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“André, vais com uma praça até Red House pedir socorro. Diz-lhes que estamos a ser cercados e precisamos de reforços e munições.“

“Imediatamente, meu capitão”, exclamou o telefonista, saltando da cadeira e agarrando numa arma.

Afonso olhou em redor.

“ Onde está o tenente Pinto?”

André encarou-o com embaraço. “O tenente... saiu, meu capitão”

“Saiu? Foi para onde? “ O telefonista encolheu os ombros e baixou os olhos. O

capitão percebeu que ele não estava a falar toda a verdade. “André, vai chamá-lo, vá “ Afonso foi ao armário do abrigo e agarrou na última Lee-Enfield que lá se encontrava. Deu meia-volta para sair e viu André especado no mesmo sítio. “Então? O que estás aí a fazer?

“Meu capitão”, gaguejou o telefonista, calando-se de imediato.

“O que é, homem?“, impacientou-se Afonso, cheio de pressa. “Desem-bucha, vá! “

“Meu capitão, o tenente Pinto não está cá”, disse André com grande esforço.

“Isso já eu sei. Vai buscá-lo.“

O telefonista hesitou.

“Meu capitão, o tenente Pinto cavou”

O major Gustavo Mascarenhas olhou para as caixas de munições que conseguira reunir. Eram agora dez horas da manhã e o segundo comandante de Infantaria 13 juntara 409

apenas três mil cartuchos, mendigados junto do coman-dante de um batalhão de ciclistas ingleses que se encontrava no blockhaus de Lacouture, ao lado da igreja. Não eram muitas balas, pensou, mas teriam de viver com o que tinham. O problema era agora fazer chegar estas munições às companhias que partiram à procura do inimigo.

“Meu major, dá licença? “

Mascarenhas virou-se e viu o alferes Viegas.

“O que é, Viegas.“

“Apareceram ali tropas do 15, meu major.“

O major seguiu o alferes e encontrou os elementos de Infantaria 15, de Tomar, junto à igreja. Esse batalhão mantinha-se de reserva atrás de Vieille Chapelle e o seu aparecimento era a primeira boa notícia do dia. Mascarenhas foi ter com o comandante do 15, o major Peres, que se encontrava na cave de uma casa das redondezas, e expôs-lhe o problema da falta de munições.

“Não tenho cartuchos para lhe dar”, retorquiu Peres. Mascarenhas suspi-rou, desalentado.

“Então não sei como resista”, desabafou. “Sem balas não temos como nos opor ao avanço do inimigo. “

O major Peres ficou pensativo, desdobrou um mapa sobre a mesa e indicou um ponto.

“Major Mascarenhas, o melhor que podemos fazer é montar um serviço de remuniciamento através de postos até aqui, a Vieille Chapelle. Vocês vão aos postos buscar as munições e distribuem-nas pelas tropas. Serve? “

“É melhor do que nada”, consolou-se Mascarenhas. “Mas precisava também de reforços “

O major Peres tamborilou com os dedos sobre a mesa onde se estendia o mapa, pesando as opções. Acabou por se decidir.

“Dou-vos uma companhia”, disse. “A do capitão Brito. “ O alferes Viegas entrou nesse momento na cave, acompanhado por um soldado ofegante.

“Meu major, dá licença? “, disse, dirigindo-se a Mascarenhas. “ Diz lá “

“Está aqui o soldado Camacho, da segunda companhia, que acabou de chegar com informações “

“ O que se passa?”

O soldado fez continência, o peito arfando pesadamente, viera a correr.

“Meu major, os desertores estão a dizer que os boches avançam pelos intervalos dos postos, cercando-os e prendendo toda a gente. “ Fez uma pausa para respirar. “O tenente 410

Alcídio pergunta o que fazer. “ Alcídio era o comandante da segunda companhia. “Ele também pede munições. “

“Muito bem, Camacho”, disse Mascarenhas. “Vais voltar para as linhas e levar algumas munições contigo. Diz ao tenente Alcídio que lhe vamos enviar forças do 15 para o apoiarem. Já tiveram contacto com o inimigo?”

