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"Exato."

"E colidem todos no pólo Sul."

Tomás riu-se.

"Se não tiverem cuidado."

"O professor Siza acreditava que o universo é assim. O espaço-tempo é esférico.

Neste momento, e devido ao Big Bang e à expansão possivelmente esférica do espaço e do tempo, a matéria está a afastar-se. As galáxias vão ficando mais distantes umas das outras, até se distanciarem tanto que deixarão de se ver. Ao mesmo tempo vão morrendo aos poucos, transformando-se em matéria inerte. O frio será generalizado.

Mas haverá um momento em que, após o apogeu da expansão, o tempo e o espaço começarão a encolher. Isso fará aumentar a temperatura da mesma maneira que um gás em retração aquece. O encolher do espaço-tempo acabará com uma brutal colisão final no pólo Sul do universo, uma espécie de Big Bang ao contrário. O Big Crunch."

"E é possível a vida sobreviver a isso?"

"A vida biológica, assente no átomo de carbono?" Abanou a cabeça. "Não. Essa vida desaparecerá muito antes disso, já lhe disse. Mas o postulado do Princípio Antrópico Final estabelece que a inteligência sobreviverá ao longo da história do universo."

"Mas como?"

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"Espalhando-se pelo universo de tal modo que assumirá o controle de todo o processo."

Tomás riu-se de novo.

"Você deve estar a brincar."

"Estou a falar a sério. Muitos físicos acreditam que isto é possível e alguns até já demonstraram como."

"Ouça, você acredita mesmo que a inteligência vinda de uma coisa tão minúscula como a Terra pode assumir o controle de uma coisa tão imensa como o universo?"

"Isso não é tão incrível como pode parecer à primeira vista", argumentou Luís Rocha. "Não se esqueça do que diz a Teoria do Caos. Se uma borboleta pode afetar o clima do planeta, por que não poderá a inteligência afetar o universo?"

"Estamos a falar de coisas diferentes..."

"Estaremos?", interrogou-se o físico. "Tem a certeza?"

"Bem... uh... acho que sim. Apesar de tudo, o universo é muito maior do que a Terra, ou não é?"

"Mas o princípio é o mesmo. Repare, quando a vida apareceu na Terra, há mais de quatro mil milhões de anos, alguma vez alguém diria que aquelas moléculas minúsculas e insignificantes iriam evoluir tanto que acabariam um dia por assumir o controle de todo o planeta? Claro que não. Isso, se fosse dito naquela altura, seria risível. E, no entanto, cá estamos nós a discutir hoje os efeitos da ação humana na Terra. Dizer que a vida tomou o controle do nosso planeta é, nos tempos que correm, uma perfeita banalidade. Ora, se, partindo de umas meras moléculas, ao fim de mais de quatro mil milhões de anos a vida tomou conta da Terra ao ponto de influenciar a sua evolução, o que impede que, daqui a quarenta mil milhões de anos, a inteligência tome conta de toda a galáxia ao ponto de também influenciar a sua evolução?"

"Hmm... estou a perceber..."

"Os mecanismos através dos quais esse controle é exercido são explicados por vários estudos científicos, os principais conduzidos por Tipler e Barrow, e não vale a pena eu entrar aqui em pormenores sobre a física e a matemática que envolve esse processo. O essencial, no entanto, é que o professor Siza estava convencido de que o postulado do Princípio Antrópico Final é verdadeiro. Ou seja, tendo aparecido no universo, a inteligência jamais desaparecerá. Se, para sobreviver, a inteligência tiver de controlar a matéria e as forças do universo, controlá-las-á."

"E é esse o propósito do universo? Permitir que a inteligência apareça?"

"Não sei se é esse o propósito do universo. Sei, no entanto, que a vida não é o objetivo, mas um passo necessário para permitir o aparecimento da inteligência."

"Estou a ver", suspirou Tomás, absorto nas implicações desta idéia. "Isso é... é incrível."

"É, não é?"

