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Dany estudou o pergaminho. Todas as famílias governantes de Mee- reen eram nomeadas: Hazkar, Merreq, Quazzar, Zhak, Rhazdar, Ghazeen, Pahl, até Reznak e Loraq.

— Que vou eu fazer com uma lista de nomes?

— Cada homem nessa lista tem familiares dentro da cidade. Filhos e irmãos, esposas e filhas, mães e pais. Deixe que as minhas Feras de Bronze os capturem. As vidas deles reconquistarão aqueles navios.

— Se eu enviar as Feras de Bronze para as pirâmides, isso significará guerra aberta dentro da cidade. Tenho de confiar em Hizdahr. Tenho de ter esperança na paz. — Dany pôs o pergaminho em cima de uma vela e viu os nomes desaparecer em chamas, enquanto Skahaz a olhava, furioso.

Mais tarde, Sor Barristan disse-lhe que o seu irmão Rhaegar teria se sentido orgulhoso dela. Dany lembrou-se das palavras que Sor Jorah proferiu em Astapor: Rhaegar lutou com valentia, Rhaegar lutou com nobreza, Rhaegar lutou com honra. E Rhaegar morreu.

Quando desceu para o salão de mármore púrpura, foi encontrá-lo quase vazio.

— Hoje não há peticionários? — perguntou Dany a Reznak mo Reznak. — Ninguém que anseie por justiça ou por prata por uma ovelha?

— Não, Reverência. A cidade está com medo.

— Não há nada a temer.

Mas havia mais que muito a temer, como ficou sabendo nessa noite. Enquanto os jovens reféns Miklaz e Kezmya estavam servindo-lhe um jantar simples de verduras de outono e sopa de gengibre, Irri veio dizer-lhe que Galazza Galare regressou, com três Graças Azuis do templo.

— Verme Cinzento também veio, khaleesi. Suplica para falar com você, com grande urgência.

— Leve-o para o salão. E chama Reznak e Skahaz. A Graça Verde disse qual era o assunto?

— Astapor — disse Irri.

O Verme Cinzento deu início à história.

— Saiu das névoas da manhã, um cavaleiro numa égua branca, moribundo. A égua estava cambaleando quando se aproximou dos portões da cidade, com os flancos rosados de sangue e espuma, os olhos rolando de terror. O cavaleiro gritou "Ela está ardendo; ela está ardendo' e caiu da sela. Este foi chamado e deu ordens para o cavaleiro ser levado às Graças Azuis. Quando os seus criados o transportaram para dentro dos portões, ele voltou a gritar:"Ela está ardendo." Por baixo do tokar era um esqueleto, todo ele ossos e carne febril.

Uma das Graças Azuis continuou a história.

Os Imaculados trouxeram este homem para o templo, onde o despimos e banhamos com água fria. Tinha a roupa emporcalhada, e as minhas irmãs encontraram metade de uma seta na coxa. Embora tivesse partido a haste, a cabeça continuava dentro dele, e o ferimento tinha gangrenado, enchendo-o de venenos. Morreu menos de uma hora mais tarde, ainda gritando que ela estava ardendo.

— Ela está ardendo — repetiu Daenerys. — Quem é ela?

— Astapor, Radiância — disse outra das Graças Azuis. — Ele disse uma vez. Disse: "Astapor está a arder."

— Podia ser a febre falando.

— Vossa Radiância fala sabiamente — disse Galazza Galare — mas Ezzara viu mais uma coisa.

A Graça Azul chamada Ezzara fechou as mãos.

— Minha rainha — murmurou a febre dele não foi causada pela seta. Ele tinha se emporcalhado, não uma, mas muitas vezes. As manchas chegavam-lhe aos joelhos, e havia sangue seco no meio dos excrementos.

—A égua estava sangrando, segundo Verme Cinzento.

— Isso é verdade, Vossa Graça — confirmou o eunuco. — A égua branca estava ensanguentada por causa das esporas do cavaleiro.

— Pode ser verdade, Radiância — disse Ezzara — mas este sangue estava misturado com as fezes dele. Manchou-lhe a roupa de dentro.

— Ele estava sangrando das tripas — disse Galazza Galare.

— Não podemos ter a certeza — disse Ezzara — mas pode ser que Meereen tenha mais a temer do que as lanças dos yunkaitas.

— Temos de rezar — disse a Graça Verde. — os deuses enviaram-nos este homem. Vem como mensageiro. Vem como um sinal.

— Um sinal de quê? — perguntou Dany.

— Um sinal de fúria e ruína.

A rainha não quis acreditar em tal coisa.

— Ele era um homem. Um homem doente com uma seta na perna. Foi um cavalo que o trouxe até aqui, não um deus. — Uma égua branca. Dany levantou-se de repente. — Agradeço-lhes pelos seus conselhos, e por tudo o que fizeram por esse pobre homem.

A Graça Verde beijou os dedos de Dany antes de se retirar.

— Rezaremos por Astapor.

E por mim. Oh, reze por mim, senhora. Se Astapor caiu, nada restava evitando que os yunkaitas rumassem a norte. Virou-se para Sor Barristan.

— Envie cavaleiros para as colinas em busca dos meus companheiros de sangue. Chame também o Ben Castanho e os Segundos Filhos.

— E os Corvos Tormentosos, Vossa Graça?

Daario.

— Sim. Sim. — Apenas três noites antes, sonhou com Daario jazendo morto na berma da estrada, fitando o céu sem ver enquanto corvos querelavam por cima do seu cadáver. Noutras noites mexia-se na cama, imaginando que ele a traiu como traiu em tempos os outros capitães dos Corvos Tormentosos. Trouxe-me as cabeças deles. E se tivesse levado a sua companhia de volta para Yunkai, a fim de vendê-la por um pote de ouro? Ele não faria tal coisa. Faria? — Os Corvos Tormentosos também. Mande imediatamente cavaleiros à procura deles.

Os Segundos Filhos foram os primeiros a regressar, oito dias depois de a rainha enviar as convocatórias. Quando Sor Barristan lhe disse que o capitão queria falar com ela, pensou por um momento que era Daario e o coração saltou-lhe no peito. Mas o capitão de que ele falava era Ben Castanho Plumm.

Ben Castanho tinha uma cara marcada e gasta pelo tempo, a pele da cor de teca velha, cabelo branco e rugas aos cantos dos olhos. Dany ficou tão contente por ver a sua coriácea cara castanha que o abraçou. Os olhos dele enrugaram-se de divertimento.

— Ouvi dizer que Vossa Graça ia arranjar um marido — disse — mas ninguém me disse que era eu. — Riram juntos enquanto Reznak lançava perdigotos, mas o riso cessou quando Ben Castanho disse: — Apanhamos três astapori. É melhor que Vossa Reverência ouça o que eles dizem.

— Traga-os.

Daenerys recebeu-os na imponência do seu salão, à luz de altas velas que ardiam entre os pilares de mármore. Quando viu que os astapori estavam meio mortos de fome, mandou imediatamente buscar comida. Aqueles três eram o que restava de uma dúzia que tinha partido em conjunto da Cidade Vermelha; um assentador de tijolos, uma tecelã e um sapateiro.

— O que aconteceu ao resto do seu grupo? — perguntou a rainha.

— Foram mortos — disse o sapateiro. — Os mercenários de Yunkai patrulham as colinas ao norte de Astapor, à caça daqueles que fogem das chamas.

— Então a cidade caiu? As suas muralhas eram grossas.

— É verdade — disse o assentador de tijolos, um corcunda com olhos ramelosos — mas também eram velhas e meio arruinadas.

A tecelã ergueu a cabeça.