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— Isto é Pentos, não é?

— Precisamente. Que outro lugar seria?

Pentos. Bem, não era Porto Real, pelo menos isso podia dizer-se em prol do lugar.

— Para onde vão as rameiras? — ouviu-se perguntando.

— Encontram-se aqui rameiras em bordéis, tal como em Westeros. Não terá necessidade de tal, meu pequeno amigo. Escolha de entre as minhas criadas. Nenhuma se atreverá a te recusar.

— Escravas? — perguntou o anão sem rodeios.

O gordo afagou uma das pontas da sua barba amarela e oleada, um gesto que Tyrion achou notavelmente obsceno.

— A escravatura é proibida em Pentos, segundo os termos do tratado que os bravosianos nos impuseram há cem anos. Mesmo assim, elas não lhe recusarão. — Illyrio fez uma imponente meia mesura. — Mas agora o meu pequeno amigo terá de me dar licença. Tenho a honra de ser um magíster nesta grande cidade, e o príncipe convocou-nos para uma reunião. — Sorriu, mostrando uma boca cheia de dentes tortos e amarelos. — Explore a mansão e a propriedade como quiser, mas em nenhum caso vagueie para além dos muros. É melhor que ninguém saiba que esteve aqui.

— Estive? Fui a algum lado?

— Haverá bastante tempo para conversar sobre isso esta noite. O meu pequeno amigo e eu comeremos e beberemos e faremos grandes planos, sim?

— Sim, meu gordo amigo — respondeu Tyrion. Ele pensa em me usar para lucro próprio. Tudo se resumia a lucro com os príncipes mercadores das Cidades Livres. O senhor seu pai chamava-lhes “soldados das especiarias e senhores do queijo”, com desprezo. Se amanhecesse um dia em que Illyrio Mopatis visse mais lucro num anão morto do que num vivo, daria por si envasilhado noutro barril de vinho ao pôr-do-sol. Seria bom se eu tivesse ido embora antes de esse dia chegar. Não duvidava de que chegaria; não era provável que Cersei o esquecesse, e mesmo Jaime poderia ficar contrariado por descobrir um dardo na barriga do pai.

Um vento ligeiro estava a encrespar as águas da piscina, lá em baixo, a toda a volta do espadachim nu. Fez-lhe lembrar do modo como Tysha lhe passava a mão pelo cabelo durante a falsa primavera do seu casamento, antes de Tyrion ajudar os guardas do pai a violá-la. Pensara nesses guardas durante a fuga, tentando lembrar-se de quantos tinham sido. Julgava que se lembraria disso, mas não. Uma dúzia? Uma vintena? Uma centena? Não sabia dizer. Tinham sido todos homens feitos, altos e fortes… embora todos os homens fossem altos para um anão de treze anos. Tysha sabia quantos eram. Cada um lhe dera um veado de prata, de modo que só precisaria de contar as moedas. Um de prata para cada um deles e um de ouro para mim. O pai insistira que ele também lhe pagasse. Um Lannister paga sempre as suas dívidas.

— Onde quer que as rameiras vão — ouviu o Lorde Tywin dizer mais uma vez, e mais uma vez a corda da besta soltou um tuang.

O magíster convidara-o para explorar a mansão. Descobriu roupa limpa numa arca de cedro com embutidos de lápis-lazúli e madrepérola. Ao lutar por se enfiar na roupa, percebeu que fora feita para um rapazinho. Os tecidos eram bastante ricos, ainda que algo mofado, mas o corte era longo demais nas pernas e muito curto nos braços, com um colarinho que lhe teria deixado a cara tão negra como a de Joffrey se tivesse arranjado maneira de fechá-lo. Traças também tinham andado a roendo. Pelo menos não fede a vômito.

Tyrion deu início à exploração pela cozinha, onde duas mulheres gordas e um jovem latrineiro o observaram com prudência enquanto se servia de queijo, pão e figos.

— Bons dias para vocês, belas senhoras — disse com uma mesura. —Sabem para onde vão as rameiras? — Quando não responderam, repetiu a pergunta em alto valiriano, embora tivesse de dizer cortesã em vez de rameira. Dessa vez, a cozinheira mais jovem e mais gorda dirigiu-lhe um encolher de ombros.

