onda de profunda tristeza me invadiu.

Denise podia ter seus defeitos, mas ainda era uma grande esposa. Ela era linda, uma daquelas belezas italianas de cabelos escuros que todo moleque adolescente fantasia quando está no colégio. Sabia como usar uma roupa, minissaia de couro preto e blusas de algodão branco, que eram mais macias que bumbum de bebê.

Pensando bem, a forma como nós dois tínhamos nos alojado em nosso minúsculo apartamento de Bayside tinha sido pura magia. Tínhamos jurado amor eterno um para o outro, certos de que nosso amor poderia conquistar tudo. No entanto, de alguma forma, tínhamos conseguido destruir esse amor. Nós permitimos que o sucesso e o dinheiro subissem à nossa cabeça. Nós permitimos que ele nos separasse, que ele nos devorasse. E no final isso a havia transformado em uma viciada em compras das mais compulsivas, e eu em um estrondoso viciado em drogas. E depois veio a Duquesa…

– Ainda com a gente? – perguntou o Canalha. – Você precisa fazer uma pausa por alguns minutos? – Ele me ofereceu seu sorriso sádico de diretor de prisão.

– Não, eu estou bem – respondi. – De qualquer forma, Denise não tinha ideia de que a Bolsa havia desmoronado, de modo que, no momento em que entrei pela porta, ela me abraçou como se eu fosse um herói conquistador. “Ah, meu Deus!”, disse ela. “Você finalmente chegou em casa! Como foi seu primeiro dia como corretor da Bolsa? Bateu o recorde da empresa de mais ações vendidas?”.

TOC e o Canalha começaram a rir.

Eu ri de volta.

– Sim, foi muito engraçado, tudo bem, exceto quando, em meados de novembro, estávamos praticamente a zero, juntando centavos para comprar xampu… Mas foi só depois de um mês da queda da Bolsa que decidi jogar a toalha e abandonar Wall Street. Foi numa manhã de domingo. Denise e eu estávamos sentados na sala de estar, como dois zumbis, procurando alguma coisa na seção de empregos do jornal. Depois de alguns minutos, me deparei com algo que me pareceu estranho. “Veja isso”, eu disse para ela, “há uma empresa anunciando vagas para corretores, mas eles não estão em Wall Street, estão em Long Island…”. Denise leu o anúncio e perguntou: “O que significa PI, MP?”. Respondi: “Período integral e meio período”, e fiquei imaginando que tipo de corretora seria essa, que contratava corretores em meio período. Eu nunca tinha ouvido falar disso antes. Ainda assim, dadas as minhas circunstâncias, parecia uma ideia razoável. Então eu disse a ela: “Trabalhar por meio período não pode ser uma coisa tão ruim. Talvez eu possa ganhar algum dinheiro enquanto procuro outra coisa”. E ela concordou com a cabeça.

Fiz uma pausa e continuei:

– De qualquer forma, nenhum de nós pensou muito sobre isso na época, e assim, quando telefonei para eles na manhã seguinte, eu estava completamente desencanado. Uma rouca voz masculina atendeu ao telefone e disse: “Investors’ Center, como posso ajudar?”, e eu soube na hora que não era um telefonista. O nome da empresa causou arrepios na minha espinha. Eu estava acostumado com nomes como Goldman Sachs e Merrill Lynch, nomes que ressoam como Wall Street. Eu só podia me imaginar dizendo: “Oi, aqui é Jordan Belfort, ligando da Investors’ Center aqui do Cu do Mundo, Long Island. Não estou mais perto de Wall Street do que você, então por que não me envia logo seu suado dinheirinho? Você provavelmente nunca o verá novamente!”.

– Muito profético – retrucou o Canalha.

– Sim – concordei – se bem que o Investors’ Center não ficava no Cu do Mundo, mas em Great Neck, Long Island, que é na verdade uma parte muito boa da cidade. A empresa ficava no 2º andar de um edifício comercial de três andares.

Parei por um momento.

– Lembro-me de estacionar perto do prédio e ficar bem impressionado. Estava dirigindo aquele velho pedaço de merda da Denise, um Datsun caindo aos pedaços, que era o único carro que tínhamos na época, e dizia para mim mesmo: “Ei, até que esse lugar não parece tão ruim!”. Mas, então, no momento em que entrei na sala, meu queixo caiu. O espaço era muito menor do que eu esperava. Tinha talvez uns 20 metros quadrados, e não havia uma única coisa ali que lembrasse Wall Street. Não havia monitores de computador, assistentes de vendas nem corretores andando para a frente e para trás. Não havia nada mais que 20 antigas mesas de madeira, todas elas parecendo bem desgastadas pelo tempo, dispostas a esmo. Apenas cinco das mesas mostravam corretores ali sentados, e nada de agitação, a não ser um murmúrio baixo. Eu tinha colocado terno e gravata para a entrevista, e era o único na sala vestido desse jeito. Todo mundo usava jeans e tênis, com exceção de um cara. O único problema era que seu terno parecia saído de uma caixa do Exército da Salvação. Tenho gravada na memória até hoje a expressão idiota que ele mostrava no rosto. Parecia alguém que tinha sido lobotomizado. O cara estava na casa dos 30 anos e tinha o cabelo preto mais ensebado que se pode imaginar, como se tivesse tomado banho com óleo de motor de carro e…

