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Greg continuou:

– Agora, falando como amigo, eu ficaria muito chateado de saber que você seria trancado em um lugar desse tipo, especialmente quando há outras opções… Opções muito melhores, eu diria.

E Magnum continuou falando sem parar, mas eu me desliguei. Já sabia muito bem que ir a julgamento de fato não seria uma boa decisão. Sabia que, ao contrário do que muita gente pensava, as sentenças dispensadas aos crimes financeiros eram de longe bem piores que as dadas aos crimes violentos. No fundo, tudo se resumia aos valores envolvidos: se as perdas do investidor tivessem excedido 1 milhão de dólares, a sentença do juiz seria bastante severa. E se as perdas do investidor superassem 100 milhões, como era meu caso, a sentença ultrapassaria todos os limites.

Ainda havia mais, começando pelo fato de que eu era realmente culpado. Isso era algo que Nick sabia, Greg sabia e eu também sabia. Eles dois me representavam como advogados desde o início, desde o verão de 1994, quando cometi o erro fatal de contrabandear milhões de dólares para a Suíça.

Isso acontecera quando eu tinha estado sob pressão regulatória intensa, começando com a Comissão de Valores Mobiliários, que estava obcecada com minha corretora, a Stratton Oakmont. Eu tinha aberto a empresa lá atrás, no outono de 1988, descobrindo um nicho desenfreadamente lucrativo nos títulos de mercado, vendendo ações de 5 dólares para o 1% mais rico dos americanos. Tinha sido exatamente assim que a Stratton se tornara uma das maiores corretoras de valores dos Estados Unidos.

Em retrospecto, as coisas poderiam ter sido muito diferentes. Tão facilmente como isso aconteceu, eu poderia ter seguido o caminho mais seguro e tradicional, abrindo uma empresa que teria como concorrentes e rivais a Lehman Brothers ou a Merrill Lynch. Quis o destino que um de meus primeiros mentores, um verdadeiro gênio chamado Al Abrams, tivesse feito uma aquisição agressiva que se configurou numa violação das leis federais de valores mobiliários. Al era um homem cuidadoso, o tipo de homem que mantinha canetas antigas na gaveta de sua mesa, de forma que, quando colocasse datas retroativas em seus documentos, a tinta combinasse com os dados cromatográficos do FBI. Al passava boa parte de seus dias tentando prever os movimentos dos agentes regulatórios abelhudos e cobrindo os rastros que porventura deixasse.

E foi ele quem me ensinou.

Assim, do mesmo modo que Al, eu também tinha agido de forma cuidadosa, cobrindo meus rastros com o zelo e o entusiasmo de um atirador de elite atrás das linhas inimigas. Desde os primeiros dias da Stratton, eu estava ciente de que cada negociação que fazia, cada negócio que fechava e cada palavra que dizia ao telefone poderia um dia vir à tona sob o microscópio das agências reguladoras. Portanto, sendo legítimas ou não, minhas ações deveriam parecer que eram.

Em consequência, fiz o pessoal da Comissão de Valores Mobiliários subir pelas paredes quando eles me processaram, no outono de 1991, esperando uma vitória fácil. Eles até se estabeleceram em minha sala de reuniões por vários dias, com o intuito de me intimidar. Infelizmente, as coisas não correram como eles planejavam: acabei instalando microfones ocultos em minha própria sala de reuniões e, ao ajustar o termostato a temperaturas extremas, congelava-os durante o inverno e assava-os durante o verão. Então, contratei o ex-chefe deles, um homem chamado Ike Sorkin, para me proteger, me defender e minar a investigação deles a cada conjuntura. Enquanto isso, entre 1991 e 1994, estava faturando coisa de 50 milhões de dólares por ano, ao passo que esses jovens investigadores (todos recebendo 30 mil dólares por ano) desistiram, imersos em frustração e desgraça e sofrendo com terríveis casos de queimaduras ou desidratação, dependendo da estação do ano.

Com o passar do tempo, acabei resolvendo meu caso com a comissão. “Paz honrosa”, como chamou meu advogado, embora para mim tenha sido uma vitória arrasadora. Concordei em pagar uma multa de 3 milhões de dólares e, então, fui caminhar calmamente ao pôr do sol. O único problema é que eu não conseguia desistir de tudo aquilo. Eu tinha ficado intoxicado por toda a riqueza e o poder, enganchado e preso em toda uma geração de jovens habitantes de Long Island me chamando de rei ou de Lobo. A palavra de ordem do dia era gratificação instantânea, e os fins justificando os meios eram o instrumento para garanti-la. Exatamente por isso, e do nada, a Stratton saiu de controle. E eu junto com ela…

No começo da década de 1990, o Lobo de Wall Street estava usando suas presas. Ele era meu diabólico alter ego, uma personalidade muito distante da criança que meus pais tinham entregado ao mundo. Meu senso de certo e errado tinha praticamente desaparecido, minha linha de moralidade havia sido enviada para o lado negro por meio de uma série de minúsculos e quase imperceptíveis passos, que juntos me levaram firmemente ao lado errado da lei.

O Lobo era um personagem desprezível, que traía a mulher, dormia com prostitutas, esbanjava quantias obscenas de dinheiro e via os regulamentos das transações de valores como nada mais que obstáculos rasos para serem vencidos em um único salto. Ele justificava suas ações fazendo uso de racionalizações absurdas, ao mesmo tempo que enterrava a culpa e o remorso de Jordan Belfort debaixo de quantidades enormes de drogas perigosas.

Enquanto isso, o governo continuava se aproximando… O problema seguinte foi a NASDAQ, que se recusava a listar qualquer empresa da qual o Lobo fosse o acionista majoritário. A solução dele, por mais insana que possa parecer agora, foi contrabandear milhões de dólares para a Suíça, utilizando a lendária legislação de sigilo bancário para tentar se transformar num homem invisível. Usando uma série de empresas de fachada, contas numeradas e documentos habilmente forjados, parecia ser um plano perfeito.

Mas, desde o início, ele também parecia estar amaldiçoado. Os problemas começaram quando meu principal transportador de fundos foi preso nos Estados Unidos com meio milhão em dinheiro, e os problemas terminaram (em desastre) quando meu banqueiro suíço foi preso alguns anos depois, também nos Estados Unidos, no momento em que começou a cooperar contra aqueles meus envios de fundos.

Nessa época, um jovem agente do FBI chamado Gregory Coleman estava obcecado pelo Lobo, prometendo capturá-lo. Numa série de investidas que se transformaram em um jogo de gato e rato que se tornou lendário dentro do FBI, Coleman seguiu meu rastro em papel por meio mundo e depois de volta ao lar. Finalmente, depois de cinco anos de trabalho braçal batendo pernas por milhares de quilômetros, ele conseguira ligar pontos suficientes para garantir um indiciamento.

Então, lá estava eu, depois desse indiciamento, vítima de minha própria imprudência e da persistência obcecada de Coleman. E lá estava Magnum, passando agora para a segunda opção, que era fazer um acordo.

– Embora eu não possa lhe prometer de quanto seria o tempo da sentença, não acredito que venha a ser algo mais do que sete anos, no máximo oito – e deu de ombros. – Vamos pensar em oito, para ser mais pessimistas.

– De jeito nenhum! – retruquei. – Vamos usar sete e sermos otimistas, pelo amor de Deus! Esses são meus anos, não a porra dos seus anos, então se eu quiser usar sete deles é uma prerrogativa minha!

O homem de Yale interveio:

– Tudo bem, tudo bem, sete anos é um bom número para a gente trabalhar. São 84 meses antes das reduções, e…

Cortei o discurso do homem de Yale.