Perguntou-se o que fariam elas se lhes pegasse nas mãos e as arrastasse para o seu quarto. Nenhuma se atreverá a recusar-lo, afirmara Illyrio, mas, por um motivo qualquer, parecia a Tyrion que ele não se referia àquelas duas. A mais nova era suficientemente velha para ser sua mãe, e a mais velha era provavelmente mãe da outra. Ambas eram quase tão gordas como Illyrio, com tetas maiores do que a sua cabeça. Podia sufocar-me em carne. Havia maneiras piores de morrer. A maneira como o senhor seu pai morrera, por exemplo. Devia tê-lo obrigado a cagar um pouco de ouro antes de expirar. Lorde Tywin podia ter sido avaro com a sua aprovação e afeto, mas sempre fora um mão aberta quando se tratava de dinheiro. A única coisa mais digna de dó do que um anão sem nariz é um anão sem nariz que não tem nenhum ouro.

Tyrion deixou as gordas com os seus rolos e panelas e foi à procura da adega onde Illyrio o decantara na noite anterior. Não foi difícil de achar.

Havia lá vinho suficiente para mantê-lo bêbado durante cem anos; tintos doces da Campina e tintos amargos de Dorne, pálidos vinhos ambarinos de Pentos, o néctar verde de Myr, trinta barris de dourado da Árvore, até vinhos do fabuloso leste, de Qarth e Yi Ti e Asshai da Sombra. Por fim, Tyrion escolheu um barril de vinho-forte marcado como reserva particular do Lorde Runceford Redwyne, o avô do atual Senhor da Árvore. O sabor da bebida na sua língua era langoroso e capitoso, a cor era um púrpura tão escuro que parecia quase negro na adega mal iluminada. Tyrion encheu uma taça, e já agora também um jarro, e levou-os para os jardins, a fim de beber à sombra daquelas cerejeiras que vira.

Aconteceu-lhe sair pela porta errada e não chegar a descobrir a piscina que vira da janela, mas não se importou. Os jardins por trás da mansão eram igualmente agradáveis e muito mais extensos. Vagueou através deles por algum tempo, bebendo. Os muros teriam envergonhado qualquer castelo, e os espigões ornamentais de ferro ao longo do topo pareciam estranhamente despidos sem cabeças a adorná-los. Tyrion imaginou como ficaria a cabeça da irmã lá em cima, com alcatrão no cabelo dourado e moscas entrando e saindo, zumbindo, da sua boca. Sim, e Jaime deve ficar com o espigão ao lado dela, decidiu. Nunca ninguém se deve interpor entre o meu irmão e a minha irmã.

Com uma corda e um arpão podia conseguir ultrapassar aquele muro. Tinha braços fortes e não pesava muito. Devia ser capaz de trepar até ao outro lado, se não se empalasse num espigão. Amanhã vou procurar uma corda, decidiu.

Viu três portões durante as suas deambulações; a entrada principal, com a sua casa de portão, uma poterna junto dos canis, e um portão de jardim, oculto por trás de um emaranhado de trepadeiras claras. Este último estava acorrentado, os outros guardados. Os guardas eram rechonchudos, com caras tão lisas como o traseiro de um bebê, e cada um desses homens usava um capacete de bronze com espigão. Tyrion reconhecia eunucos quando os via. Conhecia aquela espécie de gente pela reputação. Nada temiam e não sentiam qualquer dor, segundo se dizia, e eram leais aos seus amos até à morte. Podia dar bom uso a algumas centenas que fossem minhas, refletiu. Uma pena que não tivesse pensado nisso antes de me tornar pedinte.

Caminhou ao longo de uma galeria provida de colunas, atravessou um arco de ponta em bico e deu-se num pátio enladrilhado onde uma mulher estava lavando roupa num poço. Parecia ter a sua idade, e mostrava um cabelo ruivo sem brilho e uma cara larga salpicada de sardas.

— Quer um pouco de vinho? — perguntou-lhe. Ela olhou-o com incerteza. — Não tenho taça para ti, teremos de partilhar. — A lavadeira regressou à sua atividade de torcer túnicas e estendê-las a secar. Tyrion instalou-se num banco de pedra com o jarro. — Diga-me, até que ponto devo confiar no Magíster Illyrio?