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– Dei a ordem, e daria de novo. Lorde Stark era um traidor – o ponto calvo no meio da cabeça de Slynt estava da cor de beterraba, e sua capa de pano dourado tinha deslizado dos ombros para o chão. – O homem tentou me comprar.

– Nem sonhava que já tinha sido vendido.

Slynt bateu com a taça de vinho na mesa:

– Está bêbado? Se pensa que vou ficar aqui sentado ouvindo minha honra ser questionada…

– E que honra é essa? Admito, faz negócios melhor do que Sor Jacelyn. Um título e um castelo por uma lança espetada nas costas, e nem sequer precisou pegar na lança – Tyrion atirou o ornamento dourado na direção de Janos Slynt. O objeto bateu no seu peito e tilintou no chão, enquanto o homem se punha de pé.

– Não me agrada o tom da sua voz, lor… Duende. Sou o Senhor de Harrenhal e um membro do conselho do rei. Quem é você para me castigar assim?

Tyrion inclinou a cabeça para o lado:

– Acho que sabe bastante bem quem eu sou. Quantos filhos tem?

– O que importam meus filhos para você, anão?

Anão? – a ira de Tyrion explodiu. – Devia ter parado em Duende. Sou Tyrion, da Casa Lannister, e um dia, se tiver o bom-senso de um caramujo, cairá de joelhos, grato por ter sido comigo que teve de lidar, e não com o senhor meu pai. Quantos filhos tem?

Tyrion viu o súbito medo nos olhos de Janos Slynt.

– T-três, senhor. E uma filha. Por favor, senhor…

– Não precisa implorar – o Duende deslizou de cima da cadeira. – Dou a minha palavra de que nenhum mal cairá sobre eles. Os rapazes mais novos serão criados como escudeiros. Se servirem bem e com lealdade, poderão eventualmente se tornar cavaleiros. Que nunca se diga que a Casa Lannister não recompensa aqueles que a servem. Seu filho mais velho herdará o título de Lorde Slynt, e este seu terrível brasão – Tyrion chutou a pequena lança de ouro e fez com que deslizasse pelo chão. – Serão arrumadas terras para ele, e poderá construir uma sede. Não será Harrenhal, mas será suficiente. Arranjar casamento para a moça será tarefa dele.

A cara de Janos Slynt tinha ido de vermelha para branca.

– O que… Q que pretende…? – sua papada tremia como montículos de sebo.

– O que pretendo fazer com o senhor? – Tyrion deixou o imbecil tremer por um instante antes de responder. – O galeão Sonho de Verão zarpa na maré da manhã. Seu mestre me disse que passará por Vila Gaivotas, as Três Irmãs, a ilha de Skagos e Atalaialeste do Mar. Quando encontrar o Comandante Mormont, dê-lhe os meus amistosos cumprimentos e diga que não me esqueci das necessidades da Patrulha da Noite. Desejo-lhe uma longa vida e bons serviços, senhor.

Assim que Janos Slynt compreendeu que não seria sumariamente executado, a cor voltou ao seu rosto, e ele projetou o queixo.

– Quanto a isso, veremos, Duende. Anão. Talvez seja você quem viajará nesse navio. O que acha disso? Talvez seja você que vai para a Muralha – soltou uma gargalhada ansiosa. – Você e as suas ameaças. Bem, vamos ver. Sou amigo do rei, sabe. Vamos ouvir o que Joffrey tem a dizer sobre isso. E Mindinho, e a rainha, ah, sim. Janos Slynt tem muitos amigos. Vamos ver quem vai velejar, prometo. Veremos. Ah! Sim, veremos.

Slynt girou sobre os calcanhares como o vigia que tinha sido um dia e atravessou o Salão Pequeno a passos largos, fazendo ressoar as botas na pedra. Subiu os degraus com estrondo, abriu violentamente a porta… E deu de cara com um homem alto, de rosto chupado, usando uma placa de peito negra e um manto dourado. Presa ao toco do seu pulso direito via-se uma mão de ferro.

– Janos – o homem disse, com os olhos encovados brilhando sob supercílios proeminentes e um abundante cabelo grisalho. Seis homens de mantos dourados entraram calmamente no Salão Pequeno atrás dele quando Janos Slynt recuou.

– Lorde Slynt – Tyrion chamou –, creio que conhece Sor Jacelyn Bywater, nosso novo Comandante da Patrulha da Cidade.

