se esta espada pudesse trazê-lo de volta, eu nunca deixaria que
a embainhasse até que Ned estivesse de novo ao meu lado...
Mas ele partiu, e uma centena de Bosques dos Murmúrios não
mudarão isso. Ned partiu, tal como Daryn Hornwood, tal como
os valentes filhos de Lorde Karstark, tal como muitos outros
bons homens, e nenhum deles regressará para nós.
Precisaremos ainda de mais mortes?
- É uma mulher, senhora - estrondeou Grande-Jon com sua voz
grave, - As mulheres não compreendem estas coisas.
- É o sexo gentil - disse Lorde Karstark, com rugas de dor
frescas no rosto. - Um homem tem necessidade de vingança.
- Dê-me Cersei Lannister, Lorde Karstark, e verá quão gentil
uma mulher pode ser - respondeu Catelyn. - Eu talvez não
compreenda as táticas e a estratégia... mas compreendo a futi-
lidade. Partimos para a guerra quando os exércitos Lannister
assolavam as terras do rio, e Ned era um prisioneiro,
falsamente acusado de traição. Lutamos para nos defender e
para conquistar a liberdade do meu senhor. Pois bem, uma
parte está feita, e a outra, para sempre além do n osso alcance.
Farei luto por Nec! até o fim dos meus dias, mas tenho de
pensar nos vivos. Quero as minhas filhas de volta, e a rainha
ainda as tem. Se tiver de trocar os nossos quatro Lannister
pelas duas Stark deles, chamarei a isso uma pechincha e darei
graças aos deuses. Quero-o a salvo, Robb, governando em
Winterfell do assento do seu pai. Quero que desfrute sua vida,
que beije uma moça, case com uma mulher e gere um filho.
Quero pôr fim a isto. Quero ir para casa, senhores, e chorar
pelo meu esposo.
O salão ficou muito silencioso quando Catelyn parou de falar.
- Paz - disse o tio Brynden. - A paz é doce, minha senhora...
mas em que termos? De nada serve forjar um arado a partir de
uma espada se for necessário forjar de novo a espada no dia
seguinte.
- Para que morreram Torrhen e o meu Eddard, se tiver de
regressar a Karhold sem nada a não ser os seus ossos? -
perguntou Rickard Karstark.
- Sim - disse Lorde Bracken, - Gregor Clegane arrasou meus
campos, massacrou meu povo e transformou Barreira de Pedra
em uma ruína fumegante. Deverei agora dobrar o joelho
àqueles que lhe deram as ordens? Para que lutamos, se
pusermos tudo como era antes?
Lorde Blackwood concordou, para surpresa e desânimo de
Catelyn.
- E se fizéssemos a paz com o Rei Joífrey, não seríamos entã o
traidores para o Rei Renly? E se o veado vencer o leão, em que
situação ficaremos?
- Seja o que for que decidirem, nunca chamarei um Lannister
de rei - declarou Marq Piper.
- Nem eu! - gritou o pequeno Derry. - Nunca o farei!
De novo começaram os gritos. Catelyn sentou-se, desesperada.
Estivera tão perto, pensou. Tinham quase escutado, quase,.,
mas o momento passara. Não haveria paz, não haveria pos -
sibilidade de sarar, não haveria segurança. Olhou para o filho,
observou-o enquanto escutava o debate dos senhores, de
sobrancelha franzida, perturbado, mas casado com a sua
guerra. Tinha prometido desposar uma filha de Walder Frey,
mas agora Catelyn via claramente a sua esposa: a espada que
pousara na mesa.
Catelyn estava pensando nas filhas, perguntando-se se alguma
vez voltaria a vê-las, quando Grande-Jon se pôs em pé de um
salto, - senhores! - gritou, fazendo a voz reverberar nas traves. -
Eis o que eu digo a esses dois reis! - cuspiu. - Renly Baratheon
não é nada para mim, e Stannis também não. Por que haveriam
de governar a mim e aos meus de uma cadeira florida qualquer
em Jardim de Cima ou Dorne? Que sabem eles da Muralha ou
da Mata de Lobos, ou das sepulturas dos Primeiros Homens?
Até os seus deuses estão errados. Que os Outros levem
também os Lannister, já tive deles mais do que a minha conta -
esticou a mão atrás do ombro e puxou a sua imensa espada
longa de duas mãos. - Por que não havemos de nos governar
de novo a nós próprios? Foi com os dragões que casamos, e os
dragões estão todos mortos! - apontou com a lâmina para
Robb. - Está ali o único rei perante o qual pretendo vergar o
meu joelho, senhores - trovejou. - O Rei do Norte!
Ajoelhou-se, e depositou a espada aos pés do filho de Catelyn.
- Aceitarei a paz nesses termos - disse Lorde Karstark. - Podem
ficar com o seu castelo vermelho e com a sua cadeira de ferro
também - tirou a espada da bainha. - O Rei do Norte! - disse,
ajoelhando-se ao lado de Grande-Jon.
Maege Mormont pôs-se em pé.
- O Rei do Inverno! - declarou, e pousou sua maça de espigões
ao lado das espadas. E os senhores do rio também estavam se
erguendo, Blackwood, Bracken e Mallister, casas que nunca ti -
nham sido governadas por Winterfell, mas Catelyn viu-os
erguer-se e puxar as lâminas, vergando os joelhos e gritando as
velhas palavras que não eram ouvidas no reino havia mais de
trezentos anos, desde que Aegon, o Dragão, chegara para fazer
dos Sete Reinos um só... mas agora eram ouvidas de novo,
ressoando no madeirame do salão de seu pai:
- O Rei do Norte!
- O Rei do Norte!
- O Rei do Norte!
Daenerys
A terra era vermelha, morta e ressequida, e era difícil
encontrar boa madeira. Os forrageiros regressaram com
algodoeiros nodosos, arbustos roxos, feixes de grama seca.
Abateram as duas árvores menos retorcidas, desbastaram os
galhos, arrancaram a casca e dividiram-nas, dispondo as toras
em quadrado. Encheram o centro com palha, arbustos, aparas
de casca de árvore e fardos de mato seco. Rakharo escolheu um
garanhão da pequena manada que lhes restava; não era tão
nobre como o vermelho de Khal Drogo, mas poucos cavalos o
eram. No centro do quadrado, Aggo deu-lhe uma maçã mirrada
e o abateu num instante com um golpe de machado dado entre
os olhos.
Atada de pés e mãos, Mirri Maz Duur observava da poeira com
inquietação em seus olhos negros.
- Não basta matar um cavalo - disse a Dany, - Em si mesmo, o
sangue não é nada. Não sabe as palavras para fazer um feitiço,
nem tem a sabedoria para encontrá-las. julga que a magia de
sangue é um jogo de crianças? Chamam-me maegi como se
fosse uma praga, mas tudo o que isso significa é sábio. E uma
criança, com a ignorância de uma criança. Seja o que for que
pretenda fazer, não dará resultado. Solte-me destes nós, e eu a
ajudo.
- Estou farta dos zurros da maegi - disse Dany a Jhogo. Ele
brindou-a com o chicote, e depois daquilo a esposa de deus
manteve-se em silêncio.
Por cima da carcaça do cavalo, construíram uma plataforma de
toras decepadas; troncos de árvores menores e braços das
maiores, e os mais grossos e direitos galhos que conseguiram
encontrar. Dispuseram a madeira de leste para oeste, do
nascente ao poente. Sobre a plataforma, empilharam os
tesouros de Khal Drogo: sua grande tenda, os coletes pintados,