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– Vossa Graça – disse Garlan, quando o rei se aproximou dele –, tenho uma irmã donzela, Margaery, o encanto de nossa Casa. Era casada com Renly Baratheon, como sabe, mas Lorde Renly partiu para a guerra antes de o casamento poder ser consumado, e portanto continua inocente. Margaery tem ouvido histórias sobre a sua sabedoria, coragem e cavalheirismo, e tem amado o senhor a distância. Suplico-lhe que mande chamá-la, a fim de tomar sua mão em casamento e ligar sua Casa à minha para toda a eternidade.

Rei Joffrey fingiu surpresa:

– Sor Garlan, a beleza de sua irmã é famosa por todos os Sete Reinos, mas estou prometido a outra. Um rei deve manter a sua palavra.

A Rainha Cersei levantou-se num farfalhar de saias:

– Vossa Graça, na opinião de seu pequeno conselho, não seria nem próprio nem sensato que se casasse com a filha de um homem decapitado por traição, uma garota cujo irmão se encontra em rebelião aberta contra o trono neste exato momento. Senhor, seus conselheiros suplicam-lhe, para o bem de nosso reino, que ponha Sansa Stark de lado. A Senhora Margaery será para o senhor uma rainha muito mais adequada.

Como uma matilha de cães treinados, os senhores e as senhoras no salão começaram a gritar seu júbilo. “Margaery”, gritavam; “Dê-nos Margaery!” e “Nada de rainhas traidoras! Tyrell! Tyrell!”.

Joffrey levantou uma mão.

– Gostaria de ceder aos desejos de meu povo, mãe, mas fiz um voto sagrado.

O Alto Septão deu um passo à frente.

– Vossa Graça, os deuses consideram a promessa de casamento um ato solene, mas seu pai, o Rei Robert, de abençoada memória, fez esse pacto antes de os Stark de Winterfell revelarem sua falsidade. Os crimes deles contra o reino libertaram-no de quaisquer promessas que possa ter feito. No que diz respeito à Fé, não existe nenhum contrato de casamento válido entre o senhor e Sansa Stark.

Um tumulto de aclamações encheu a sala do trono, e gritos de “Margaery, Margaery” irromperam por todos os lados. Sansa inclinou-se para a frente, agarrando com força o parapeito de madeira da galeria. Sabia o que se seguiria, mas ainda temia o que Joffrey pudesse dizer, temia que ele recusasse libertá-la mesmo agora, quando todo o seu reino dependia disso. Sentia-se como se estivesse de volta aos degraus de mármore na frente do Grande Septo de Baelor, à espera de que o príncipe concedesse misericórdia a seu pai, e em vez disso o ouviu ordenar a Ilyn Payne que cortasse sua cabeça. Por favor, rezou com fervor, façam com que ele o diga, façam com que ele o diga.

Lorde Tywin fitava o neto. Joff deu-lhe um olhar mal-humorado, arrastou os pés, e ajudou Sor Garlan Tyrell a se levantar.

– Os deuses são bons. Estou livre para seguir o meu coração. Casarei com a sua querida irmã, e com alegria, sor – beijou o rosto barbudo de Sor Garlan, enquanto vivas se erguiam em torno deles.

Sansa sentiu a cabeça curiosamente leve. Estou livre. Sentia olhos postos nela. Não devo sorrir, lembrou a si mesma. A rainha prevenira-a; sentisse o que sentisse, a expressão que mostrasse ao mundo devia parecer perturbada.

– Não aceitarei que meu filho seja humilhado – Cersei dissera. – Está me ouvindo?

– Sim. Mas se não vou ser rainha, o que será de mim?

– Isso terá de ser decidido. Por enquanto, ficará aqui na corte, como nossa protegida.

– Quero ir para casa.

Aquilo irritou a rainha.

– A essa altura já devia ter aprendido que nenhum de nós consegue o que quer.

Mas eu consegui, pensou Sansa. Estou livre de Joffrey. Não terei de beijá-lo, nem de lhe entregar minha virgindade, nem de lhe dar filhos. Que Margaery Tyrell fique com tudo isso, pobre garota.

Quando a explosão de júbilo se atenuou, o Senhor de Jardim de Cima já ocupara um lugar à mesa do conselho, e os filhos tinham se juntado aos outros cavaleiros e fidalgos debaixo das janelas. Sansa tentou parecer desamparada e abandonada enquanto outros heróis da Batalha da Água Negra eram chamados a fim de receber as suas recompensas.