O historiador recostou-se na cadeira, contemplativo, mergulhado num espantado raciocínio. Mas o turbilhão de pensamentos logo foi assaltado por uma irrequieta dúvida e Tomás, emergindo da abstração, voltou-se para o seu interlocutor com o rosto contraído numa careta pensativa.

"Ouça lá, diz você que, uma vez tendo aparecido, a inteligência jamais desaparecerá, não é?"

330

"Sim, é o que prevê o Princípio Antrópico Final."

"Mas como poderá a inteligência sobreviver ao Big Crunch? Como poderá ela sobreviver ao fim do universo?"

Luís Rocha sorriu.

"A resposta a essa pergunta, meu caro, está inserida na última cifra deixada por Einstein."

"A que está no manuscrito?"

"Sim. É essa fórmula que revela o endgame do universo."

XLI

A folha rabiscada em Teerão apresentava-se já muito maltratada, com as pontas rasgadas e a textura enrugada de tantos maus tratos sofridos nos bolsos dos casacos de Tomás. Mas o estado do papel era irrelevante; aquela não passava de uma qualquer página arrancada de uma resma de A4 do ministério iraniano da Ciência. O que tinha valor, ali, não era a folha, mas as letras rabiscadas; tratava-se, afinal de contas, da única cópia da mensagem que Einstein cifrara por volta de 1955, quando redigiu em Princeton o documento que os seus pupilos mantiveram em segredo e que se encontrava agora escondido algures num qualquer cofre no Irã.

Sentado num gabinete do Departamento de Física da Universidade de Coimbra, Tomás inclinou-se na secretária, a testa apoiada na mão, os olhos congelados na charada, a mente buscando uma estratégia para quebrar aquela cifra. A porta do gabinete abriu-se.

"Jantar", anunciou Luís Rocha, trazendo umas sanduíches e umas garrafinhas de sumo. "Não se trabalha de barriga vazia."

O físico sentou-se junto à secretária e estendeu uma sanduíche e um sumo ao seu convidado.

"O que é isto?", perguntou Tomás, analisando a sanduíche envolta em papel vegetal.

"Sandes de atum. Vendem ali numas máquinas."

O historiador trincou um pedaço e adotou uma expressão aprovadora.

"Hmm", gemeu, rolando os olhos e mastigando a sanduíche. "Já estava com fome."

"Então não havia de estar?", riu-se Luís Rocha, enquanto desembrulhava o seu sanduíche. "São onze da noite, caracas. Já tinha o estômago a dar horas..."

"Onze da noite?"

"Sim, o que pensa você? É tarde."

Sentindo o pânico crescer-lhe pelo estômago, Tomás consultou o relógio e confirmou as horas.

"Eh pá! Já só tenho... nove horas."

"Nove horas? Nove horas para quê?"

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"Para decifrar a charada." Pousou o sanduíche sobre a secretária e voltou a sua atenção para a folha amarrotada. "Preciso de trabalhar."

"Calma! Coma primeiro."

"Não posso. Já perdi demasiado tempo."

O historiador regressou ao problema da cifra, embora com a boca cheia de um grande pedaço do sanduíche de atum. O seu colega começou também a comer e arrastou a cadeira para junto de si, de modo a poder igualmente espreitar aquela página amarfanhada.

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"Essa é a mensagem cifrada, não é?"

"Sim."

"Como é que se decifra isso?"

"Não sei, teria de ler o documento. Você leu-o?"

"Sim, o professor Siza mostrou-mo."

"E ele deu-lhe alguma pista sobre como o decifrar?"

"Não. Apenas me disse que havia uma relação entre o código de cifra e o nome de Einstein."

Tomás suspirou.

"Pois, foi o que também me disse Tenzing." Coçou a cabeça. "Isso quer dizer que o nome de Einstein pode ser... uh... pode ser a palavra-chave do alfabeto de cifra. Se calhar ele usou uma cifra de César com o seu nome." Pegou na caneta e puxou uma folha branca. "Deixe cá ver."