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“Quinze minutos mais tarde, eu estava no Harlem, no subsolo de um antro de crack caindo aos pedaços, frequentado por prostitutas desdentadas e haitianos bêbados, levando o tubo de vidro aos lábios enquanto Danny segurava um isqueiro na tigela. E enquanto o crack chiava como uma tira de bacon na frigideira, dei um longo trago e o segurei enquanto podia. Uma onda de euforia indescritível ultrapassou meu corpo. Tudo começou na base da minha aorta e percorreu minha coluna vertebral, borbulhando em torno do centro de prazer do meu cérebro com um bilhão de explosões sinápticas. ‘Ah, porra’, murmurei, ‘você é o melhor amigo que eu já tive, Danny!’, e passei o cachimbo a ele. ‘Obrigado’, respondeu ele, ‘você também, somos irmãos até o fim’, recarregando o cachimbo com mais crack.

TOC balançou a cabeça incrédulo.

– O que diabos havia de errado com você? Por que você faria isso?

A Bruxa disse:

– Porque eles são viciados em drogas, Greg, eles não têm vergonha.

– Quanto tempo você ficou lá? – perguntou o Canalha, num tom de curiosidade mórbida.

– Por um longo tempo – respondi, balançando a cabeça. – Você precisa saber uma coisa sobre o crack: uma vez que começa com ele, só há duas maneiras de parar: quando fica sem dinheiro ou quando morre de ataque cardíaco. Felizmente, nossa farra terminou com a primeira opção, não com a segunda. Eu só tinha cerca de 700 dólares no bolso, e Danny uns 500. Então, juntamos nosso dinheiro, como dois bons socialistas, e fomos capazes de manter nossa compulsão até depois da meia-noite.

Eu dei de ombros.

– O lado bom da coisa, porém, é que fui capaz de reunir informações valiosas demais durante nossa farra. Como acontece com todas as drogas, há várias fases de pico, e com o crack elas são particularmente agudas. Se quiserem, posso contar a vocês como é.

TOC balançou a cabeça com seriedade.

– É um mistério para mim o porquê de eu estar interessado em ouvir sobre isso, mas já que você deixou o gênio sair da garrafa, é bom que siga em frente.

Sorri para ele.

– O prazer será todo meu, Greg. A primeira fase do pico do crack é a fase da euforia. Isso acontece quando você se sente tão incrivelmente maravilhoso que quer apenas gritar do alto das colinas: “Eu amo crack! Eu amo crack! E todos vocês aí embaixo que não estão fumando essa merda não sabem o que estão perdendo!” – dei de ombros. – E caso não acreditem no que estou dizendo, experimentem por si mesmos e verão o que eu quero dizer.

– Quanto tempo dura essa fase? – perguntou o Canalha.

Eu balancei a cabeça, triste.

– Não o suficiente – respondi. – Talvez 15 ou 20 minutos, depois acaba e você desliza para a fase dois, que é quase tão boa, mas nem tanto. É a chamada fase de “cagar pela boca”, que por si só já é autoexplicativa. Nesse caso, porém, o tipo de diarreia oral que é induzida pela droga difere um pouco da diarreia oral induzida pela variedade botânica que o típico artista de merda lança em você.

– E qual é a diferença? – perguntou a Bruxa, em busca de uma forma de reconhecer um artista de merda quando visse um.

Apertei os olhos sabiamente.

– Bem, é muito difícil descrever as falas sem sentido induzidas por drogas para aqueles que nunca mergulharam nelas, mas vamos apenas dizer que consiste de um fluxo interminável de divagações ocas, que as outras pessoas que estão na mesma fase acham que são brilhantes. No entanto, para todos aqueles que estão fora da fase, soa como um completo disparate.

TOC parecia entender:

– Por isso que nessa fase você fez a maior parte de sua coleta de informações, eu presumo.

