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Caminhei até uma janela de vidro que ia do piso ao teto e exibia uma vista fantástica para a selva de concreto de Manhattan. Fiquei olhando pela janela, sem expressão, imaginando como diabos eu tinha ido parar ali – e sabendo exatamente como.

Estávamos no 26º andar de um edifício estilo art déco que se levantava 60 andares acima da Quinta Avenida e da Rua 42. Era uma área de Manhattan conhecida como Bryant Park, embora também tivesse sido conhecida como Needle* Park, quando cerca de 200 prostitutas viciadas em heroína, nos anos 1970, tinham orgulhosamente transformado aquele lugar em seu lar. Mas o parque havia muito tinha sido recuperado e era agora considerado um bom local para a classe trabalhadora da cidade desfrutar de uma hora de almoço serena, um lugar onde essas pessoas podiam se sentar em bancos pintados de verde, respirar com calma os gases nocivos de centenas de milhares de carros que passavam e escutar as buzinas estridentes dos 20 mil taxistas imigrantes. Olhei para baixo, para o parque, mas tudo o que eu pude enxergar foi uma faixa de grama verde e algumas pessoas do tamanho de formigas, nenhuma das quais, pelo que pude adivinhar, estava usando aquelas tornozeleiras. Achei tudo aquilo muito deprimente.

Enfim, aquele edifício, o de número 500 na Quinta Avenida, era um lugar especialmente bom para se manter um escritório de advocacia. Na verdade, isso tinha instilado grande confiança em mim quando encontrei Nick e Greg pela primeira vez, quatro anos antes, confirmando uma intuição que eu tive de que aqueles dois jovens advogados ascenderiam rapidamente.

Veja, na época, o escritório de advocacia De Feis O’Connell & Rose não era um dos grandes nomes de Nova York. Eles eram da nova geração, dois afiados e jovens advogados que tinham feito seu nome no gabinete do Procurador-Geral (processando trapaceiros como eu) e que só recentemente tinham se mudado para seu próprio escritório. Era aqui que eles poderiam realmente ganhar dinheiro (defendendo trapaceiros como eu).

O terceiro sócio do escritório de advocacia, Charlie Rose, havia morrido tragicamente de um tumor maligno no cérebro. Mas a placa banhada a ouro na porta de nogueira da frente ainda mantinha seu nome, e havia inúmeras fotos dele nas paredes da área de recepção, na sala de reuniões e também nas paredes das salas de Nick e Greg. Aquele foi um toque sentimental que não passou despercebido para mim. Em minha mente, a mensagem era bem clara: Nick e Greg eram dois caras extremamente leais, o tipo certo de gente a quem eu poderia confiar minha liberdade.

– Por que você não se senta? – perguntou Magnum num tom de voz bastante apaziguador, estendendo o braço de 1 quilômetro de extensão e apontando para minha poltrona. – Você precisa se acalmar um pouco, colega.

– Eu estou calmo – murmurei. – Estou calmo pra caralho. E por que diabos eu ficaria nervoso, afinal? Pelo fato de que posso ser condenado a 300 anos de cadeia? – dei de ombros e tomei meu lugar. – Isso não é tão ruim no esquema geral das coisas, não é?

– Você não corre o risco de pegar 300 anos – respondeu Magnum, em um tom que um psiquiatra normalmente usaria para convencer um suicida a não pular da ponte. – No máximo, são 30 anos; 35 na pior das hipóteses – então ele fez uma pausa, franzindo os lábios como um agente funerário. – Embora exista uma excelente oportunidade de o governo substituir a acusação…

Eu me encolhi na poltrona.

– Substituir? Do que você está falando?

É claro que eu sabia exatamente do que ele estava falando. Afinal de contas, eu estivera sob investigação criminal durante a maior parte de minha vida adulta, então me tornara um especialista nesses assuntos. Mas ainda assim pensei que, de alguma forma, se eu fizesse com que a expressão substituir me soasse como um conceito totalmente estranho, isso tornaria menos provável que a situação de fato acontecesse.

– Deixe-me esclarecer as coisas – disse o rapaz de Yale. – Exatamente agora você está sendo acusado de fraudes de valores mobiliários e lavagem de dinheiro, mas apenas em quatro ações. São grandes as chances de que eles tentem agregar outras acusações, ou seja, substituir as acusações contra você, como seria o termo jurídico. Não fique surpreso se eles tentarem indiciá-lo quanto às demais empresas cujas ações você tornou públicas. No total foram 35, certo?

