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Mas agora não tinha tanta certeza. Se subir, será que algum dia voltarei a descer? Para onde irei quando morrer?

– Esperem – Osha os alertou, quando chegaram à escada espiral feita em pedra, que subia até a superfície e descia para os níveis inferiores, onde reis ainda mais antigos se sentavam em seus tronos escuros. Ela entregou o archote a Meera. – Eu subo tateando – durante algum tempo ouviram o som de seus passos, que foram se tornando cada vez menos audíveis, até desaparecerem por completo.

– Hodor – o gigante disse nervosamente.

Bran tinha dito a si mesmo uma centena de vezes como detestava esconder-se lá embaixo, no escuro, como queria voltar a ver o sol, atravessar a cavalo o vento e a chuva. Mas agora que o momento se aproximava, tinha medo. Sentira-se seguro na escuridão; quando sequer se conseguia encontrar a própria mão na frente do rosto, era fácil acreditar que nenhum inimigo seria alguma vez capaz de encontrá-los. E os senhores de pedra tinham lhe dado coragem. Mesmo quando não podia vê-los, sabia que estavam ali.

Pareceu demorar muito tempo até voltarem a ouvir alguma coisa. Bran começava a temer que algo tivesse acontecido a Osha. O irmão não parava quieto.

– Quero ir para casa! – Rickon disse em voz alta. Hodor inclinou a cabeça e disse:

– Hodor – e então ouviram de novo o som de passos, aumentando de volume, e alguns minutos depois Osha emergiu para a luz, com uma expressão sombria.

– Alguma coisa está bloqueando a porta. Não consigo movê-la.

– Hodor consegue mover qualquer coisa – Bran lembrou.

Osha deu ao enorme cavalariço um olhar avaliador:

– Talvez consiga. Então venham daí.

Os degraus eram estreitos, e tinham de subir em fila única. Osha ia à frente. Atrás vinha Hodor, com Bran bem agachado às suas costas, para não bater a cabeça no teto. Meera seguia-os com o archote, e Jojen fechava a retaguarda, levando Rickon pela mão. Subiram, dando voltas e mais voltas. Bran achou que agora conseguia cheirar a fumaça, mas talvez fosse apenas o archote.

A porta das criptas era feita de pau-ferro. Era velha e pesada, e fazia certo ângulo com o chão. Só uma pessoa tinha acesso a ela de cada vez. Osha tentou uma vez mais ao chegar lá, mas Bran viu que a porta não se movia.

– Deixe Hodor tentar.

Tiveram primeiro de tirar Bran do cesto, para não ser esmagado. Meera agachou-se ao seu lado nos degraus, com um braço protetor sobre seus ombros, enquanto Osha e Hodor trocavam de lugar.

– Abra a porta, Hodor – Bran pediu.

O enorme cavalariço pôs ambas as mãos na porta, empurrou e soltou um grunhido.

– Hodor? – deu um murro na madeira, ela nem sequer balançou. – Hodor.

– Use as costas – Bran sugeriu. – E as pernas.

Virando-se, Hodor posicionou as costas na madeira e empurrou. De novo. De novo.

– Hodor! – o gigante encostou um pé em um degrau mais elevado para ficar dobrado sob a inclinação da porta e tentou erguer-se. Daquela vez a madeira gemeu e estalou. – Hodor! – o outro pé subiu um degrau, e Hodor abriu as pernas, firmou-se bem, e endireitou-se. Ficou com o rosto vermelho, e Bran viu os tendões de seu pescoço retesando-se enquanto ele fazia força contra o peso que tinha em cima. – Hodor hodor hodor hodor hodor HODOR! – de cima veio um estrondo surdo. E então, subitamente, a porta saltou e uma réstia de luz do dia caiu sobre o rosto de Bran, cegando-o por um momento. Outro empurrão trouxe o som de pedra movendo-se, e então o caminho ficou aberto. Osha empurrou a lança através da porta e deslizou para fora atrás dela, e Rickon esgueirou-se por entre as pernas de Meera para segui-la. Hodor abriu completamente a porta e saiu para a superfície. Os Reed tiveram de carregar Bran nos últimos degraus.

O céu apresentava-se cinza-claro, e fumaça redemoinhava por todo lado. Estavam à sombra da Primeira Fortaleza, ou do que dela restava. Um dos lados do edifício tinha se desligado do resto e ruíra. Pedras e gárgulas estilhaçadas estavam espalhadas pelo pátio. Caíram bem onde eu caí, Bran pensou quando as viu. Algumas das gárgulas tinham se quebrado em tantos pedaços que perguntou a si mesmo como teria sobrevivido. Ali perto, um punhado de corvos bicava um cadáver esmagado sob as pedras caídas, mas o homem jazia de barriga para baixo, e Bran não conseguiu identificá-lo.

A Primeira Fortaleza não era usada havia muitas centenas de anos, mas agora era uma casca mais vazia do que nunca. Os pisos tinham ardido no interior, bem como todas as vigas. Onde a parede caíra, era possível ver o interior de todos os quartos, e até a latrina. Mas, por trás, a torre quebrada ainda se erguia, tão queimada como antes. Jojen Reed tossiu por causa da fumaça.

– Leve-me para casa! – Rickon insistiu. – Eu quero ir para casa! – Hodor descreveu um círculo, batendo com os pés no chão.

– Hodor – lamuriou-se em voz baixa. Os seis juntavam-se uns aos outros, com ruína e morte por toda volta.

– Fizemos barulho suficiente para acordar um dragão – Osha disse –, mas ninguém veio. O castelo está morto e queimado, bem como Bran sonhou, mas era melhor… – interrompeu-se de súbito ao ouvir um som atrás deles, e girou sobre si mesma, com a lança preparada.

Duas esguias formas escuras emergiram por detrás da torre quebrada, caminhando lentamente através dos detritos. Rickon soltou um grito feliz de “Felpudo!”, e o gigante lobo negro aproximou-se dele aos saltos. Verão avançou mais devagar, esfregou a cabeça no braço de Bran, e lambeu-lhe o rosto.

– Devíamos partir – Jojen os interrompeu. – Tanta morte atrairá outros lobos, além de Verão e Cão Felpudo, e nem todos terão quatro patas.

– Sim, e depressa – Osha concordou. – Mas precisamos de comida, e alguém pode ter sobrevivido a isto. Fiquem juntos. Meera, continue com o escudo levantado e guarde nossas costas.

Levaram o resto da manhã fazendo um lento circuito pelo castelo. As grandes muralhas de granito resistiam, enegrecidas aqui e ali pelo fogo, mas, fora isso, intocadas. Dentro delas tudo era morte e destruição. As portas do Grande Salão estavam carbonizadas e em brasa, e, lá dentro, as traves tinham cedido e o teto inteiro despedaçara-se no chão. As vidraças verdes e amarelas dos jardins de vidro estavam em cacos, com árvores, frutos e flores arrancados ou deixados expostos para morrer. Dos estábulos, feitos de madeira e sapé, nada restava além de cinzas, brasas e cavalos mortos. Bran pensou em sua Dançarina e teve vontade de chorar. Havia um lago fumegante e raso sob a Torre da Biblioteca, e água quente jorrava de uma rachadura numa das paredes. A ponte entre a Torre Sineira e a colônia de corvos tinha ruído sobre o pátio, embaixo, e o torreão do Meistre Luwin desaparecera. Viram um clarão vermelho brilhar através das estreitas janelas do porão sob a Grande Fortaleza, e um segundo incêndio ainda ardendo num dos armazéns.

À medida que avançavam, Osha foi chamando em voz baixa através da fumaça que era soprada pelo vento, mas ninguém respondeu. Viram um cão atacando um cadáver, mas o animal fugiu quando sentiu o cheiro dos lobos gigantes; os outros cães tinham sido mortos nos canis. Os corvos do meistre mostravam-se atenciosos para com alguns dos cadáveres, enquanto os da torre quebrada tratavam de outros. Bran reconheceu Poxy Tym, apesar de alguém ter cortado seu rosto com uma machadada. Um cadáver carbonizado, caído à porta do esqueleto em cinzas do septo da mãe, estava sentado com os braços erguidos e as mãos cerradas em punhos duros e negros, como se pretendesse esmurrar quem quer que se atrevesse a se aproximar dele.

– Se os deuses forem bons – disse Osha numa voz baixa e zangada –, os Outros vão levar quem fez este trabalho.

– Foi Theon – Bran falou num tom escuro.

– Não. Veja – a selvagem apontou com a lança para o outro lado do pátio. – Aquele é um de seus homens de ferro. E ali está outro. E aquele é o cavalo de guerra do Greyjoy, está vendo? O preto com as flechas espetadas nele – avançou por entre os mortos, franzindo o cenho. – E ali está Lorren Negro – tinha sido golpeado de tal maneira que a barba parecia agora ter uma cor marrom-avermelhada. – Levou uns tantos com ele – Com o pé, Osha virou um dos outros cadáveres. – Aqui está um símbolo. Um homenzinho, todo encarnado.