– Na verdade, Greg, é uma suposição bastante lógica. Danny e eu estávamos sentados naquele chão de concreto, sob um teto de amianto despencando, com as costas apoiadas contra uma parede de gesso barato, que precisava de duas demãos de tinta, enquanto três putas desdentadas cheias de crack olhavam com admiração. Então eu disse a ele: “Não consigo pensar num lugar melhor que esse para fazer uma viagem de crack, hein, Danny?”. “De jeito nenhum”, murmurou ele. “E aí, você acha que eu fiz uma indicação errada?” Ele colocou o cachimbo na boca e inalou mais uma vez. “Deixe-me fazer uma pergunta”, eu disse. “Você sabe, há alguns rumores muito loucos flutuando em torno do nosso prédio sobre você e Nancy serem primos de primeiro grau. Claro, eu sei que eles não são verdadeiros, mas eu só achei que você precisava tomar conhecimento, entendeu, de modo que você ficaria sabendo o que as pessoas andam falando sobre vocês.” De repente, ele começou a tossir violentamente. “Caralho… Caralho!”, e balançou a cabeça rapidamente, como se tentasse controlar aquele pico. Após alguns segundos, ele disse: “Não é um boato, cara, é verdade. Nancy e eu somos primos de primeiro grau. O pai dela e minha mãe são irmãos”. Ele deu de ombros. “Você não está preocupado com a consanguinidade?”, perguntei a ele. “Quer dizer, Jonathon parece bastante normal até agora, mas o que acontecerá com seu próximo filho? E se ele sair deformado?”. Danny balançou a cabeça. “O risco é baixo”, disse ele, confiante. “Meu pai é médico e fez os exames. Mas, se de fato der merda, eu vou deixar o mutante nos degraus de uma instituição de caridade. Ou vou trancá-lo no porão e dar pra ele um balde de carne moída uma vez por mês.” Lembrem-se, não fui eu quem disse isso, foi Danny. Além disso, nós estávamos no meio da fase de “cagar pela boca”, e até mesmo as coisas mais absurdas faziam sentido, naquele momento!

TOC e o Canalha começaram a rir.

– Então, que outra informação valiosa você conseguiu reunir? – perguntou o Canalha.

Eu balancei a cabeça, ansioso para mudar de assunto.

– Bem, eu também descobri que ele tinha cheirado seus dois últimos negócios falidos direto pelo nariz. Antes do serviço de ambulâncias houve um serviço de mensageiros em Manhattan; foi quando ele começou a fumar crack com os mensageiros de bicicleta. Esse foi o início do fim financeiro de Danny. Antes disso, ele tinha sido um sujeito bem-sucedido; naquele momento, no entanto, ele era apenas uma casca de seu antigo eu. Sua confiança foi quebrada, sua conta bancária se esgotou e sua esposa, que nunca fora uma pessoa fácil, para começar, estava determinada a transformar a vida dele num inferno. De qualquer forma, nós só saímos da cidade naquela noite depois da meia-noite, e foi só então que percebi que tinha me esquecido de avisar Denise. Foi também então que eu comecei a cair de um penhasco emocional, batendo no fundo no mesmo instante em que pegamos a rampa de saída para Bayside, e aterrissei na fase da preocupação.

Parei por um momento, sentindo-me preocupado só de pensar na fase de preocupação que se aproximava.

Respirei fundo e disse:

– Essa é a terceira fase: um ataque virulento de pensamentos negativos que o afogam como um tsunami assassino. Você se preocupa com tudo: erros do passado, problemas do presente e qualquer coisa que possa aparecer no futuro. No caso de Danny, a preocupação tinha a ver com dinheiro, e eu sabia disso porque, assim que saímos da rampa de acesso a Bayside, ele me disse: “O Citibank está prestes a tomar meu apartamento e jogar minha família na rua. Você acha que pode me emprestar 10 mil dólares? Eu não tenho mais ninguém a quem recorrer”. Respirei fundo naquele momento, tentando extrair alguma energia das preocupações de Danny, porque se a vida de Danny andava pior que a minha, então com o que eu devia me preocupar realmente? “Sim”, respondi. “Você tem um Valium ou um Xanax? Não estou me sentindo muito bem…” Mas ele balançou a cabeça negativamente. “Não tenho, mas por que você não fuma o bocal? Deve ter algum resíduo de crack lá, e vai fazer você se sentir melhor.” Concordei com a cabeça e peguei o tubo. “Obrigado. Segure o volante enquanto eu acendo isso aqui. Não quero me queimar.” Danny pegou o volante e foi desse jeito que fizemos o caminho por Bayside, comigo fumando o bocal do cachimbo de crack e Danny segurando o volante do carro. Durante nossa viagem no elevador, não dissemos uma única palavra um para o outro. Nem mesmo olhamos um para o outro. Estávamos ambos muito envergonhados. Eu me lembro de ter jurado a mim mesmo que nunca mais falaria com ele. No fundo, sabia que alguém como Danny não podia ser bom para mim. Alguém que falava sobre sua família do jeito que ele fez, alguém que consumia drogas do jeito que ele fez e alguém que teve a porra da audácia de me levar para as profundezas e o desespero de um antro daqueles no Harlem… Eu sabia que ele só iria trazer à tona o pior de mim. Enfim, no momento em que coloquei a chave na fechadura, a porta se abriu e lá estava Denise, chorando. Eu olhei para ela com pânico nos olhos. Meu coração estava batendo no peito de um jeito que parecia que iria explodir. Ergui as palmas das mãos no ar e abri a boca para dizer alguma coisa, mas as palavras não saíram. Foi quando entrei na fase quatro, a fase da contemplação do suicídio.