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Entre as descobertas dos químicos atlantes conta-se um gás que é nove vezes mais leve que o hidrogênio e que Maracot batizou com o nome de levigênio. Foram suas experiências com o mesmo que nos sugeriram a idéia de lançar bolas de vidro com informações sobre nosso destino para a superfície do oceano.

— Fiz Manda compreender minha idéia disse-me ele. Já deu ordens para os encarregados de trabalhos em sílica, e dentro de um ou dois dias os globos estarão prontos.

— Mas como poderemos pôr-lhes dentro os papéis? objetei.

— Haverá uma pequena abertura para a penetração do gás. Enfiaremos os papéis por ela e estes habilidosos operários poderão então fechar o orifício. Estou certo de que quando as largarmos elas subirão para a superfície.

— E flutuarão sem serem vistas por um ano.

— É possível. Mas a bola refletirá os raios solares e assim certamente chamará a atenção. Nós nos achávamos no caminho dos navios que correm entre a Europa e a América do Sul. Não vejo razões por que, se mandarmos várias, uma pelo menos não seja encontrada.

E eis aí, meu caro Talbot, ou vós outros que ledes esta narrativa, como foi esta ter às vossas mãos. Mas é bem possível que disto ainda nasçam conseqüências maiores. Foi do cérebro fértil do mecânico americano que nos veio a idéia.

— Olhem, amigos, — disse ele uma vez em que nos achávamos a sós em nosso quarto, — não há dúvidas que estamos muito bem aqui; a comida é boa, o vinho é bom e encontrei uma pequena que ganha de todas de Filadélfia, mas apesar de tudo há vezes em que tenho vontade de tornar a ver a verdadeira terra de Deus.

— É bem possível que todos nós pensemos assim, disse eu, mas não compreendo que esperanças possas alimentar de o conseguir.

— Diga-me uma coisa, Bo: não acha que se essas bolas de gás podem levar para cima nossas mensagens talvez possam levar também nossas pessoas? Não pense que estou brincando; estou falando sério. Reunindo umas três ou quatro delas já seria suficiente para nos elevar. Vestimos então nossas campanas de vidro, amarramo-nos nas bolas e bastará soltá-las para subir. O que nos poderá barrar o caminho até à superfície?

— Um tubarão talvez.

— Que tubarões nada! Passaríamos tão depressa por qualquer deles que mal nos veriam. Pensariam que éramos apenas três raios de luz. Creio que haveríamos de pegar tal velocidade que pularíamos a cinqüenta pés de altura no ar quando chegássemos lá em cima. Garanto que o marinheiro que nos visse subir assim faria na mesma hora uns vinte sinais da cruz.

— Mas supondo isso possível, o que sucederá depois?

— Por São Pedro, deixe o depois de lado! Vale a pena arriscar. Por mim eu estou pronto a tentar a sorte.

— Eu também desejo muito voltar ao mundo nem que seja apenas para apresentar nossas observações às sociedades científicas, disse Maracot. Só a minha influência pessoal os poderá convencer da importância dos novos conhecimentos que adquirimos. Eu veria com bons olhos qualquer tentativa para isso.

Havia boas razões, como explicarei mais tarde, para me tornar o menos entusiasta dos três.

— Seria uma loucura rematada. Se não tivermos alguém à nossa espera na superfície, vogaremos à toa de um lado para outro até morrermos de fome e sede.

— Mas, homem, como poderíamos ter alguém à nossa espera?

— Talvez mesmo isso se possa arranjar, disse Maracot. Poderemos dar a latitude e longitude exatas de nossa posição com aproximação de uma ou duas milhas.

— E eles então jogarão uma escada, disse eu um tanto amargamente.

— Qual escada, qual nada! O doutor tem razão. Olhe, Sr. Headlei, ponha naquela carta que está mandando para o universo — Deus meu! só queria ver as notícias dos jornais! — que nós estamos a 27° de latitude norte e 28°14′ de longitude oeste ou qualquer outra coisa mais exata. Compreendeu? Dirá então que três das figuras mais importantes da história, o grande cientista Maracot, o futuro colecionador de bichos Headlei e Bob Scanlan, um mecânico destemido e o orgulho de Merribank, estão todos chorando e uivando por socorro cá embaixo, no fundo do mar. Compreendeu minha idéia?

