Выбрать главу

Alguém bateu à porta do quarto de forma rápida e insistente. Nenhum shienarano bateria à porta daquele jeito, muito menos à dela. Ela continuou olhando para o espelho até que seus olhos se mostrassem serenos e os pensamentos estivessem ocultos em suas profundezas escuras. Veri ficou a bolsa de couro macio pendurada em seu cinturão. Não importa quais foram os problemas que a tiraram de Tar Valon, ela vai esquecê-los assim que eu lhe contar este. Ouviu-se uma segunda batida, ainda mais vigorosa do que a primeira, antes que ela atravessasse o quarto para abrir a porta, lançando um sorriso calmo para as duas mulheres que vieram buscá-la.

Ela reconheceu ambas. A morena era Anaiya, com seu xale de franjas azuis, e a loura era Liandrin, com o xale vermelho. Liandrin não apenas parecia jovem, como de fato era. E também era bela: tinha o rosto de uma boneca, e sua boca era pequena e petulante. Já estava com a mão erguida, pronta para bater à porta mais uma vez. Suas sobrancelhas eram escuras e os olhos ainda mais, contrastando com as muitas tranças cor de mel que roçavam seus ombros, mas aquela combinação não era incomum em Tarabon. As duas eram mais altas que Moiraine, embora Liandrin fosse menos de um palmo maior.

O rosto comum de Anaiya irrompeu em um sorriso assim que Moiraine abriu a porta. Aquele sorriso era a única beleza que tinha, mas era o bastante: quase todos se sentiam reconfortados, seguros e especiais quando Anaiya sorria.

— Que a Luz brilhe sobre você, Moiraine! É bom vê-la outra vez. Você está bem? Faz tanto tempo.

— Meu coração ica mais leve com sua presença, Anaiya. — Isso, de fato, era verdade: era bom saber que tinha pelo menos uma amiga entre as Aes Sedai que haviam chegado a Fal Dara. — Que a Luz a ilumine!

Liandrin comprimiu os lábios e retorceu o xale nas mãos.

— O Trono de Amyrlin requer sua presença, Irmã. — Sua voz soava petulante e fria. Não por causa de Moiraine, ou não apenas por ela. Liandrin sempre parecia insatisfeita com alguma coisa. Franzindo a testa, ela tentou olhar para dentro do quarto por cima do ombro de Moiraine. — Esta câmara está protegida, não podemos entrar. Por que você tem selos de proteção contra suas irmãs?

— Contra todos — respondeu Moiraine, em um tom de voz suave. — Muitas serviçais são curiosas a respeito das Aes Sedai, e não quero que fiquem bisbilhotando meus aposentos quando não estou por aqui. Não havia necessidade de fazer distinção até agora. — Ela fechou a porta atrás de si. — Vamos? Não devemos deixar a Amyrlin esperando.

Ela começou a descer o corredor com Anaiya tagarelando sem parar a seu lado. Liandrin ficou parada por um momento, olhando para a porta como se imaginasse o que Moiraine tentava esconder, então correu para se juntar às outras. Ela se posicionou do outro lado de Moiraine, marchando de forma tão rígida quanto um guarda, enquanto Anaiya apenas caminhava, fazendo companhia, e seus pés calçados com sandálias batiam suavemente nos tapetes espessos decorados com padrões simples.

Ao vê-las passarem, mulheres de libré faziam mesuras profundas, muitas ainda mais profundas do que fariam para o próprio senhor de Fal Dara. Três Aes Sedai juntas e o próprio Trono de Amyrlin hospedado na fortaleza… Era mais honra do que qualquer uma delas imaginara ter em toda a vida. Algumas mulheres nobres também estavam nos corredores, e também fizeram mesuras, o que decerto não fariam para Lorde Agelmar. Moiraine e Anaiya sorriam e curvavam as cabeças em reconhecimento a cada reverência, tanto de serviçais quanto de nobres. Liandrin ignorava todas.

Não havia homens ali, é claro; apenas mulheres. Nenhum shienarano com mais de dez anos de idade podia entrar na ala das mulheres sem permissão ou convite, mas alguns menininhos corriam e brincavam nos corredores. Desajeitados, eles se ajoelhavam em uma perna, mantendo a outra dobrada, e suas irmãs faziam mesuras profundas. De vez em quando, Anaiya sorria e acariciava uma das cabecinhas, enquanto passavam pelas crianças.

