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José Rodrigues dos Santos

A FÓRMULA DE DEUS

1

EDITORA RECORD

RIO DE JANEIRO. SÃO PAULO

2008

À Florbela

"Eu sou o Alfa e o Ômega,

o principio e o fim

aquele que é e que era,

e que há de vir,

o Todo-Poderoso.”

APOCALIPSE, I, 8

Aviso

Todos os dados científicos aqui apresentados são verdadeiros.

Todas as teorias científicas aqui expostas são defendidas por físicos e matemáticos.

Prólogo

O homem dos óculos escuros riscou o fósforo e colou a chama violácea à ponta do cigarro. Aspirou forte e uma nuvem acinzentada ergueu-se do rosto, devagar, fantasmagórica. O homem percorreu a rua com o olhar azul e apreciou a placidez daquele recanto aprazível.

Fazia sol, os arbustos coloriam de verde os jardins mimosos, graciosas casas de madeira espreitavam a rua, as folhas tremelicavam sob a brisa leve da manhã; o ar ameno encheu-se de aroma e melodia, perfumado pela fragrância fresca das glicínias, embalado pelo estridular laborioso das cigarras na relva rasteira e pelo arrulhar meigo de um beija-flor. Uma gargalhada despreocupada juntou-se ao harmonioso concerto da natureza, era uma criança loira que guinchava de alegria e saltitava pelo passeio, puxando um colorido papagaio por uma corda.

Primavera em Princeton.

2

Um zumbido longínquo atraiu a atenção do homem dos óculos escuros. Esticou a cabeça e fixou os olhos no fundo da rua. Três motos da polícia emergiram do lado direito, encabeçando uma fila de carros que se aproximava a grande velocidade; o zumbido cresceu e transformou-se num ronco estrepitoso. O homem tirou o cigarro da boca e esmagou-o no cinzeiro sobre o parapeito da janela.

"Estão chegando", disse, voltando a cabeça para trás.

"Começo a gravar?", perguntou o outro, o dedo pousado sobre o botão de uma máquina com uma fita magnética.

"Sim, é melhor."

A fila de automóveis imobilizou-se com espalhafato diante da casa do outro lado da rua, uma moradia branca de dois pisos, com um alpendre dianteiro, desenhada em estilo revivalista grego; polícias fardados e outros à paisana assumiram o controlo do perímetro e um homem corpulento, evidentemente um guarda-costas, foi abrir a porta do Cadillac negro que estacionou diante da entrada da casa. Um homem de idade, de cabelos brancos sobre as orelhas e calvo no topo da cabeça, saiu do Cadillac e ajeitou o seu terno escuro.

"Já vejo o Ben Gurion", disse, da janela da casa oposta, o homem dos óculos escuros.

"E o nosso amigo? Já apareceu?", perguntou o homem do gravador, frustrado por não poder ir à janela observar a cena.

O dos óculos escuros desviou os olhos do Cadillac para a casa. A imagem familiar do homem de idade, ligeiramente curvado e os cabelos alvos penteados para trás, um farfalhudo bigode grisalho sob o nariz, emergiu da soleira da porta e desceu as escadas com um sorriso.

"Sim, ele já está ali."

As vozes dos dois homens a encontrarem-se nas escadas do jardim ressoou pelos altos-falantes dos gravadores.

"Shalom, senhor primeiro-ministro."

"Shalom, professor."

"Seja bem-vindo à minha humilde casinha. É um prazer ter aqui o famoso David Ben Gurion."

O governante riu-se.

"O senhor deve estar a brincar. O prazer é todo meu, sabe? Não é todos os dias que se vai a casa do grande Albert Einstein, não é verdade?"

O homem dos óculos olhou para o companheiro.

"Estás a gravar?”

O outro verificou as agulhas a oscilarem nos mostradores das máquinas.

"Sim. Não te preocupes.”

