Выбрать главу

— Quanto ouro oferecemos por informações a respeito dos Filhos da Harpia? — perguntou.

— Cem honras, se agradar a Vossa Radiância.

— Mil honras os agradariam mais. Faça com que assim seja.

— Vossa Graça não pediu o meu conselho — disse Skahaz Tolarrapada — mas eu digo que o sangue deve ser pago com sangue. Prenda um homem de cada uma das famílias que nomeei e mate-o. Da próxima vez que um dos seus for morto, prenda dois de cada grande casa e mate-os a ambos. Não haverá um terceiro assassinato. Reznak guinchou de aflição.

— Nããããão… gentil rainha, tal selvageria atrairá a ira dos deuses. Nós vamos encontrar os assassinos, prometo, e quando o fizermos eles se revelarão escumalha plebeia, verá.

O senescal era tão careca como Skahaz, se bem que no seu caso fossem os deuses os responsáveis.

— Se algum cabelo tiver a insolência de aparecer, o meu barbeiro tem a navalha pronta — assegurara-lhe quando ela o promovera. Havia vezes em que Dany se perguntava se essa navalha não poderia ser melhor empregue na garganta de Reznak. O homem era útil, mas gostava pouco dele e confiava ainda menos. Os Imortais de Qarth tinham-lhe dito que seria traída três vezes. Mirri Maz Duur fora à primeira, Sor Jorah o segundo. Seria Reznak o terceiro? O Tolarrapada? Daario? Ou será alguém de quem nunca suspeitaria, Sor Barristan ou o Verme Cinzento ou Missandei?

— Skahaz — disse ela ao Tolarrapada — agradeço-lhe pelo conselho. Reznak, veja o que mil honras são capazes de fazer. — Agarrando o seu tokar, Daenerys passou por ambos a passos largos, descendo a larga escada de mármore. Deu um passo de cada vez, para não tropeçar na fímbria e cair de cabeça na corte.

Missandei anunciou-a. A pequena escriba tinha uma voz suave e forte.

— Ajoelhai todos para Daenerys Filha da Tormenta, a Não-Queimada, Rainha de Meereen, Rainha dos Ândalos e dos Roinares e dos Primeiros Homens, Khaleesi do Grande Mar de Erva, Quebradora de Correntes e Mãe de Dragões.

O salão enchera-se. Imaculados estavam de costas viradas para os pilares, com escudos e lanças nas mãos, com os espigões nos capacetes a espetarem-se para cima como uma fila de facas. Os meereeneses tinham se reunido sob as janelas orientais. Os seus libertos estavam bem separados dos antigos amos. Até que se juntem, Meereen não conhecerá paz.

— Erguei-vos. — Dany instalou-se no banco. O salão ergueu-se. Pelo menos isto fazem como um só.

Reznak mo Reznak tinha uma lista. O costume exigia que a rainha começasse pelo emissário de Astapor, um antigo escravo que se  chamava de Lorde Ghael, se bem que ninguém parecesse saber de que seria ele senhor.

O Lorde Ghael tinha uma boca cheia de dentes castanhos e apodrecidos e a cara pontiaguda e amarela de uma doninha. Também tinha um presente.

— Cleon, o Grande, envia estes chinelos como sinal do seu amor por Daenerys Filha da Tormenta, a Mãe de Dragões.

Irri enfiou os chinelos nos pés de Dany. Eram de couro dourado, decorados com pérolas verdes de água doce. Será que o rei carniceiro julga que um par de chinelos bonitos conquistará a minha mão?

— O Rei Cleon é muito generoso. Pode agradecer-lhe por este adorável presente. — Adorável, mas feito para uma criança. Dany tinha pés pequenos, mas os chinelos pontiagudos comprimiam lhe os dedos.

— O Grande Cleon ficará contente por saber que eles vos agradaram — disse o Lorde Ghael. — Sua Magnificência pede-me para dizer que está pronto para defender a Mãe dos Dragões de todos os seus inimigos.

Se ele voltar a propor que eu me case com o Rei Cleon, atiro-lhe o chinelo à cabeça, pensou Dany mas, por uma vez, o emissário de Astapor não fez qualquer menção a um casamento real. Em vez disso, disse:

— Chegou à altura de Astapor e Meereen porem fim ao selvagem reinado dos Sábios Mestres de Yunkai, que são inimigos jurados de todos aqueles que vivem em liberdade. O Grande Cleon pede-me para lhe dizer que ele e os seus novos Imaculados marcharão em breve.