– Mais ou menos – respondi de modo casual, a essa altura da conversa totalmente entorpecido pela quantidade de más notícias, que fariam um homem normal mijar nas calças.

Sem falar que, no fundo, qual seria a diferença entre 30 e 35 anos? Ambas eram condenações pela vida toda, não eram? A Duquesa já estaria bem longe há muito tempo, e meus filhos já seriam adultos, provavelmente casados e com seus próprios filhos.

E, no meu caso, qual seria meu destino? Bem, eu iria acabar como um daqueles velhos desdentados, o tipo de bêbado inútil que envergonha seus filhos e netos quando aparece na porta da casa deles nos feriados. Eu acabaria como aquele velho presidiário, o senhor Gower, o farmacêutico do filme A felicidade não se compra. Ele tinha sido um homem muito respeitado em sua comunidade até envenenar uma criança inocente depois de receber um telegrama informando que seu filho tinha morrido na Primeira Guerra Mundial. Na última vez em que assisti ao filme, vi a cena em que tinham acabado de jogar água com gás no rosto do senhor Gower, e depois ele era expulso de um bar com um chute na bunda.

Respirei fundo. Caralho… Eu precisava controlar de algum modo essas digressões! Mesmo nos bons tempos, minha mente tinha o hábito de fugir para longe. Então, disse:

– Muito bem, então me digam quais são minhas opções aqui. Porque a ideia de passar 30 anos na prisão não é exatamente algo que me deixa emocionado…

– Beeeeeemmmm – disse Magnum –, da forma como eu vejo as coisas, e sinta-se livre para interromper a conversa, Nick… Você tem três opções. A primeira é lutar essa batalha até o final, enfrentar o júri e ganhar uma absolvição – ele assentiu com a cabeça uma vez, deixando a palavra absolvição pairando no ar. – E se nós ganharmos, bem, tudo estará terminado. Esse assunto vai ficar para trás, de uma vez por todas.

– Não se aplicará o princípio da dupla incriminação – acrescentei, sentindo-me ao mesmo tempo orgulhoso e perturbado por meu conhecimento em direito penal.

– Exatamente – concordou o rapaz de Yale. – Você não poderá ser julgado duas vezes pelo mesmo crime. Vai ser um caso sobre o qual as pessoas vão falar durante anos. Vai ser algo que transformará a Greg e a mim nos reis do pedaço – então ele fez uma pausa e sorriu tristemente. – Mas eu recomendo fortemente que não tome esse caminho. Acho que seria um grande erro levar esse assunto ao tribunal do júri. Estou dizendo isso como seu amigo, Jordan, não como seu advogado.

Nessa altura, Magnum assumiu:

– Compreenda uma coisa, amigo, se fossemos falar como um escritório de advocacia, recomendaríamos que levasse a coisa a julgamento, porque ganharíamos muito mais dinheiro assim… Provavelmente dez vezes mais, num caso como este. Um julgamento complicado desse tipo iria se arrastar para sempre, bem mais que um ano, e o custo seria astronômico: muito mais que 10 milhões…

O rapaz de Yale entrou na conversa:

– Mas, se de fato formos a julgamento e perdermos, será um desastre monumental. Uma catástrofe de proporções bíblicas. Você receberia uma pena de mais de 30 anos, Jordan, e…

Magnum, sobrepondo-se à conversa:

– Você não cumpriria a pena em uma prisão federal, jogando golfe e praticando tênis. Estaria em uma penitenciária federal, ao lado de assassinos e estupradores – disse e balançou a cabeça gravemente. – Seria o inferno na Terra.

Assenti com a cabeça, bastante consciente sobre a maneira como os federais alojavam seus criminosos, de acordo com o tempo: quanto mais anos você tivesse em sua pena, maior era o risco que oferecia à segurança. Qualquer sentença menor que dez anos, sem violência nos registros, e você se qualificava para uma prisão de segurança mínima (existe o Club Med, esse seria o Club Fed). Mas, se sua sentença fosse de mais de dez anos, eles o trancavam em um lugar onde um frasco de vaselina valia muito mais que um caminhão carregado de plutônio.