O Canalha começou acenando com a cabeça de novo, como se dissesse: “Melhor seguir em frente”.

– Enfim – continuei –, o gerente estava sentado em um pequeno escritório na frente dessa sala e parecia alheio a tudo. Ele latia em seu telefone, conversando com a esposa, disso consigo lembrar, falando alguma coisa sobre o cão deles estar doente. Quando ele me viu, levantou o dedo indicador, ao qual aquiesci respeitosamente. Então ele continuou falando. Seu nome, como vim a saber depois, era George Grunfeld, e dois anos antes ele era professor de Estudos Sociais. Tinha por volta de 45 anos de idade e era a cara de Gabe Kaplan, o professor de Welcome Back, Kotter – sorri para TOC. – Você se lembra de Welcome Back, Kotter, Greg?

TOC assentiu.

– Sim, com Travolta – ele olhou para o Canalha. – Você assistia a Welcome Back, Kotter?

O Canalha deu um sorriso morto para TOC.

– Sim, “pode enfiar aí mesmo onde está pensando”* – disse ele, sem emoção.

– Ahá, eu sabia! – disse eu de maneira calorosa. – Isso é exatamente o que Travolta costumava dizer ao senhor Kotter – sorri para meu novo amigo, com a satisfação de finalmente ter encontrado um ponto em comum com ele.

Infelizmente, o Canalha recusou-se a sorrir de volta. Em vez disso, olhou para mim, com cara de pedra. Eu dei de ombros.

– Bem, de qualquer maneira, ele se parecia com aquele sujeito, peludo em todos os lugares, no cabelo, nas sobrancelhas, no bigode, nos dedos. Parecia que alguém tinha colado um punhado de arbustos no cara!

TOC balançou a cabeça, rindo, enquanto o Canalha olhou-me ameaçadoramente.

– Por fim, George desligou o telefone e veio me cumprimentar. “Basta escolher uma mesa livre e iniciar os telefonemas”, disse ele depois de alguns segundos de conversa fiada. “Isso é tudo?”, perguntei surpreso. “Você está me contratando?” “Sim, por que não? Não é como se eu estivesse lhe pagando um salário, certo? Isso não é um problema, é?” Eu estava prestes a dizer-lhe que não era, quando um dos vendedores de repente saiu de sua cadeira e começou a andar para trás e para a frente. George apontou para o cara e disse: “Esse é Chris Knight, nosso melhor vendedor. Ele tem um discurso e tanto, venha ouvir…”. Concordei e foquei a atenção em Chris, que era alto e magro e tinha um rosto mais longo que o de um puro-sangue. Ele não devia ter mais do que 20 anos e estava vestido como se tivesse acabado de sair de uma festa da cerveja. Eu me lembro de ficar chocado com o jeito terrível como ele suava; murmurando, meio que mastigando as palavras, eu dificilmente conseguia compreender o que o cara dizia! Então, do nada, ele começou a gritar em seu telefone, em rajadas curtas e rápidas de um surto de vendas ridículo: “Caralho, Bill, eu garanto isso!”, gritava. “Eu garanto que essas ações vão subir. Você não pode perder, é impossível! Tenho informações que ainda não vieram a público, está me ouvindo? Eu não acho que esteja, porque tenho informações privilegiadas!”. E então ele puxou o telefone para longe da orelha, estendeu-o na frente de seu próprio nariz e olhou para o receptor com desprezo. Então, depois de 5 segundos em que ficou olhando, colocou o telefone de volta no ouvido e começou a gritar novamente. Olhei para George e disse: “O que diabos foi aquilo tudo?”. George acenou com a cabeça conscientemente e disse: “Esse é muito bom, não é?”. Eu só balancei a cabeça, descrente, e não falei nada. Enquanto isso, Chris ainda estava gritando: “Você não entendeu? Não temos como perder aqui, Bill! Eu juro a você! Essa ação vai subir até a Lua! Nada de ‘se’ e ‘mas’, chega! Você tem que comprar agora, agora mesmo!”.