Os seus novos Imaculados são uma chalaça obscena.

— O Rei Cleon seria sensato se cuidasse dos seus próprios jardin se deixasse os yunkaitas tratar dos deles. — Não se dava o caso de Dany nutrir qualquer  amor por Yunkai. Estava começando a se arrepender de ter deixado a Cidade Amarela por tomar depois de derrotar o seu exército no campo de batalha. Os Sábios Mestres tinham regressado ao comércio de escravos assim que ela prosseguiu viagem, e andavam ocupados recrutando soldados, contratando mercenários e fazer alianças contra ela.

Contudo, Cleon, o autoproclamado Grande, não era melhor. O Rei Carniceiro restaurara a escravatura em Astapor, e a única mudança era os antigos escravos serem agora os amos e os antigos amos serem agora escravos.

— Eu sou só uma menininha e pouco sei das coisas da guerra —disse ao Lorde Ghael — mas ouvimos dizer que Astapor está passando fome. O Rei Cleon que alimente o seu povo antes de o levar para a batalha. — Fez um gesto de despedida. Ghael retirou-se.

— Magnificência — disse Reznak mo Reznak — queira escutar o nobre Hizdahr zo Loraq?

Outra vez? Dany concordou e Hizdahr avançou; um homem alto, muito esguio, com uma perfeita pele ambarina. Fez uma mesura no mesmo ponto onde o Escudo Vigoroso jazera morto não muito tempo antes. Preciso deste homem, se lembrou Dany. Hizdahr era um mercador rico com muitos amigos em Meereen, e mais do outro lado do mar. Visitara Volantis, Lys e Qarth, tinha família em Tolos e Elyria e dizia-se mesmo que detinha alguma influência em Nova Ghis, onde os yunkaitas andavam tentando despertar inimizade contra Dany e o seu governo.

E era rico. Famosa e fabulosamente rico.

E provavelmente ficará mais rico, se aceitar a sua petição. Quando Dany fechara as arenas de luta da cidade, o valor das cotas das arenas fora ao fundo. Hizdahr zo Loraq agarrara-as com ambas as mãos, e agora era dono da maior parte das arenas de luta de Meereen.

O nobre tinha asas de crespo cabelo negro arruivado brotando das têmporas. Faziam com que a sua cabeça parecesse estar prestes a levantar voo. O rosto longo era tornado ainda mais longo por uma barba presa por anéis de ouro. O seu tokar purpúreo estava fimbriado com ametistas e pérolas.

— Vossa Radiância deve saber por que motivo estou aqui.

— Ora, deve ser porque não tem outro objetivo a não ser me atormentar. Quantas vezes eu te disse que não?

— Cinco vezes, Magnificência.

— Agora são seis. Não aceito que as arenas de combate reabram.

— Se Vossa Majestade ouvir os meus argumentos…

— Já ouvi. Cinco vezes. Trouxe novos argumentos?

— Argumentos velhos — admitiu Hizdahr — palavras novas. Palavras adoráveis e corteses, mais capazes de influenciar uma rainha.

— É a sua causa que me parece em falta, não as suas cortesias. Já ouvi tantas vezes os seus argumentos que eu mesma poderia defender o seu caso. Quer que o faça? — Dany inclinou-se para frente. — As arenas de combate fizeram parte de Meereen desde que a cidade foi fundada. A natureza dos combates é profundamente religiosa, um sacrifício de sangue aos deuses de Ghis. A arte mortal de Ghis não é mera carnificina, mas uma exibição de coragem, perícia e força que muito agrada aos seus deuses. Combatentes vitoriosos são amimados e aclamados, e os mortos são honrados e lembrados. Reabrindo as arenas eu mostraria ao povo de Meereen que respeito as suas tradições e costumes. As arenas são muito afamadas pelo mundo fora. Atraem comércio a Meereen, e enchem os cofres da cidade com moedas vindas dos cantos da terra. Todos os homens partilham um gosto por sangue, um gosto que as arenas ajudam a saciar. Dessa forma, tornam Meereen mais tranquila. Para criminosos condenados a morrer na areia, as arenas representam um julgamento pela batalha, uma última hipótese de um homem provar a sua inocência. — Voltou a recostar-se, empinando o nariz. — Pronto. Que tal me saí?