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De novo os três dedos. "Em primeiro lugar, vigiando os soviéticos. Em segundo lugar, recrutando cérebros estrangeiros, incluindo nazis. E, em terceiro lugar, vigiando os nossos próprios cientistas. Apesar dos nossos esforços, porém, a União Soviética fez explodir a sua primeira bomba atômica em 1949, criando um clima de paranóia entre 35

nós. Começou a caça às bruxas, devido à suspeita de que tinham sido os nossos cientistas a passar o segredo para Moscovo." Pela primeira vez, Bellamy desviou os olhos de Tomás e voltou-se para Sullivan. "Greg, arranja-me um café?"

O "adido cultural" ergueu-se de um salto, parecia um soldado que acabara de escutar a ordem do general.

"Right away, mister Bellamy", disse, saindo da sala.

O olhar azul de Frank Bellamy regressou a Tomás.

"Na Primavera de 1951, o então primeiro-ministro de Israel, David Ben Gurion, veio à América recolher fundos para a sua jovem nação, nascida apenas três anos antes. Como sempre acontece nestes casos, estudamos o programa da visita e houve uma coisa que despertou a nossa atenção. Ben Gurion tinha marcado um encontro com Albert Einstein em Princeton. O meu chefe achou que deveríamos vigiar esse encontro e mandou-me, a mim e a um operacional encarregado de sistemas de gravação áudio, montar a escuta da conversa entre os dois." Consultou um pequeno bloco de notas depositado diante de si. "O encontro ocorreu no dia 15 de Maio de 1951, na casa de Einstein, em 112 Mercer Street, Princeton. Tal como o meu chefe previra, Ben Gurion pediu-lhe de facto que concebesse uma bomba atómica para Israel. Ele queria uma bomba de fabrico fácil, tão fácil que um país com escassos recursos fosse capaz de a desenvolver rapidamente e às escondidas."

"E Einstein?", perguntou Tomás, atrevendo-se pela primeira vez a interromper o seu intimidante interlocutor. "Aceitou essa encomenda?"

"O nosso geniozinho resistiu pouco." Voltou a consultar as notas. "Sabemos que começou a trabalhar no pedido de Ben Gurion logo no mês seguinte e ainda o fazia em 1954, um ano antes de morrer." Levantou os olhos do bloco. "Professor Noronha, sabe qual é a energia libertada por uma bomba atômica?"

"A energia nuclear?"

"Sim. Sabe que energia é essa?"

"Suponho que tenha a ver com os átomos, não é?"

"Tudo no universo tem a ver com os átomos, caro professor", declarou Bellamy de modo seco. “Eu pergunto-lhe se tem a noção do que é esta energia?"

Tomás quase se riu.

"Não faço a mínima idéia."

Greg Sullivan regressou à sala com uma bandeja e depositou quatro pequenas chávenas fumegantes na mesa, juntamente com um pratinho repleto de sacos de açúcar. O homem da CIA pegou na sua chávena e, sem adoçar o café, bebeu um trago.

"O universo é constituído por partículas fundamentais", disse, após pousar a chávena. "Pensava-se inicialmente que essas partículas eram os átomos, de tal modo que lhes chamaram átomos. Átomo é a palavra grega que significa indivisível. Só que, com o tempo, os físicos foram-se apercebendo de que era possível dividir o indivisível."

Aproximou o polegar do indicador, expressando algo minúsculo. "Descobriu-se que havia partículas ainda mais pequenas, designadamente o protão e o neutrão, que se juntam no núcleo do átomo, e o electrão, que o orbita como se fosse um planeta, só que incrivelmente veloz." Imitou com o indicador o gesto do electrão a circular em torno da chávena pousada na mesa. "Imagine que éramos capazes de encolher Lisboa até às dimensões de um átomo. Se o fizéssemos, um núcleo ficaria do tamanho de, por exemplo, uma das vossas bolas de futebol, colocada no centro da cidade. Nesse caso, um electrão seria um berlinde espalhado por um raio de trinta quilómetros em torno 36

desse centro, capaz de dar quarenta mil voltas em torno da bola de futebol em apenas um segundo."

"Puxa."

"Isto é só para que tenha a noção de quão vazio e pequeno é um átomo."

Tomás deu três toques na mesa.

"Então se os átomos são assim tão vazios", disse o português, "por que razão, quando eu toco nesta mesa, a minha mão bate nela e não a atravessa?"

"Bem, isso deve-se às forças elétricas de repulsão entre os electrões e a uma coisa que chamamos o Princípio de Exclusão de Pauli, que prevê que dois átomos não podem ocupar o mesmo estado."

"Ah."

"O que nos leva à questão das forças existentes no universo." Bellamy voltou a erguer os dedos, mas desta vez foram quatro. "Todas as partículas interagem entre si através de quatro forças. Quatro. A força da gravidade, a força eletromagnética, a força forte e a força fraca. A força da gravidade, por exemplo, é a mais fraca de todas, mas o seu raio de ação é infinito." Repetiu o gesto da circulação orbital à volta da chávena.

"Aqui na Terra sentimos a atracção da força de gravidade do Sol e até do centro da galáxia, em torno da qual giramos. Depois há a força eletromagnética, que é a junção da força elétrica com a força magnética. O que se passa é que a força elétrica faz com que cargas opostas se atraiam e cargas semelhantes se afastem." Bateu com o dedo na mesa. "E é aqui que está o problema. Os físicos aperceberam-se de que os protões têm carga positiva. Mas a força elétrica determina que cargas semelhantes se repelem, não é? Ora, se os protões têm cargas semelhantes, pois são todos positivos, obrigatoriamente têm de se repelir. Foram feitas as contas e descobriu-se que, se se ampliassem os protões para o tamanho de uma bola de futebol, mesmo que se cobrissem os protões com a mais forte liga metálica que se conhece, a força elétrica repulsiva entre eles era tão forte que essa liga metálica seria destruída como se fosse papel higiênico." Ergueu o sobrolho. "E para que veja quão forte é a força elétrica que repele os protões uns dos outros." Fechou o punho. "E, no entanto, apesar de toda esta força repulsiva, os protões mantêm-se unidos no núcleo. Porquê? Que força existe que é ainda mais forte do que a poderosa força elétrica?" Fez uma pausa dramática.

"Os físicos puseram-se a estudar o problema e descobriram que existia uma força desconhecida. Chamaram-lhe força nuclear forte. É uma força tão grande, tão grande, que é capaz de manter os protões unidos no núcleo." Cerrou o punho com força, como se a mão fosse a energia que mantinha o núcleo coeso. "Na verdade, a força forte é cerca de cem vezes mais forte do que a força eletromagnética. Se os protões fossem dois comboios a afastarem-se um do outro a alta velocidade, a força forte seria suficientemente forte para os manter juntos, para os impedir de se afastarem. É isso a força forte." Ergueu um dedo, como quem faz um aviso. "Mas, apesar de toda a sua tremenda força, a força forte tem um raio de ação muito curto, menos que o tamanho de um núcleo atômico. Se um protão conseguir sair do núcleo, então deixa de estar sob a influência da força forte e submete-se apenas à influência das restantes forças.