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— No fosso, a ferros — gemeu Reznak mo Reznak. — Para que servem dragões que não se consegue controlar? Até os Imaculados ficam com medo quando têm de abrir as portas para alimentá-los.

— Quê, dos bichinhos de estimação da rainha? — os olhos do Ben Castanho enrugaram-se de divertimento. O encanecido capitão dos Segundos Filhos era uma criatura das companhias livres, um mestiço com o sangue de uma dúzia de povos diferentes correndo-lhe nas veias, mas sempre gostou dos dragões, e os dragões dele.

— Bichinhos de estimação? — guinchou Reznak. — Monstros, isso sim. Monstros que se alimentam de crianças. Não podemos...

— Silêncio — disse Daenerys. — Não falaremos disso.

Reznak encolheu-se, estremecendo com a fúria no tom de voz da rainha.

Me perdoe Magnificência, eu não...

Ben Castanho Plumm atropelou-o.

— Vossa Graça, os yunkaitas têm três companhias livres contra as nossas duas, e diz que mandaram emissários a Volantis para trazer a Companhia Dourada. Esses sacanas põem em campo dez mil homens. Yunkai tem também quatro legiões ghiscariotas, se calhar mais, e eu ouvi dizer que enviaram cavaleiros para o mar dothraki para tentar fazer com que algum grande khalasar caísse sobre nós. Segundo o modo como eu vejo as coisas, nós precisamos dos dragões.

Dany suspirou.

— Lamento, Ben. Não me atrevo a soltar os dragões. — Conseguia ver que não era aquela a resposta que ele queria.

Plumm coçou as suíças mosqueadas.

— Se não houver dragões na balança, bem... deveriamos ir embora antes daqueles sacanas de Yunkai fecharem a armadilha... mas primeiro faça os escravagistas pagar para nos verem pelas costas. Eles pagam aos khals para deixarem as suas cidades em paz, por que não a nós? Volte a vender-lhes Meereen e parta para oeste com carroças cheias de ouro, pedras preciosas e coisas dessas.

— Quer que eu saqueie Meereen e fuja? Não, não farei tal coisa. Verme Cinzento, os meus libertos estão prontos para a batalha?

O eunuco cruzou os braços ao peito.

— Não são Imaculados, mas não irão lhe envergonhar. Este podia jurá-lo pela lança ou pela espada, Reverência.

— Bom. Isso é bom. — Daenerys olhou para as caras dos homens que tinha na frente. Tolarrapada, franzindo as sobrancelhas. Sor Barristan, com a sua cara enrugada e tristes olhos azuis. Reznak mo Reznak, pálido, suando. Ben Castanho, de cabelo branco, encanecido, duro como couro velho. Verme Cinzento, de cara lisa, imperturbável, sem expressão. Daario devia estar aqui, e os meus companheiros de sangue também, pensou. Se vai haver batalha, o sangue do meu sangue devia estar comigo. Também sentia a falta de Sor Jorah Mormont. Ele mentiu, forneceu informações sobre mim, mas também me amou, e sempre me deu bons conselhos. — Eu já derrotei os yunkaitas uma vez. Voltarei a derrotá-los. Mas onde? Como?

— Quer os pôr em campo? — a voz do Tolarrapada estava carregada de incredulidade. — Isso seria uma loucura. As nossas muralhas são mais altas e mais espessas do que as muralhas de Astapor, e os nossos defensores são mais valentes. Os yunkaitas não tomarão esta cidade facilmente.

Sor Barristan discordou.

— Não me parece que devamos deixá-los investir contra nós. A hoste deles é, no máximo, uma manta de retalhos. Aqueles escravagistas não são soldados. Se os apanharmos desprevenidos...

— Há poucas hipóteses disso acontecer — disse Tolarrapada. — Os yunkaitas têm muitos amigos dentro da cidade. Eles saberão.

— Conseguimos reunir um exército de que tamanho? — perguntou Dany.

