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perguntando a si mesma o que a irmã estaria fazendo ali, e por

que parecia tão feliz.

Uma longa fileira de lanceiros de manto dourado segurava a

multidão, comandada por um homem forte, com uma armadura

elaborada, toda ela de laca negra e filigrana dourada. O manto

tinha o brilho metálico de ouro verdadeiro.

Quando o sino parou de soar, um silêncio foi lentamente

cobrindo a grande praça, e seu pai ergueu a cabeça e começou

a falar, com a voz tão fraca que Arya quase não conseguia

ouvir. As pessoas atrás dela começaram a gritar "Quê?", "Mais

alto!". O homem com a armadura de negro e dourado

aproximou-se do pai e aguilhoou-o com força. Arya quis gritar

Deixe-o em paz!, mas sabia que ninguém a ouviria. Mordeu o

lábio,

O pai ergueu a voz e recomeçou.

- Sou Eddard Stark, Senhor de Winterfell e Mão do Rei - disse,

mais alto, fazendo a voz chegar a toda a praça -, e venho até

vós para confessar minha traição perante os deuses e os

homens.

- Não - choramingou Arya, Por baixo dela, a multidão desatou

a berrar e a gritar. Insultos e obscenidades encheram o ar.

Sansa escondera o rosto nas mãos.

O pai ergueu a voz ainda mais alto, esforçando-se por ser

ouvido.

- Traí a fé do meu rei e a confiança do meu amigo Robert -

gritou. - Jurei defender e proteger seus filhos, mas antes ainda

que seu sangue arrefecesse conspirei para depor e matar seu

filho, e tomar o trono para mim. Que o Alto Septão, Baelor, o

Amado, e os Sete sejam testemunhas da verdade que digo:

joffrey Baratheon é o verdadeiro herdeiro do Trono de Ferro, e,

pela graça de todos os deuses, Senhor dos Sete Reinos e

Protetor do Território.

Uma pedra saltou da multidão. Arya gritou quando viu o pai

ser atingido. Os homens de manto dourado evitaram que

caísse. Sangue escorreu-lhe pelo rosto, vindo de um profundo

golpe na testa. Mais pedras se seguiram. Uma atingiu o guarda

à esquerda do pai. Outra retiniu na placa de peito do cavaleiro

com a armadura de negro e ouro. Dois homens da Guarda Real

puseram-se na frente de Joffrey e da rainha, protegendo-os

com os escudos.

A mão de Arya deslizou sob o manto e encontrou a Agulha na

bainha. Apertou os dedos em volta do cabo, com mais força do

que jamais tivera de usar. Por favor, deuses, mantenham -no

a salvo, orou, Não permitam que façam mal ao meu pai.

O Alto Septão ajoelhou perante Joffrey e sua mãe.

- Como pecamos, assim sofremos - entoou, numa voz profunda

e empolada, muito mais forte que a de Stark. - Este homem

confessou seus crimes à vista dos deuses e dos homens, aqui

neste lugar sagrado - arco-íris dançaram em volta de sua

cabeça quando ergueu as mãos numa súplica. - Os deuses são

justos, mas o Abençoado Baelor ensinou-nos que também são

misericordiosos. O que será feito com este traidor, Vossa

Graça?

Mil vozes gritavam, mas Arya não as ouviu. O Príncipe Joffrey...

não, o Rei Joffrey... saiu de trás dos escudos de sua Guarda

Real.

- Minha mãe pede-me que permita que Lorde Eddard vista o

negro, e a Senhora Sansa suplicou misericórdia para o pai -

olhou então à direita para Sansa e sorriu, e por um momento

Arya pensou que os deuses tinham ouvido sua prece, até que

Joffrey voltou a virar-se para a multidão e disse: - Mas elas têm

coração suave de mulher. Enquanto eu for vosso rei, a traição

nunca passará impune. Sor Ilyn, traga-me a cabeça dele.