— Muito bem, e daí?

— O resto é por conta deles. É um apelo que eles não poderão esquecer. Será mais ou menos como o caso que li da viagem de Stanley, para salvar Livingstone. Cabe a eles achar algum modo de nos pescar daqui ou de nos apanhar lá do outro lado se pudermos dar o pulo sozinhos.

— Nós mesmos poderemos sugerir o meio, disse o professor. Eles poderiam atirar uma sonda nestas águas. Nós estaríamos à espera dela, e, quando viesse, amarrar-lhe-íamos embaixo um bilhete recomendando-lhes que esperassem por nós.

— Ótima idéia! exclamou Bill Scanlan. É o melhor que temos a fazer.

— E se alguma senhora quisesse partilhar nossa sorte, tanto poderiam ir quatro como três, disse Maracot, olhando-me com um sorriso brejeiro.

— Quanto a isso, cinco é tão fácil como quatro, disse Scanlan. Mas está resolvido então, Sr. Headlei. Escreva isso que lhe garanto que dentro de seis meses estaremos de volta ao Tâmisa.

Assim, vamos agora lançar nossas duas bolas a esta água que é para nós o mesmo que o ar para ti. Nossos dois pequenos globos de vidro irão subir. Serão destruídos no caminho? É possível. Ou podemos esperar que alguém os recolha na superfície? Deixamos isto nas mãos dos deuses. Se nada puder ser feito por nós, pelo menos que aqueles que nos estimam saibam que estamos vivos e felizes. Se por outro lado esta sugestão puder ser aproveitada e conseguidos o dinheiro e energia necessários para a empresa, teremos proporcionado os meios que possibilitam sua realização. Enquanto isso, adeus — ou será até à vista?

Assim terminava o manuscrito encontrado na bola de vidrina.

A narrativa precedente dava conta de todos os fatos que haviam chegado ao nosso conhecimento e já estes papéis se achavam em mãos do editor quando sobreveio um epílogo dos mais inesperados e sensacionais. Refiro-me à salvação dos protagonistas desta aventura pelo «Marion», o iate movido a vapor do Sr. Faverger, e do relatório enviado pelo radiotelegrafista desse navio e captado pela estação receptora das Ilhas de Cabo Verde, que o transmitiu à Europa e América. Este relatório fora redigido pelo sr. Key Osborne, o conhecido representante da Associated Press.

Parece que imediatamente após haver chegado à Europa a primeira notícia sobre o paradeiro do Dr. Maracot e seus amigos, uma expedição havia sido cuidadosa e eficientemente aprestada com o fim de tentar sua salvação. O Sr. Faverger pusera generosamente o seu famoso iate à disposição de seus organizadores, tomando parte pessoalmente na dita expedição. O «Marion» partiu de Cherburgo em junho, recebeu a bordo em Southampton o Sr. Key Osborne e um operador cinematográfico e seguiu imediatamente para o ponto do oceano indicado no documento original. Este foi alcançado no dia primeiro de julho.

Uma sonda de grandes profundidades foi lançada e lentamente arrastada pelo fundo do oceano. Na sua extremidade, ao lado de pesado lastro de chumbo estava suspensa uma garrafa contendo uma mensagem. Esta dizia: «Sua narrativa foi recebida pelo mundo e aqui estamos para auxiliá-los. Enviamos esta mesma mensagem pelo rádio na esperança de que a possam captar. Cruzaremos lentamente a região. Depois que retirarem esta garrafa queiram colocar nela sua resposta. Agiremos de conformidade com suas instruções».

Durante dois dias o «Marion» navegou lentamente de um para outro lado sem resultado. No terceiro uma grande surpresa esperava o grupo de salvadores. Uma pequena bola resplendente pulou da água a algumas centenas de jardas do navio e pudemos ver depois que era um globo vítreo oco, da espécie que fora descrita no documento original. Quebrando-a com alguma dificuldade, leu-se a seguinte mensagem: