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um gume na espada, sor?

- Sou o mestre de armas de Winterfell, Clegane, e faria bem se não

se esquecesse disto.

- Está aqui para treinar mulheres? - quis saber o homem queimado.

Era musculoso como um touro.

- Treino cavaleiros - respondeu severamente Sor Rodrik. - Eles terão

aço quando estiverem prontos. Quando tiverem idade.

O homem queimado olhou para Robb.

- Que idade você tem, rapaz?

- Catorze anos - disse Robb.

- Matei um homem aos doze. E pode ter certeza de que não foi com

uma espada sem fio. Arya conseguia ver que Robb se irritava. Seu

orgulho estava ferido. Virou-se para Sor Rodrik.

- Deixe-me fazê-lo. Posso vencê-lo.

- Então, vença-o com uma lâmina de torneio - respondeu Sor Rodrik.

Joffrey encolheu os ombros.

- Venha ter comigo quando for mais velho, Stark. Se não já for velho

demais - soaram gargalhadas vindas dos Lannister.

As pragas de Robb ressoaram pelo pátio. Arya cobriu a boca,

chocada. Theon Greyjoy agarrou o braço de Robb a fim de mantê-lo

afastado do príncipe. Sor Rodrik coçou as suíças, consternado. Joffrey

fingiu um bocejo e virou-se para o irmão mais novo.

- Venha, Tommen - disse. - A hora da brincadeira terminou. Deixe as

crianças com seus divertimentos.

Aquilo provocou mais risos entre os Lannister, e mais pragas de

Robb. O rosto de Sor Rodrik, por baixo do branco das suíças, estava

vermelho como uma beterraba em fúria. Theon manteve Robb preso

com mão de ferro até que os príncipes e sua comitiva se fossem em

segurança.

Jon observou-os partir, e Arya observou Jon. Seu rosto tinha ficado

tão imóvel como a lagoa no coração do bosque sagrado. Por fim, ele

desceu da janela.

- O espetáculo acabou - disse. Dobrou-se para coçar Fantasma atrás

das orelhas. O lobo branco pôs-se em pé e esfregou-se contra ele. - E

melhor correr para o seu quarto, irmãzinha. Septã Mordane está sem

dúvida à espreita. Quanto mais tempo ficar escondida, mais severa a

penitência. Ficará a coser durante todo o inverno. Quando chegar o

degelo da primavera, encontrarão seu corpo ainda com uma agulha

bem presa entre os dedos congelados.

Arya não achou graça.

- Detesto costura! - disse com paixão. - Não é justo!

- Nada é justo - disse Jon. Voltou a despentear-lhe os cabelos e

afastou-se, com Fantasma a caminhar em silêncio ao seu lado.

Nymeria também começou a segui-los, mas depois parou e regressou

quando viu que Arya não ia.

Arya virou-se relutantemente na outra direção.

Foi pior do que Jon pensara. Não era Septã Mordane quem a

esperava no quarto. Eram Septã Mordane e sua mãe.

Bran

Os caçadores partiram de madrugada. O rei desejava javali para o

festim da noite. Príncipe Joffrey ia com o pai, e, por esse motivo,

Robb foi também autorizado a juntar-se ao grupo. Tio Benjen, Jory,

Theon Greyjoy, Sor Rodrik e até o pequeno e engraçado irmão da

rainha iam com eles. Afinal, era a última caçada. Na manhã seguinte

partiriam para o Sul.

Bran fora deixado para trás com Jon, as meninas e Rickon. Mas

Rickon era só um bebê, as meninas eram apenas meninas, e não

encontravam Jon e seu lobo em lugar nenhum. Bran não o procurou

com muita força. Pensava que Jon estivesse zangado com ele. Por

aqueles dias, Jon parecia estar zangado com todo mundo. Bran não

sabia por quê. Ele ia com Tio Ben para a Muralha, juntar-se à

Patrulha da Noite. Isso era quase tão bom como ir para o Sul com o

rei. Era Robb quem ia ser deixado para trás, não Jon.