“Ainda não, meu major”

“Quando tiverem, as ordens são as de resistir, resistir sempre. Perce-beste?”

“Sim, meu major. “

“Então vai lá. “

Vicente Manápulas sentia os músculos do braço direito cansados de tanto repetir o movimento. Apontava para um alemão, disparava, abria a culatra, puxava-a, deixava a bala entrar no cano, fechava a culatra, apontava, disparava, abria a culatra, puxava-a, deixava a bala seguinte entrar no cano, fechava a culatra, apontava, disparava, e assim sucessivamente, até esgotar, no espaço de dois minutos, as dez balas do depósito da Lee-Enfield. Nessa altura substituía o depósito e recomeçava o processo de abrir a culatra, puxá- la, deixar a bala entrar no cano, fechar a culatra, apontar e disparar. Na verdade, o processo de esvaziar um depósito durava dois minutos porque o capitão Brandão tinha dado ordens para se pouparem balas e só dispararem pela certa. Caso contrário, os soldados eram capazes de despenderem as dez balas em apenas cinquenta segundos, uma vez que o processo de carregar a espingarda durava uns meros cinco segundos.

“A equipa da costureira caiu!“, gritou alguém. “Acudam!“ Vicente perce-beu, pela alteração na cacofonia que o rodeava, que uma das Vickers tinha deixado de disparar.

Seguiu-se alguma confusão, apenas com as espingardas e uma outra Vickers a abrir fogo, até que alguém lhe tocou no ombro. Manápulas virou-se e viu Afonso com o alarme estampado nos olhos.

“Sabes usar a Vickers?“, perguntou-lhe o oficial. “Mais ou menos, meu capitão.”

“Então vai lá. O Sérgio ajuda-te com as cintas de munições. “ Vicente correu curvado até ao ninho da metralhadora e viu os dois homens que a operavam estendidos no chão. Um jazia inerte, o outro mexia-se e estava a ser visto por um companheiro. Num olhar de relance, percebeu que tinham sido atingidos por balas, presumivelmente de metralhadora. Espreitou pela seteira, a brecha aberta entre os sacos de terra, e procurou a arma inimiga que varrera os homens da Vickers. À esquerda, encostada a um tronco de árvore, posicionava-se efectivamente uma Maxim, provavelmente acabada de ser colocada pelos alemães sem que a equipa da Vickers a tivesse referenciado. O Manápulas agarrou as pegas da metralhadora pesada, apontou para a Maxim, esperou que Sérgio viesse juntar-se a 411

ele para o remuniciar e, já confortável, premiu o gatilho. Sucessivos penachos de terra e poeira ergueram-se junto ao tronco. A Maxim respondeu, Vicente insistiu, largou rajada sobre rajada e a metralhadora inimiga calou-se. Quando a poeira assentou, a Maxim apareceu voltada ao contrário, claramente tinha sido atingida.

“Apanhámo-los!“, congratulou-se Vicente, sorrindo para Sérgio.

O ajudante devolveu o sorriso.

“Boa, Manápulas.“

Vicente viu umas dezenas de homens a correrem perto do sítio onde se encontrava a Maxim e voltou a premir o gatilho, largando novas rajadas que atingiram mais alguns alemães. De repente, a metralhadora portuguesa passou a disparar em seco. Vicente ficou admirado, olhou e viu que a cinta de balas se esgotara.

“Mete-me mais munições”, pediu a Sérgio. “Depressa, depressa! O ajudan-te pegou numa nova cinta e encostou-se ao tambor da Vickers para a encaixar na metralhadora. Ao tocar na arma, porém, o Manápulas gritou de dor.

“Caramba, esta merda tá a ferver! “, exclamou, sacudindo a mão.

Vicente experimentou a temperatura do metal com um leve toque dos dedos e verificou que a metralhadora estava efectivamente a escaldar.

“Água”, pediu, olhando freneticamente em redor. “Ond'é qu'há água “ Não encontraram água para arrefecer o tambor e Sérgio foi ter com Afonso para ver se arranjava alguma. O capitão deu um salto ao ninho de metralhadora e, após verificar igualmente a temperatura da Vickers, mirou Vicente.