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a gente estava mergulhada no tumulto da partida.

Robb encontrava-se no meio da confusão, gritando ordens com os

melhores desses homens. Parecia ter crescido ultimamente, como se

a queda de Bran e o colapso da mãe o tivessem de algum modo

tornado mais forte. Vento Cinzento estava a seu lado.

- Tio Benjen anda à sua procura - ele disse a Jon. - Queria ter partido

há uma hora.

- Eu sei - Jon respondeu. - Em breve - olhou em volta, para todo o

ruído e confusão. - Partir é mais difícil do que eu pensava.

- Para mim também - disse Robb. Tinha neve nos cabelos, que

derretia com o calor do corpo. - Você o viu?

Jon fez um aceno, por não confiar na voz.

- Ele não vai morrer - disse Robb. - Eu sei.

- Vocês, os Stark, são difíceis de matar - concordou Jon. A voz saiu

sem entoação e cansada. A visita tinha levado toda sua força.

Robb percebeu que havia algo de errado.

- A minha mãe,.

- Ela foi... muito amável - disse-lhe Jon. Robb pareceu aliviado.

- Ótimo - sorriu. - Da próxima vez que o vir, estará todo de negro.

Jon forçou-se a devolver o sorriso.

- Sempre foi a minha cor. Daqui a quanto tempo pensa que isso

acontecerá?

- Não muito - prometeu Robb. Puxou Jon para si e lhe deu um forte

abraço. - Até a vista, Snow.

Jon devolveu o abraço.

- Até a vista, Stark. Cuide de Bran.

- Cuidarei - afastaram-se e olharam um para o outro, embaraçados. -

Tio Benjen disse para mandá-lo para os estábulos se o visse - disse

Robb por fim.

- Tenho mais uma despedida a fazer - informou Jon.

- Então não o vi - respondeu Robb. Jon o deixou ali, na neve, rodeado

de carroças, lobos e cavalos. Era uma curta caminhada até o armeiro.

Recolheu seu embrulho e dirigiu-se pela ponte coberta até a Torre.

Arya estava no seu quarto, enchendo uma arca de pau-ferro polido

que era maior que ela. Nymeria a ajudava. Arya só tinha de apontar,

e a loba atravessava o quarto de um salto, abocanhava algum bocado

de seda e o trazia de volta. Mas quando farejou Fantasma, sentou-se

e soltou um ganido.

Arya olhou para trás, viu Jon e pôs-se em pé de um salto. Atirou-lhe

os braços magros com torça ao pescoço.

- Temia que já tivesse partido - ela disse, com um nó na garganta. -

Não me deixaram sair para dizer adeus.

- O que foi que você fez agora? - a voz de Jon soava divertida. Arya o

largou e fez uma careta.

- Nada. Estava de malas feitas e tudo - indicou com um gesto a

enorme arca, que não estava mais que um terço cheia, e as roupas

espalhadas por todo o quarto. - Septã Mordane diz que tenho de

fazer tudo outra vez. Não tinha as coisas dobradas como deve ser,

uma senhora respeitável do Sul não se limita a atirar a roupa para

dentro da arca como trapos velhos, ela me disse.

- E foi isso o que você fez, irmãzinha?

- Bem, a roupa vai ficar toda bagunçada de qualquer modo - disse

Arya. - Quem se importa como está dobrada?

- Septã Mordane - Jon respondeu. - E também não me parece que ela

goste de ver Nymeria ajudando - a loba olhou-o em silêncio com seus

escuros olhos dourados. - Mas ainda bem. Tenho uma coisa que

quero que leve contigo, e tem de ser muito bem embalada.

O rosto dela iluminou-se.

- Um presente?

- Pode dar-lhe esse nome. Feche a porta. Desconfiada, mas excitada,

Arya verificou o átrio.

- Nymeria, aqui. Guarda - deixou a loba do lado de fora a fim de

avisá-los se intrusos se aproximassem e fechou a porta. Nessa altura,

Jon tinha já removido os panos em que embrulhara a coisa.

Apresentou-a à irmã.