– Temos uma liteira à sua espera, senhor – disse Sor Jacelyn a Slynt. – As docas são escuras e distantes, e as ruas não são seguras à noite. Homens.

Enquanto os homens de manto dourado conduziam seu antigo comandante para fora da sala, Tyrion chamou Sor Jacelyn para perto e lhe entregou um rolo de pergaminho.

– É uma longa viagem, e Lorde Slynt vai querer companhia. Certifique-se de que estes seis se juntem a ele no Sonho de Verão.

Bywater deu uma olhada nos nomes e sorriu:

– Às suas ordens.

– Um deles – disse Tyrion em voz baixa –, Deem. Diga ao capitão que não seria levado a mal se por acaso este cair borda afora antes de chegarem a Atalaialeste.

– Ouvi dizer que essas águas do norte são muito tempestuosas, senhor.

Sor Jacelyn fez uma reverência e se retirou, fazendo esvoaçar o manto atrás de si. No caminho, pisou na capa de pano dourado de Slynt.

Tyrion ficou sentado sozinho, bebericando o que restava do ótimo vinho doce de Dorne. Criados entravam e saíam, tirando os pratos da mesa. Disse-lhes para que deixassem o vinho. Quando terminaram, Varys entrou, deslizando no salão, usando uma toga cor de lavanda, que combinava com o seu cheiro.

– Ah, que bem-feito, meu bom senhor.

– Então, por que tenho este sabor amargo na boca? – Tyrion passou os dedos pelas têmporas. – Disse-lhes para atirar Allar Deem ao mar. Estou intensamente tentado a fazer o mesmo com você.

– Talvez ficasse desapontado com o resultado – Varys respondeu. – As tempestades vêm e vão, as ondas rebentam sobre as nossas cabeças, os peixes grandes comem os pequenos, e eu continuo chapinhando na água. Posso lhe pedir um pouco do vinho que Lorde Slynt tanto apreciou?

Tyrion fez um gesto para o frasco, franzindo a testa.

Varys encheu uma taça.

– Ah! Doce como o verão – bebeu outro gole. – Consigo ouvir as uvas cantando na minha língua.

– Estava me perguntando o que seria esse ruído. Diga às uvas para ficarem quietas, minha cabeça está prestes a rachar. Foi a minha irmã. Foi isso que o Ah... tão... leal Lorde Janos se recusou a dizer. Cersei enviou os homens de manto dourado àquele bordel.

Varys sufocou um riso nervoso. Então, ele sempre soubera.

– Não me havia contado essa parte – Tyrion disse, acusadoramente.

– A sua querida irmã – Varys respondeu, tão desgostoso que parecia perto das lágrimas. – É duro contar isso a um homem, senhor. Tive receio de como receberia a notícia. É capaz de me perdoar?

– Não – Tyrion exclamou. – Maldito seja. Maldita seja ela.

Sabia que não podia tocar em Cersei. Ainda não, nem mesmo se quisesse, e estava longe de ter certeza de querer. Mas irritava-o ficar ali, fazendo uma pantomima de justiça, punindo uns infelizes da laia de Janos Slynt e Allar Deem, enquanto a irmã prosseguia no seu rumo selvagem.

– Da próxima vez, diga-me o que sabe, Lorde Varys. Tudo o que sabe.

O sorriso do eunuco era malicioso.

– Isso poderá demorar um tempo bastante longo, meu bom senhor. Sei muita coisa.

– Não o suficiente para salvar esta criança, parece.

– Infelizmente, não. Havia outro bastardo, um rapaz, mais velho. Tomei medidas para afastá-lo e mantê-lo em segurança… Mas, confesso, nunca sonhei que o bebê pudesse correr riscos. Uma menina de baixo nascimento, com menos de um ano de idade, com uma mãe prostituta. Que ameaça poderia representar?

– Era de Robert – disse Tyrion amargamente. – O suficiente para Cersei, ao que parece.

– Sim. É muito triste. Tenho de me culpar pelo pobre doce bebê e por sua mãe, que era tão nova e amava o rei.

– Amava? – Tyrion não chegou a ver o rosto da moça morta, mas na sua imaginação era uma combinação de Shae e Tysha. – Uma prostituta pode realmente amar alguém? Não, não responda. Há coisas que prefiro não saber.