– O castelo está como se recorda dele, senhor? – perguntou a filha do capitão enquanto se apertava contra o seu braço.
– Parece menor – Theon confessou. – Embora talvez seja só a distância.
Myraham era um navio mercantil de casco largo, do sul, vindo de Vilavelha com um carregamento de vinho, especiarias e sementes, que pretendia trocar por minério de ferro. O capitão era também um mercador de casco largo do sul, e o mar pedregoso que espumava aos pés do castelo fazia seus lábios rechonchudos tremerem, por isso permanecia bem afastado, mais longe do que Theon teria preferido. Um capitão de ferro com um dracar os teria levado ao longo das falésias e sob a alta ponte que ligava a guarita à Grande Fortaleza, mas aquele rechonchudo vilavelhense não tinha nem o navio, nem a tripulação, nem a coragem de tentar tal coisa. Portanto, passaram a distância segura, e Theon teve de se contentar em ver Pyke de longe. Mesmo assim, o Myraham foi obrigado a lutar ferozmente para se manter afastado daqueles rochedos.
– Ali deve ser ventoso – observou a filha do capitão.
Ele riu.
– Ventoso, frio e úmido. Um lugar duro e miserável, para falar a verdade… Mas o senhor meu pai me disse um dia que lugares duros geram homens duros, e homens duros governam o mundo.
A cara do capitão estava verde como o mar quando se aproximou, às reverências, de Theon e perguntou:
– Podemos nos dirigir ao porto agora, senhor?
– Podemos – Theon respondeu, com um tênue sorriso a brincar nos seus lábios. A promessa de ouro tinha transformado o vilavelhense num lambe-botas sem vergonha. Teria sido uma viagem muito diferente se um dracar das ilhas o aguardasse em Guardamar, como ele tinha esperado. Os capitães de ferro eram orgulhosos e voluntariosos, e não reverenciavam ninguém pelo sangue. As ilhas eram pequenas demais para a reverência, e um dracar era ainda menor. Se qualquer capitão era um rei a bordo do seu navio, como era costume dizer, pouco admirava que chamassem as ilhas de terra dos dez mil reis. E quando se via seus reis cagando por cima da amurada e ficando enjoados durante uma tempestade, era difícil ajoelhar-se e fingir que eram deuses. “O Deus Afogado faz homens”, tinha dito, um dia, o velho rei Urron Redhand, há milhares de anos, “mas são os homens que fazem coroas”.
Um dracar também teria feito a travessia em metade do tempo. A bem da verdade, o Myraham era uma banheira chafurdante, e Theon não gostaria de estar a bordo dele numa tempestade. Apesar de tudo, não podia se sentir muito infeliz. Estava ali, não se afogara, e a viagem tinha oferecido alguns outros divertimentos. Pôs um braço em volta da filha do capitão.
– Chame-me quando chegarmos a Fidalporto – disse ao pai dela. – Estaremos lá embaixo, na minha cabine – e empurrou a garota para a popa, enquanto o pai os via partir num silêncio taciturno.
A cabine, na verdade, era do capitão, mas tinha sido entregue a Theon quando partiram de Guardamar. A filha do capitão não lhe tinha sido entregue, mas viera de vontade própria para sua cama mesmo assim. Uma taça de vinho, alguns murmúrios, e lá estava ela. A garota era um pouco rechonchuda para o seu gosto, com uma pele tão manchada como mingau de aveia, mas seus seios enchiam muito bem suas mãos, e ela era donzela da primeira vez que a teve. Isso era surpreendente, considerando a idade que tinha, mas Theon achou o fato divertido. Não lhe parecia que o capitão aprovasse, e isso também era divertido, observar o homem lutando para engolir o ultraje enquanto desempenhava as suas cortesias para com o grande senhor, sem nunca ter longe do pensamento a rica bolsa de ouro que lhe tinha sido prometida.
Enquanto Theon se livrava do manto molhado, a moça disse:
– Deve estar muito feliz por voltar a ver seu lar, senhor. Quantos anos esteve fora?
– Dez, ou tão perto disso que não faz diferença – ele respondeu. – Era um menino de dez anos quando fui levado para Winterfell como protegido de Eddard Stark.
Um protegido no nome, um refém na realidade. Metade dos seus dias como refém… Mas não mais. Sua vida era de novo sua, e não se via um Stark em nenhum canto. Puxou a filha do capitão para mais perto e beijou-a na orelha.