— Não será suficientemente grande, com o seu régio perdão — disse Ben Castanho Plumm. — Que tem Naharis a dizer? Se vamos fazer disto uma batalha, precisamos dos Corvos Tormentosos dele.

— Daario continua em campo. — Oh, deuses, que fiz eu? Será que o enviei para a morte?— Ben, vou precisar dos seus Segundos Filhos para recolher informações sobre os nossos inimigos. Onde estão a que velocidade avançam, quantos homens têm e qual a sua disposição.

— Vamos precisar de provisões. E também de cavalos repousados.

— Claro. Sor Barristan tratará disso.

Ben Castanho coçou o queixo.

— Pode ser que consigamos fazer com que alguns deles se passem para o nosso lado. Se Vossa Graça puder dispensar uns sacos de ouro e pedras preciosas... só pra dar aos capitães deles um saborzinho, como se diz... bem, quem sabe?

— Comprá-los, porque não? — disse Dany. Sabia que aquele tipo de coisa andava sempre acontecendo entre as companhias livres das Terras Disputadas. — Sim, muito bem. Reznak, trate disso. Depois dos Segundos Filhos saírem, feche os portões e duplique os vigias nas muralhas.

— Será feito, Magnificência — disse Reznak mo Reznak. — E os as- tapori?

Os meus filhos.

— Eles vêm para cá em busca de auxílio. Em busca de socorro e proteção. Não lhes podemos virar as costas.

Sor Barristan franziu as sobrancelhas.

— Vossa Graça, eu sei de casos em que a fluxão sangrenta destruiu exércitos inteiros quando foi deixada espalhando sem controle. O senescal tem razão. Não podemos ter os astapori em Meereen.

Dany olhou-o, impotente. Era bom que os dragões não chorassem.

— Então será como diz. Os manteremos do lado de fora das muralhas até que... que esta praga percorra o seu caminho. Monte um acampamento para eles junto do rio, a oeste da cidade. Lhes mandaremos a comida que pudermos mandar. Talvez consigamos separar os saudáveis dos doentes. — Estavam todos a olhá-la. — Querem me obrigar a dizer por duas vezes? Vão fazer o que ordenei. — Dany levantou-se, passou intempestivamente pelo Ben Castanho e subiu os degraus que levavam à doce solidão do seu terraço.

Duzentas léguas separavam Meereen de Astapor, mas parecia-lhe que o céu estava mais escuro a sudoeste, manchado e enevoado com o fumo do falecimento da Cidade Vermelha. Tijolos e sangue construíram Astapor; e tijolos e sangue fizeram o seu povo. A velha rima ressoou-lhe na cabeça. Cinzas e ossos são Astapor e cinzas e ossos são seu povo. Tentou lembrar-se da cara de Eroeh, mas os traços da menina morta não paravam de se transformar em fumo.

Quando Daenerys finalmente virou costas à paisagem, Sor Barristan estava perto dela, envolto no seu manto para se proteger do frio do início da noite.

— Podemos transformar isso num combate? — perguntou-lhe.

— Os homens podem sempre combater, Vossa Graça. É melhor perguntar se podemos vencer. Morrer é fácil, mas a vitória é difícil de alcançar. Os seus libertos estão meio treinados e ainda não tiveram o batismo de sangue. Os seus mercenários serviram em tempos os seus inimigos, e depois de um homem virar o casaco não terá escrúpulos em voltar a virá-lo. Tem dois dragões que não podem ser controlados, e um terceiro que pode estar perdido para você. Para lá daquelas muralhas, os seus únicos amigos são os lhazarenos, que não têm gosto pela guerra.

— Mas as minhas muralhas são fortes.

— Não são mais fortes do que quando nós estávamos fora delas. E os Filhos da Harpia estão dentro das muralhas connosco. Os Grandes Mestres também, tanto aqueles que não matou, como os filhos dos que matou.