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vermelha pendurada sobre a porta. Na Muralha podia-se ouvir

os homens chamando às prostitutas "tesouros enterrados", Jon

perguntou a si mesmo se algum de seus irmãos de negro

estaria lá embaixo naquela noite, escavando. Isso também era

quebra de votos, mas ninguém parecia se importar.

Só bem depois de passar pela vila é que Jon voltou a reduzir o

passo. Nessa altura ele e a montaria já estavam úmidos de

suor. Desmontou, tremendo, com a mão queimada doendo. En-

controu um monte de neve que derretia sob as árvores, clara

ao luar, pingando água que ia formar pequenos charcos pouco

profundos. Jon acocorou-se e juntou as mãos em taça,

aprisionando a água corrente entre os dedos. A neve derretida

estava fria como gelo. Bebeu, espalhou um pouco no rosto, até

sentir um formigamento nas bochechas. Os dedos latejavam

mais do que em qualquer dos últimos dias, e também sentia a

cabeça palpitar. Estou fazendo o que é certo, disse a si

mesmo, então, por que me sinto tão mal?

O cavalo estava espumando, e Jon pegou nas rédeas e o levou a

pé durante algum tempo. A estrada quase não era

suficientemente larga para que dois cavaleiros passassem lado a

lado, com o piso entrecortado por pequenos córregos e cheio

de pedras. Aquela corrida fora realmente estúpida, um convite

para um pescoço quebrado. Jon se questionou o que lhe teria

dado. Estaria assim com tanta pressa de morrer? No meio das

árvores, o grito distante de um animal assustado qualquer o

fez erguer os olhos, A égua relinchou nervosamente. Teria o

lobo encontrado alguma presa? Envolveu a boca nas mãos.

- Fantasma1. - gritou. - Fantasma, a mim - a única resposta foi

um rumor de asas atrás de si quando uma coruja levantou vôo.

Franzindo as sobrancelhas, Jon prosseguiu caminho. Levou a

égua durante meia hora, até que ela secou. Fantasma não

apareceu. Jon queria montar e voltar a cavalgar, mas estava

preocupado com o lobo desaparecido.

- Fantasma - voltou a chamar. - Onde está? A mim! Fantasma!

- nada naquela floresta podia incomodar um lobo gigante, até

um lobo gigante meio crescido, a menos que... não, Fantasma

era inteligente demais para atacar um urso, e se houvesse uma

alcateia de lobos nas imediações, Jon certamente os teria

ouvido uivando.

Devia comer, decidiu. Os alimentos lhe acalmariam o estômago

e dariam a Fantasma a chance de alcançá-lo. Ainda não havia

perigo; Castelo Negro ainda dormia. No alforje encontrou um

biscoito, um pedaço de queijo e uma pequena maçã escura e

murcha. Trouxera também carne de vaca salgada e uma fat ia

de bacon que surrupiara das cozinhas, mas queria poupar a

carne para o dia seguinte. Depois de ficar sem ela, teria de

caçar, e isso por hora o atrasaria.

Jon sentou-se sob as árvores e comeu biscoito e queijo

enquanto a égua pastava ao longo da Estrada do Rei. Deixou a

maçã para o fim. Tinha se tornado um pouco mole, mas a

polpa ainda estava ácida e sumarenta. Já chegara ao caroço

quando ouviu os sons: cavalos, vindos do norte. Rapidamente,

Jon saltou e correu para a égua. Poderia fugir? Não, estavam

perto demais, certamente os ouviriam, e se viessem de Castelo

Negro...

Levou a égua para longe da estrada, para trás de uma espessa

mata de árvores-sentinela cinza-- esverdeadas.

- Agora silêncio - disse, numa voz abafada, agachando-se a fim

de espreitar por entre os ramos. Se os deuses fossem bondosos,

os cavaleiros passariam sem detectá-lo. O mais provável era

que fossem apenas pessoas simples de Vila Toupeira,

lavradores a caminho dos campos, se bem que, o que estariam

fazendo na estrada no meio da noite...

Ficou ouvindo o som dos cascos que aumentava a um ritmo

constante, enquanto os cavalos se aproximavam a trote rápido

pela Estrada do Rei. Julgando pelo ruído, eram pelo menos

cinco ou seis cavaleiros. As vozes esgueiraram-se por entre as

árvores.

- ...certeza de que ele veio por aqui?

- Não podemos ter certeza..

- Tanto quanto sabem, pode bem ter se dirigido para o leste.

Ou abandonado a estrada para cortar através da floresta. Era o

que eu faria.

- Na escuridão? Estúpido. Se não caísse do cavalo e quebrasse o

pescoço, se perderia e acabaria de volta à Muralha quando o

sol nascesse.

- Não acabava nada - Grenn soava irritado. - Cavalgava para o

sul. Pode-se guiar pelas estrelas.

- E se o céu estivesse nublado? - perguntou Pyp.

- Então não ia.

Outra voz interrompeu.

- Sabem onde eu estaria, se fosse comigo? Em Vila Toupeira,

para escavar tesouros enterrados - o riso estridente do Sapo

trovejou através das árvores. A égua de jon resfolegou.

- Calem-se todos - disse Halder. - Acho que ouvi qualquer

coisa.

- Onde? Não ouvi nada - os cavalos pararam.

- Você não consegue ouvir o próprio peido.

- Consigo, sim - insistiu Grenn.

- Calem-se!

Caíram todos no silêncio, à escuta. Jon deu por si prendendo a

respiração. Sam, pensou. Não fora até o Velho Urso, mas

também não fora para a cama, acordara os outros rapazes.

Malditos sejam todos. Chegada a alvorada, se não estivessem

nas camas, seriam também chamados desertores. Que

pensavam eles que estavam fazendo?

O silêncio abafado pareceu esticar-se e voltar a esticar-se. De

onde Jon espreitava, conseguia ver as pernas dos cavalos deles

através dos galhos. Por fim, Pyp falou.

- Que foi que ouviu?

- Não sei - admitiu Halder. - Um som, pensei que pudesse ser

um cavalo, mas...

- Ali não há nada.

Pelo canto do olho Jon vislumbrou uma forma branca que se

deslocava por entre as árvores. Ouviu-se o restolhar de folhas,

e Fantasma saiu das sombras aos saltos, tão subitamente que a

égua de Jon se assustou e soltou um relincho.

- Ali! - gritou Halder.

- Também ouvi!

- Traidor - disse Jon ao lobo gigante enquanto saltava para a

sela. Virou a cabeça da égua para escapulir por entre as

árvores, mas eles estavam em cima antes que avançasse três

metros.

-Jon! - gritou Pyp às suas costas.

- Para - disse Grenn, - Não pode escapar de todos.

Jon fez rodopiar a montaria para enfrentá-los, puxando a

espada.

- Voltem. Não quero machucar ninguém, mas o farei se tiver de

ser.

- Um contra sete? - Halder fez um sinal. Os rapazes

espalharam-se, rodeando-o.

- Que querem de mim? - Jon quis saber.

- Queremos levá-lo de volta para o seu lugar - disse Pyp.

- Meu lugar é com meu irmão.

- Seus irmãos agora somos nós - disse Grenn.

- Eles cortam sua cabeça se o apanharem, sabe? - Sapo soltou

uma gargalhada nervosa. -Isto é tão estúpido, é como alguma

coisa que um auroque poderia fazer.

- Não é nada - disse Grenn. - Não sou perjuro nenhum. Disse

as palavras e foi a sério.

- Eu também - disse-lhes Jon. - Não compreendem? Eles

assassinaram meu pai. É a guerra, meu irmão Robb está

lutando nas terras do rio...