A multidão rugiu, e Arya sentiu a estátua de Baelor balançar

quando todas aquelas pessoas a empurraram. O Alto Septão

agarrou a capa do rei, e Varys aproximou-se correndo,

sacudindo os braços, e até a rainha estava lhe dizendo alguma

coisa, mas Joffrey balançou a cabeça. Senhores e cavaleiros

afastaram-se quando ele passou, alto e descarnado, um

esqueleto em cota de malha, o Magistrado do Rei.

Indistintamente, mesmo que de uma grande distância, Arya

ouviu a irmã gritar. Sansa caíra de joelhos, soluçando

histericamente. Sor Ilyn Payne subiu os degraus do púlpito.

Arya contorceu-se entre os pés de Baelor e atirou-se sobre a

multidão, puxando a Agulha, Caiu em cima de um homem com

um avental de açougueiro, atirando-o ao chão. De imediato,

alguém esbarrou em suas costas, e quase que ela própria caía

também. Corpos apertavam-se em volta, tropeçando e

empurrando, pisoteando o pobre açougueiro. Arya atacou -os

com a Agulha.

Bem no alto do púlpito, Sor Ilyn Payne fez um gesto, e o

cavaleiro de negro e dourado deu uma ordem. Os homens de

manto dourado atiraram Lorde Eddard ao mármore,

projetando-lhe a cabeça e o peito sobre a borda.

- Ei, você! - gritou uma voz irritada a Arya, mas ela passou

rapidamente pelo homem, empurrando pessoas para o lado,

esgueirando-se entre elas, batendo em qualquer um que

atravessasse seu caminho. Uma mão tentou agarrar-lhe a perna,

mas ela deu um pontapé na canela dele. Uma mulher tropeçou

e Arya correu por cima das costas dela, atirando golpe s para

um lado e para o outro, mas não havia jeito, não havia jeito,

havia gente demais, assim que abria um buraco, ele voltava a

se fechar. Alguém a empurrou com uma bofetada. Ainda

conseguia ouvir os gritos de Sansa.

Sor Ilyn puxou uma espada longa da bainha que usava atada às

costas, Quando ergueu a lâmina acima da cabeça, a luz do sol

pareceu ondular e dançar no metal escuro, tremeluzindo num

gume mais afiado que qualquer navalha. Gelo, pensou Arya,

ele tem Gelo! Jorraram-lhe lágrimas pelo rosto, cegando-a.

E então uma mão projetou-se da multidão e fechou-se em

torno de seu braço como uma armadilha para lobos, com tanta

força que a Agulha lhe saltou da mão. Arya foi erguida no ar.

Teria caído se ele não a tivesse mantido suspensa com tanta

facilidade como se fosse uma boneca. Um rosto aproximou-se

do dela, cabelos negros e longos, uma barba emaranhada e

dentes podres.

- Não olhe! - rosnou-lhe uma voz espessa.

- Eu... eu... eu... - soluçou Arya.

O velho a sacudiu com tanta força que a fez bater os dentes.

- Cala a boca e fecha os olhos, rapaz - indistintamente, como

que vindo de uma grande distância, ouviu um... um ruído...

um som suave como um suspiro, como se um milhão de

pessoas tivesse expirado ao mesmo tempo. Os dedos do velho

enterraram-se em seu braço, rígidos como ferro. - Olha para

mim. Sim, é isso mesmo, para mim - vinho azedo perfumava-

lhe o hálito. - Lembrou-se, rapaz?

Foi o cheiro que avivou a recordação. Arya viu os cabelos

despenteados e oleosos, o remendado e empoeirado manto

negro que lhe cobria os ombros tortos, os duros olhos negros

que a olhavam de soslaio. E lembrou-se do irmão negro que

viera visitar seu pai.

- Agora já me conhece? Ora, aí está um rapaz inteligente -

cuspiu. - Isto aqui já acabou. Você vem comigo, e vai manter a