Lá à frente, Einstein e Ben Gurion posavam para os repórteres, que os iluminavam de flashes diante do tapete verde e lilás da glicínia que trepava pela varanda da casa. Como estava um magnífico dia primaveril, o cientista fez sinal de que era melhor permanecerem cá fora e apontou na direcção de umas cadeiras de madeira 3

colocadas sobre a relva úmida; sentaram-se ambos aí, os fotógrafos e operadores de câmara sempre a registarem o momento. Ao fim de alguns minutos, um guarda-costas abriu os braços e afastou a imprensa, deixando os dois homens a sós, entregues à conversa na doçura solarenga no jardim.

No gravador da casa em frente, as vozes continuavam a ser captadas e registadas.

"Está a correr bem a viagem, senhor primeiro-ministro?"

"Sim, tenho conseguido algum apoio e muitos donativos, graças a Deus. Agora a seguir vou a Filadélfia, onde espero obter mais dinheiro. Mas nunca é o suficiente, não é? A nossa jovem nação está rodeada de inimigos e precisa de toda a ajuda que puder obter." "Israel tem apenas três anos, senhor primeiro-ministro. É natural que haja dificuldades."

"Mas é preciso dinheiro para as superar, professor. Não basta a boa vontade."

Três homens de terno escuro irromperam pela porta da casa em frente, as pistolas agarradas pelas duas mãos e apontadas para os dois suspeitos que observavam a cena.

"Freeze!", berraram os homens armados. "FBI! Não se mexam! Levantem as mãos e não façam gestos bruscos!"

O homem dos óculos escuros e o do gravador ergueram os braços, mas sem aparentarem alarme. Os do FBI aproximaram-se, as pistolas sempre em riste, tensas e ameaçadoras.

"Deitem-se no chão!”

"Isso não é preciso", devolveu tranquilamente o dos óculos escuros.

"Deitem-se no chão, já disse", gritou o do FBI. "Não volto a repetir." "Tenham calma, rapazes", insistiu o dos óculos escuros. "Somos CIA." O do FBI franziu o sobrolho.

"Pode provar isso?"

"Posso. Se me deixar tirar a identificação do bolso."

"Tire-a. Mas devagar. Nada de gestos bruscos."

O homem dos óculos escuros baixou lentamente o braço direito, mergulhou-o no bolso do casaco e retirou um cartão, que exibiu ao do FBI. O cartão, com o selo circular da Central Intelligence Agency, identificava o homem dos óculos escuros como sendo Frank Bellamy, operacional de primeira classe. O agente do FBI fez sinal aos companheiros para baixarem as armas e olhou em redor, estudando a sala.

"O que está a OSS aqui a fazer?"

"Já não somos OSS, you prick. Somos CIA agora."

"Okay. O que está a CIA aqui a fazer?"

"Vocês não têm nada a ver com isso."

O do FBI cravou os olhos nos gravadores.

"A gravar a conversa do nosso gênio, é?"

"Vocês não têm nada a ver com isso."

4

"Vocês estão, por lei, proibidos de espiar cidadãos americanos. Sabem disso, não sabem?"

"O primeiro-ministro de Israel não é cidadão americano."

O homem do FBI ponderou a resposta. De fato, concluiu, o agente da agência rival tinha um bom álibi.

"Há anos que andamos a tentar fazer escutas ali ao nosso amigo", disse, olhando pela janela para a figura de Einstein. "Temos informações de que ele e a secretária, aquela cabra da Dukas, andam a passar segredos para os soviéticos. Mas o Hoover não nos deixa pôr os microfones, tem medo do que acontecerá se o geniozinho descobrir." Coçou a cabeça. "Pelos vistos, vocês tornearam esse problema."

Bellamy torceu os lábios finos, esboçando o que parecia ser o vestígio de um sorriso.

"Azar o vosso, serem do FBI." Apontou para a porta com a cabeça. "Agora desapareçam, vá. Deixem os big boys trabalhar."

O do FBI ergueu o canto do lábio, num gesto de desprezo.

"Sempre os mesmos merdas, hem?", grunhiu, antes de se voltar para a porta.

"Fucking Nazis." Fez sinal aos seus dois companheiros. "Let's NO, guys."