Os olhos de Arya abriram-se muito. Olhos negros, como os dele.

- Uma espada - disse ela numa voz baixa e segredada.

A bainha era de suave couro cinzento, tão maleável como o pecado.

Jon desembainhou a lâmina devagar, para que ela visse o profundo

brilho azul do aço.

- Isto não é um brinquedo - disse-lhe. - Tenha cuidado para não se

cortar. O gume é suficientemente afiado para fazer a barba.

- Moças não fazem a barba - disse Arya.

- Mas talvez devessem. Já viu as pernas da septã?

Ela riu.

- É tão fininha.

- Tal como você - disse-lhe Jon. - Mandei Mikken fazer isto

especialmente para você. Os espadachins usam espadas destas em

Pentos, Myr e nas outras Cidades Livres. Não arrancará a cabeça de

um homem, mas pode enchê-lo de buracos se for suficientemente

rápida.

- Eu posso ser rápida - disse Arya.

- Terá de treinar todos os dias - colocou a espada em suas mãos,

mostrou-lhe como pegar e deu um passo para trás. - Como você a

sente? Gosta do equilíbrio?

- Acho que sim - disse Arya.

- Primeira lição - disse Jon. - Espete neles a ponta aguçada.

Arya deu-lhe uma pancada no braço com a parte plana da lâmina. O

golpe doeu, mas Jon começou a sorrir como um idiota.

- Eu sei qual é a ponta que se usa - disse Arya. Um olhar de dúvida

atravessou-lhe o rosto. - Septã Mordane vai tirá-la de mim.

- Não, se não souber que a tem - disse Jon.

- Com quem hei de treinar?

- Há de encontrar alguém - prometeu-lhe Jon. - Porto Real é uma

verdadeira cidade, mil vezes maior que Winterfell. Até encontrar um

parceiro, observe como lutam no pátio. Corra, ande a cavalo,

fortaleça-se. E, faça o que fizer...

Arya sabia o que vinha a seguir. Os dois disseram ao mesmo tempo:

- ... não... conte... a... Sansa!

Jon afagou-lhe os cabelos.

- Vou sentir sua falta, irmãzinha. De súbito, ela pareceu quase

chorar.

- Queria que viesse conosco.

- Por vezes, estradas diferentes vão dar no mesmo castelo. Quem

sabe? - estava se sentindo melhor agora. Não ia permitir a si próprio

ficar triste. - Tenho de ir. Acabarei passando o primeiro ano na

Muralha a despejar penicos se deixar Tio Benjen à espera mais

tempo.

Arya correu para ele para um último abraço,

- Largue a espada primeiro - Jon a preveniu, rindo. Ela pôs a arma de

lado quase timidamente e o encheu de beijos.

Quando ele se virou, já na porta, ela estava de novo com a espada na

mão, testando seu equilíbrio.

- Ia me esquecendo - disse. - Todas as melhores espadas têm nomes.

- Como a Gelo - disse ela. Olhou a espada que tinha na mão. - E

esta, tem nome? Ah, diga-me.

- Não adivinha? - brincou Jon. - A sua coisa favorita.

Arya a princípio pareceu desorientada. Mas depois compreendeu. Era

assim: rápida. Os dois disseram juntos:

- Agulha!

A memória da gargalhada dela o aqueceu ao longo da demorada

viagem para o Norte.

Daenerys

Targaryen desposou Khal Drogo com medo, e um esplendor bárbaro,

num descampado para lá das muralhas de Pentos, pois os dothrakis

acreditavam que todas as coisas importantes na vida de um homem

deviam ser feitas a céu aberto.

Drogo chamou seu khalasar para servi-lo e eles vieram, quarenta mil

guerreiros dothrakis e um número incontável de mulheres, crianças e

escravos. Acamparam fora das muralhas da cidade com suas vastas

manadas de gado, erguendo palácios de erva trançada, comendo tudo

o que encontravam e tornando o bom povo de Pentos mais ansioso a

cada dia que passava,

- Meus colegas magísteres duplicaram o tamanho da guarda da