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– E lá vamos nós – disse TOC, com um sorriso.

O Canalha acrescentou:

– Muito bem, então aí estamos. Finalmente chegamos ao começo, um dia e meio depois de você começar a cooperar.

– É isso aí – concordei –, mas ninguém nunca vai poder me acusar de não ser capaz de contar uma boa história, certo? – sorri calorosamente para meus captores. Eu tinha chegado ao núcleo da história, uma história sem igual. Nós quatro tínhamos criado uma conexão estranha, mas ainda assim agradável, de certa forma, e eu não pude deixar de admirar a sabedoria de Magnum. Na ausência dele, as paredes da formalidade tinham ruído, sendo substituídas por uma familiaridade cordial e por um espírito de solidariedade. Na verdade, eu finalmente me sentia parte da equipe dos Estados Unidos!

Infelizmente, a Bruxa foi rápida em estourar minha bolha.

– Então foi aí que você embarcou em sua vida de crimes – disse ela. – Tudo o que veio antes foi apenas aquecimento.

– Então, o que aconteceu depois? – perguntou o Canalha.

Dei de ombros e soltei um grande suspiro.

– Bem, o resto do dia foi de uma insanidade total. Antes de ir para o escritório de Lester, liguei para a casa de George Grunfeld, mas a esposa dele me disse que ele não estava. “Ele está no escritório cuidando da papelada”, disse ela, e pelo tom de sua voz eu pude literalmente ouvir o triturador de papel zumbindo ao fundo. Então, eu telefonei ao Cabeça Quadrada, contei a ele o que estava acontecendo e lhe disse que seria melhor ele ir cuidar da nossa papelada, antes que os federais invadissem o lugar. Depois, telefonei ao Danny e lhe passei a má notícia de que ele não seria pago na segunda-feira. Claro, Danny sendo Danny, recebeu a má notícia com calma. “Eu tenho problemas maiores que esse”, rosnou ele. “Ah, é mesmo?”, eu disse. “Como o quê?” “Bem, eu ainda estou casado com Nancy”, respondeu ele. “Não acha que é suficiente?” Como de costume, resisti ao impulso de lhe perguntar por que diabos ele tinha se casado com a prima, antes de qualquer coisa. Mas disse a ele para não se preocupar, que eu cobriria a hipoteca e as despesas e qualquer outra coisa de que ele precisasse até que conseguisse colocar as coisas em ordem. Danny me agradeceu efusivamente e disse que estaria comigo até o fim. Então desliguei o telefone e fui até o escritório de Lester.

– Estou curioso – comentou o Canalha. – Que tipo de documentos você queria destruir?

Scripts, em sua maioria, e talvez alguns tickets de compra e venda de ações. Mas, na verdade, não havia muito que eu pudesse destruir que não estivesse armazenado em dois ou três outros lugares. No entanto, a caminho do escritório de Lester, um plano se formou em minha mente. Na verdade, isso marcaria o início do que eu viria a chamar de minha Grande Janela de Clareza. Ela começou no carro a caminho do escritório de Lester e durou até o começo de 1993, quando acertei minha questão com a CVM e vendi a firma para Danny por 180 milhões de dólares. Foi um momento marcante em minha vida, um período de quatro anos e meio em que não havia nenhum problema muito complicado que não pudesse resolver. Parecia que meu cérebro estava trabalhando em aceleração máxima; eu poderia ir em 20 direções diferentes ao mesmo tempo e ainda assim era capaz de encontrar o caminho certo sem pegar uma única entrada errada.

Fiz uma pausa por um momento, avaliando minhas palavras.

– Eu não estou tentando parecer arrogante aqui, acredite, essa é a última coisa que eu poderia fazer agora. Fui humilhado pela minha própria vida: pelo meu vício em drogas, por minha acusação e pela minha esposa – traidora – me abandonando na escadaria do tribunal. Mas só estou tentando pintar um quadro para vocês, uma imagem de como eu era na época, assim fica fácil entender por que todo mundo me seguiu cegamente: pessoas como Mike Valenoti e meu pai, Danny e Kenny, Jim Taormina e, finalmente, milhares de outras pessoas que viriam a trabalhar na Stratton. Foi uma época em que eu tinha todas as respostas, que eu era capaz de dominar o negócio de corretagem em uma questão de dias, tanto o lado operacional quanto o lado de negociação. Mike viria a me chamar de aluno mais capaz do mundo, e muitos outros, com o passar do tempo, viriam a me chamar da mesma coisa. Infelizmente muitos deles faziam parte de uma lista do “quem é quem” dos criminosos do mercado de transações financeiras – balancei a cabeça tristemente. – De todo modo, quando olho para trás, para esses dias, sinto um misto de emoções e uma saudável dose de admiração. De certa forma, acho que foi essa janela de claridade que me levou para as drogas, as prostitutas e tudo o mais. Eu sempre sofri de insônia, mas de repente descobri que achava impossível dormir mais que uma ou duas horas por noite. Eu não conseguia acalmar os pensamentos que rugiam pela minha cabeça. No início dos anos 1990, eu estava administrando as contas de negociação de quatro diferentes empresas de corretagem: Stratton, Monroe Parker, Biltmore, além de uma conta secreta que eu mantinha na MH Meyerson, que eu usei para equilibrar as outras, e eu sabia o que cada empresa tinha em sua conta, até cada cota…

Parei por um momento, deixando minhas palavras assentarem.

– Quando essa minha clareza finalmente desapareceu, me vi tentando recapturá-la desesperadamente. Eu tentei uma dúzia de negócios diferentes: fiz filmes, abri uma empresa de vitaminas, trabalhei na Steve Madden Shoes, até tentei vender ações a descoberto, imaginando que eu poderia fazer dinheiro atacando a indústria que tinha criado. Mas, no final, não pude recapturá-la. Eu nunca consegui voltar ao ponto em que sentia meu cérebro funcionando com todos os cilindros – balancei a cabeça tristemente. – Algumas vezes me pergunto se algum dia irei conseguir… Quer dizer, eu sei que tenho um longo caminho pela frente e que provavelmente vou acabar passando uma considerável quantidade de tempo na cadeia, mas depois que tudo for dito e feito, depois que cumprir a pena e pagar minha dívida com a sociedade, por assim dizer, me pergunto se conseguirei realizar algo de extraordinário de novo. Eu me pergunto se algum dia terei outra dessas janelas de clareza…

Deixei escapar um suspiro sincero.

Depois de alguns instantes de silêncio, TOC finalmente disse:

– Eu tenho uma ligeira suspeita de que sim, de que terá outra, mas espero, para seu próprio bem e para o bem do público em geral, que você venha a fazer algo mais positivo com sua próxima oportunidade…

– Pois eu não poderia estar mais de acordo – disse a Bruxa, estreitando os olhos para mim e inclinando a cabeça para o lado de uma maneira esclarecedora, como se estivesse estudando um minúsculo espécime no laboratório. – Eu acho que o que mais me incomoda em você é a maneira como tomou um presente que lhe foi dado por Deus e abusou dele. Um ladrão comum ou mesmo um bandido, nesse caso, seriam mais fáceis de suportar. Mas você… Não foi nada além da ganância que o motivou, a cobiça em todas as suas formas, por todas as coisas carnais, por todas as coisas perversas. Foi isso e um desenfreado desejo pelo poder.