— Desta vez, Moiraine — começou Anaiya —, você ficou muito tempo longe de Tar Valon. Tempo demais. Tar Valon sente sua falta, suas irmãs sentem sua falta. E a Torre Branca precisa de você.

— Algumas de nós precisam trabalhar no mundo — respondeu Moiraine, com gentileza. — Eu deixo o Salão da Torre para você, Anaiya. Mas você, que estava em Tar Valon, deve saber mais sobre o que está acontecendo no mundo do que eu. Muitas vezes, as novidades acontecem no lugar em que estive no dia anterior. Que notícias você traz?

— Mais três falsos Dragões. — Liandrin mal pôde conter a raiva. — Devastam a terra em Saldaea, Murandy e Tear três falsos Dragões. Enquanto isso, vocês, Azuis, sorriem e falam bobagens, tentando se agarrar ao passado.

Anaiya ergueu uma sobrancelha, e Liandrin comprimiu os lábios com força, fungando alto.

— Três — considerou Moiraine, em voz baixa. — Houve três nos últimos dois anos, e agora vêm mais três de uma só vez.

— Lidaremos com eles, como fizemos com os outros três. Tanto esses vermes quanto qualquer bando de vagabundos que siga seus estandartes.

Moiraine quase se divertiu com a certeza na voz de Liandrin. Quase. Mas sabia a verdade, estava ciente das possibilidades.

— Será que alguns meses foram o suficiente para você esquecer, Irmã? O último falso Dragão quase destruiu Ghealdan antes que seu exército pudesse ser derrotado, fosse ele constituído por um bando de vagabundos ou não. Sim, Logain está em Tar Valon agora, amansado e seguro, suponho, mas algumas de nossas irmãs morreram para derrotá-lo. A perda de uma irmã já é mais do que podemos suportar, mas as baixas de Ghealdan foram ainda piores. Os dois antes de Logain não podiam canalizar, mas o povo de Kandor e Arad Doman ainda assim se lembra deles muito bem. Aldeias foram queimadas e homens morreram em combate. Como o mundo poderá lidar com três de uma só vez? Quantos não se aglomerarão sob seus estandartes? Nunca houve poucos seguidores para qualquer homem que a firmasse ser o Dragão Renascido. Qual será o tamanho das guerras, desta vez?

— A situação não está tão ruim quanto parece — respondeu Anaiya. — Até onde sabemos, apenas o de Saldaea pode canalizar. Ele ainda não teve tempo de angariar muitos seguidores, e as irmãs já devem estar lá para resolver o problema. Os habitantes de Tear estão perseguindo o falso Dragão e seus seguidores em Haddon Mirk, e o sujeito em Murandy já está preso. — Ela deu uma risada curta, parecendo intrigada. — E pensar que justamente os murandianos conseguiram lidar com seu dragão mais depressa que os outros. Se você perguntar, vai descobrir que eles sequer se chamam de murandianos, mas de lugadernos, inishinnis, ou de súditos de tal lorde ou lady. No entanto, temendo que um dos vizinhos se aproveitasse da desculpa para invadir suas terras, os murandianos atacaram o falso Dragão assim que ele abriu a boca para se autoproclamar.

— Ainda assim — retrucou Moiraine —, três Falsos Dragões ao mesmo tempo é algo que não pode ser ignorado. Será que alguma irmã já profetizou algo?

A chance era pequena, poucas Aes Sedai haviam mostrado qualquer sinal, por menor que fosse, de ter esse Talento nos últimos séculos. Por isso, Moiraine não ficou surpresa quando Anaiya negou com a cabeça. Não ficou surpresa, mas um pouco aliviada.

Elas chegaram a um encontro de corredores ao mesmo tempo que Lady Amalisa. Ela fez uma grande mesura, curvando-se quase até o chão e segurando as saias verde-claras.

— Honrada seja Tar Valon — murmurou. — Honradas sejam as Aes Sedai.

A irmã do senhor de Fal Dara pedia mais do que um mero aceno de cabeça como resposta. Moiraine segurou as mãos da mulher e a fez se levantar.

— Você nos honra, Amalisa. Levante-se, Irmã.

Amalisa se endireitou com um movimento gracioso, levemente ruborizada. Ela nunca estivera em Tar Valon, e ser chamada de Irmã por uma Aes Sedai era uma grande distinção, mesmo para alguém de sua posição social. Era uma mulher morena e baixa de meia-idade, com uma beleza madura realçada pelas bochechas coradas.