– Tire o manto.
Ela abaixou os olhos, subitamente tímida, mas fez o que lhe pedia. Quando a pesada veste, ensopada de maresia, caiu dos seus ombros e se amontoou no convés, ela fez uma pequena reverência e deu um sorriso ansioso. Ficava com um ar bastante estúpido quando sorria, mas ele nunca tinha exigido das mulheres que fossem espertas.
– Vem cá.
Ela foi:
– Nunca vi as Ilhas de Ferro.
– Considere-se sortuda – Theon afagou seu cabelo. Era fino e escuro, embora o vento o tivesse embaraçado. – As ilhas são lugares austeros e pedregosos, de conforto escasso e perspectivas desanimadoras. Aqui a morte nunca está longe, e a vida é má e magra. Os homens passam as noites bebendo cerveja e discutindo sobre qual dos grupos é pior, o dos pescadores que lutam contra o mar ou o dos agricultores, que tentam arrancar uma colheita do solo pobre e raso. Na realidade, os mineiros vivem pior do que ambos, quebrando suas costas no escuro, e para quê? Ferro, chumbo, estanho, são esses os nossos tesouros. Não é de espantar que os homens de ferro de outrora tivessem se voltado para o saque.
A estúpida moça não parecia estar ouvindo.
– Podia ir para a terra firme com você – ela disse. – Faria isso, se lhe agradasse…
– Podia ir para terra firme – concordou Theon, apertando seu seio –, mas receio que não comigo.
– Trabalharia no seu castelo, senhor. Sei limpar peixe, cozer pão e bater manteiga. O pai diz que meu guisado de caranguejo com pimenta é o melhor que já provou. Poderia encontrar um lugar para mim nas suas cozinhas, e eu poderia preparar guisado de caranguejo com pimenta para o senhor.
– E aquecer minha cama à noite? – estendeu a mão para as fitas do seu corpete e começou a desatá-las, com dedos hábeis e experientes. – Antigamente, poderia tê-la levado para casa como saque e tê-la mantido como esposa, quer você quisesse quer não. Os homens de ferro de outrora faziam coisas assim. Um homem tinha sua esposa da rocha, a verdadeira consorte, nascida de ferro como ele, mas também possuía suas esposas de sal, mulheres capturadas em saques.
Os olhos da moça abriram-se muito, e não era porque ele tinha desnudado seus seios.
– Eu seria sua esposa de sal, senhor.
– Temo que esses dias tenham passado – o dedo de Theon moveu-se ao redor de uma mama pesada, numa espiral que se dirigia para o gordo mamilo marrom. – Já não podemos montar o vento com fogo e espada, roubando o que quisermos. Agora arranhamos o solo e atiramos linhas ao mar como os outros homens e consideramo-nos sortudos se tivermos bacalhau salgado e mingau suficientes para nos sustentar durante um inverno.
Tomou o mamilo na boca e mordeu-o, até ela arfar.
– Pode pôr em mim de novo, se desejar – sussurrou a garota ao seu ouvido, enquanto ele chupava seu seio.
Quando afastou a cabeça do seio dela, a pele estava vermelho-escura onde a boca a marcara.
– Desejo ensinar uma coisa nova a você. Dispa-me, e me dê prazer com a boca.
– Com a boca?
O polegar dele roçou levemente nos lábios carnudos da moça.
– Foi para isso que estes lábios foram feitos, doçura. Se fosse minha esposa de sal, faria o que eu ordenasse.
Ela, a princípio, se mostrou tímida, mas aprendia depressa para uma garota tão estúpida, o que o agradava. Tinha a boca tão úmida e doce como a boceta, e assim não tinha de ouvir sua tagarelice tediosa. Antigamente, teria realmente ficado com ela como esposa de sal, pensou consigo mesmo, enquanto enfiava os dedos no seu cabelo embaraçado. Antigamente. Quando ainda mantínhamos o Costume Antigo, vivíamos pelo machado e não pela picareta, roubando o que quiséssemos, fossem riquezas, mulheres ou glória. Naqueles dias, os homens de ferro não trabalhavam nas minas; isso era tarefa para os cativos trazidos das incursões, assim como o lamentável trabalho na agricultura e na criação de cabras e ovelhas. A guerra era o ofício próprio para um homem de ferro. O Deus Afogado fizera-os para saquear e violar, para esculpir reinos e escrever seus nomes em fogo, sangue e canções.