Ao longo de vários dias, Bran quase não conseguia esperar pela

partida. Ia percorrer a estrada do rei montado num cavalo seu, não

um pônei, mas um cavalo verdadeiro. O pai seria Mão do Rei, e

viveriam no castelo vermelho em Porto Real, o castelo que os

Senhores do Dragão tinham construído. A Velha Ama dizia que havia

lá fantasmas, e masmorras onde tinham sido feitas coisas terríveis, e

cabeças de dragão nas paredes. Bran arrepiava-se só de pensar nisso,

mas não tinha medo. Como podia ter? O pai estaria com ele, e

também o rei, com todos os seus cavaleiros e homens de armas.

O próprio Bran um dia seria um cavaleiro, um membro da Guarda

Real. A Velha Ama dizia que eram os melhores espadachins de todo

o reino. Eram apenas sete, usavam armaduras brancas e não tinham

esposas nem filhos, viviam apenas para servir o rei. Bran conhecia

todas as histórias. Os nomes deles eram como música para os seus

ouvidos. Serwyn do Escudo Espelhado; Sor Ryam Redwyne; Príncipe

Aemon, o Cavaleiro do Dragão; os gêmeos, Sor Erryk e Sor Arryk,

que tinham morrido pelas espadas um do outro havia centenas de

anos, quando irmãos lutavam contra irmãs na guerra que os poetas

chamavam a Dança dos Dragões; Touro Branco, Gerold Hightower;

Sor Arthur Dayne, a Espada da Manhã; e Barristan, o Ousado.

Dois dos Guardas do Rei tinham vindo para o Norte com Rei Robert.

Bran observara-os, fascinado, sem chegar a se atrever a dirigir-lhes a

palavra. Sor Borós era um homem calvo com um maxilar largo, e Sor

Meryn tinha olhos inclinados e uma barba cor de ferrugem. Sor

Jaime Lannister parecia-se mais com os cavaleiros das histórias e

também pertencia à Guarda do Rei, mas Robb dizia que ele tinha

matado o velho rei louco e já não contava. O maior cavaleiro vivo era

Sor Barristan Selmy, Barristan, o Ousado, o Senhor Comandante da

Guarda do Rei. O pai prometera que conheceriam Sor Barristan

quando chegassem a Porto Real, e Bran marcara a passagem dos dias

na parede do quarto, ansioso por partir, por ver um mundo com que

só sonhara e começar uma vida que quase nem conseguia imaginar.

Mas agora que o último dia se aproximava, repentinamente Bran

sentia-se perdido. Winterfell era a única casa que conhecera. O pai

dissera-lhe que devia fazer hoje as suas despedidas, e ele tentou.

Depois de os caçadores terem partido, vagueou pelo castelo com o

lobo a seu lado, tencionando visitar aqueles que ficariam ali, a Velha

Ama e o cozinheiro Gage, Mikken na sua forja, Hodor, o cavalariço

que sorria tanto, cuidava de seu pônei e nunca dizia nada que não

fosse "Hodor"; o homem nos jardins de vidro que lhe dava uma

amora silvestre sempre que ia visitá-lo...

Mas foi inútil. Dirigiu-se primeiro ao estábulo e viu seu pônei na

baia, mas já não era seu pônei, pois teria um cavalo verdadeiro e

deixaria o pônei para trás, e de repente quis apenas sentar e chorar,

Virou-se e fugiu dali antes que Hodor e os outros moços da

estrebaria lhe vissem as lágrimas nos olhos. Foi o fim das despedidas.

Em lugar delas, passou a manhã sozinho no bosque sagrado,

tentando sem sucesso ensinar o lobo a buscar um pedaço de pau. O

lobinho era mais inteligente que qualquer dos cães no canil do pai, e

Bran juraria que entendia cada palavra que lhe era dita, mas

mostrava muito pouco interesse em perseguir pedaços de pau.

Ainda andava à procura de um nome. Robb chamara ao seu cão

Vento Cinzento porque ele corria muito depressa. Sansa chamara

Lady ao seu, e Arya dera ao seu o nome de uma rainha qualquer