Paxter Redwyne, Senhor da Árvore, marchou ao longo do salão flanqueado pelos dois filhos, Horror e Babeiro, com o primeiro coxeando de um ferimento recebido na batalha. Depois, veio Lorde Mathis Rowan vestindo um gibão branco como a neve, com uma grande árvore bordada em fios de ouro no peito; Lorde Randyll Tarly, magro e perdendo os cabelos, com uma grande espada amarrada às costas numa bainha incrustada de joias; Sor Kevan Lannister, um homem atarracado com pouco cabelo e uma barba bem aparada; Sor Addam Marbrand, de cabelos acobreados que caíam sobre seus ombros; os grandes senhores do ocidente Lydden, Crakehall e Brax.

A seguir, vieram quatro homens de nascimento inferior que tinham se distinguido na luta: o cavaleiro zarolho Sor Philip Foote, que matara Lorde Bryce Caron em combate singular; o cavaleiro livre Lothor Brune, que abrira caminho através de meia centena de homens de armas Fossoway para capturar Sor Jon da maçã verde e matar Sor Bryan e Sor Edwyd da vermelha, ganhando assim o apelido de Lothor Papa-Maçãs; Willit, um homem de armas grisalho a serviço de Sor Harys Swyft, que puxara seu senhor de debaixo do cavalo moribundo e o defendera contra uma dúzia de inimigos; e um escudeiro de rosto liso chamado Josmyn Peckledon, que matara dois cavaleiros, ferira um terceiro e capturara mais dois, embora não pudesse ter mais do que catorze anos. Willit foi trazido numa liteira, devido à gravidade de seus ferimentos.

Sor Kevan tinha se sentado ao lado do irmão, Lorde Tywin. Quando os arautos terminaram de anunciar os feitos dos heróis, levantou-se:

– É desejo de Sua Graça que esses bons homens sejam recompensados por seu valor. Por seu decreto, Sor Philip será de hoje em diante Lorde Philip da Casa Foote, e para ele irão todas as terras, direitos e rendimentos da Casa Caron. Lothor Brune será elevado ao estatuto de cavaleiro e lhe serão atribuídas terras e fortaleza nas terras fluviais, após o fim da guerra. Para Josmyn Peckledon irá uma espada e uma armadura, o direito de escolher qualquer cavalo de guerra dos estábulos reais e um grau de cavaleiro quando se tornar maior de idade. E, por fim, para Morgado Willit, uma lança com haste reforçada em prata, um camisão de cota de malha recém-forjada e um elmo completo com viseira. Além disso, seus filhos serão recebidos ao serviço da Casa Lannister em Rochedo Casterly, o mais velho como escudeiro e o mais novo como pajem, com a hipótese de avançarem para cavaleiros se servirem bem e com lealdade. A Mão do Rei e o pequeno conselho consentem com tudo isso.

Os capitães dos navios de guerra reais Vento Vivo, Príncipe Aemon e Seta do Rio foram honrados em seguida, em conjunto com alguns oficiais inferiores do Graça dos Deuses, Lança, Senhora de Seda e Cabeça de Carneiro. Até onde Sansa sabia, seu feito principal tinha sido sobreviver à batalha no rio, um feito de que bem poucos podiam se gabar. Hallyne, o Piromante, e os mestres da Guilda dos Alquimistas também receberam os agradecimentos do rei, e Hallyne foi elevado ao título de lorde, embora Sansa notasse que nem terras nem castelo acompanhavam o título, o que fazia com que o alquimista não fosse um lorde mais verdadeiro do que Varys. Sem dúvida, a mais significativa senhoria foi atribuída a Sor Lancel Lannister. Joffrey premiou-o com as terras, castelo e direitos da Casa Darry, cujo último jovem senhor perecera durante a luta nas terras fluviais, “sem deixar herdeiros legítimos de sangue Darry legal, mas apenas um primo bastardo”.

Sor Lancel não apareceu para aceitar o título; dizia-se que seus ferimentos podiam lhe custar o braço ou até a vida. Dizia-se também que o Duende estava à beira da morte, por conta de um terrível golpe na cabeça.

Quando o arauto chamou “Lorde Petyr Baelish”, ele avançou, vestido em tons de rosa e ameixa, com um padrão de tejos no manto. Sansa conseguiu vê-lo sorrir ao se ajoelhar perante o Trono de Ferro. Parece tão satisfeito. Não ouvira dizer que Mindinho tivesse feito alguma coisa especialmente heroica durante a batalha, mas parecia que seria recompensado mesmo assim.