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escola, e incapaz tanto de competir quanto de cooperar. Sempre invejando todos os garotos normalmente bem-sucedidos, odiando-os porque os invejava e, para sentir-se melhor, desprezando-os como se fossem inferiores. Quando chegou à puberdade, Adolf atrasou-se sexualmente. Enquanto os outros rapazolas faziam seus avanços com as mocinhas e eram correspondidos, ele era acanhado demais e cheio e incertezas quanto à sua virilidade. Durante todo esse período, permaneceu incapaz de fazer qualquer trabalho regular, somente ficando à vontade no seu «outro mundo» imaginário. Naquele mundo era um Michelângelo, enquanto no mundo real não conseguia desenhar, pois seus únicos atributos eram o ódio, a astúcia baixa, um par de infatigáveis cordas vocais e o dom de falar interminavelmente, com brados que vinham das profundezas de sua paranóia de «Peter Pan». O preço que o mundo teve de pagar pela maturidade retardada do pequeno Adolf foi de trinta ou quarenta milhões de vidas, e somente os céus sabem calcular quantos bilhões de dólares foram gastos. Felizmente a maioria dos meninos cujo desenvolvimento é muito lento nunca tem uma oportunidade de ultrapassar o nível de delinqüentes secundários. Mesmo esses, se forem em grande número, podem exigir um preço bem elevado. Essa é a razão pela qual tentamos podá-los quando ainda em botão. Melhor seria dizer que, desde que sabemos estar lidando com «Peter Pans», tentamos fazer com que esses «botões» que já foram podados desabrochem e floresçam.

— E têm sucesso?

O dr. Robert assentiu com um sinal de cabeça e respondeu:

— Não é muito difícil, principalmente quando se começa bem cedo. Quando nossas crianças estão entre os quatro e meio e os cinco anos de idade, são cuidadosamente examinadas. Fazem exames de sangue, testes psicológicos e são classificadas bio-tipologicamente. Depois disso tiramos radiografias dos punhos e fazemos um eletroencefalograma. Todos os «Peter Pans» infantis são facilmente descobertos e um tratamento adequado é imediatamente iniciado. Cerca de um ano depois, quase todos estão perfeitamente normais. Uma safra de incapazes, de criminosos, de tiranos em potencial, de sadistas cujo único objetivo é a própria revolução, foi transformada em uma safra de cidadãos úteis e que podem ser governados ademdena asatthena, isto é, sem punição e sem pancada. Na sua parte do mundo, o problema da delinqüência ainda é entregue ao clero, aos assistentes sociais e à polícia. Sermões intermináveis e terapêutica protetora, e abundância de sentenças de prisão. Quais os resultados? O índice de criminalidade sobe constantemente. E isso não deve causar admiração, pois palavras acerca da competição entre irmãos, o inferno e a personalidade de Jesus não modificam o bioquimismo. Um ano na prisão não cura o desequilíbrio endocrínico e tampouco ajuda o «Peter Pan» a se livrar de suas conseqüências psicológicas. Para curar a delinqüência tipo «Peter Pan» é necessário que o diagnóstico seja feito precocemente e que esses doentes tomem três cápsulas cor-de-rosa, diariamente, antes das refeições. Se proporcionarmos um ambiente tolerável, depois de dezoito meses teremos como resultado um tranqüilo bom senso e uma pequena dose das virtudes fundamentais. Assim, onde antes não havia a mínima possibilidade de uma possível prajnaparamita e karuna, há boa chance de sabedoria e compaixão. Peça agora a Vijaya para lhe falar a respeito dos «homens músculos». Como você já deve ter observado, ele é um deles. — Curvando-se um pouco para frente, o dr. Robert bateu com a mão nas costas do gigante, dizendo: — Pura carne! — e acrescentou: — Que sorte para nós, simples camarões, que este animal não seja selvagem!

Vijaya tirou uma das mãos do volante do jipe, bateu-a no peito e rugiu alta e ferozmente.

— Não provoquem o gorila! — disse, sorrindo bem-humorado. — Pense em Josef Vissarionovich Stalin, que foi outro grande ditador — disse a Will. — Enquanto Hitler é o exemplo mais perfeito do delinqüente tipo «Peter Pan», Stalin é o exemplo supremo do delinqüente tipo «homem músculo», predestinado pela sua própria constituição a ser um extrovertido. Não um dos rotundos e suaves extrovertidos que anseiam por uma união indiscriminada, e sim o extrovertido barulhento e ativo, daqueles que sentem um impulso constante de fazer «alguma coisa» e que nunca são obstados por dúvidas, escrúpulos, simpatias ou emoções. No seu testamento, Lenin aconselhou aos seus sucessores a se livrarem de Stalin: o homem que gostava tanto do poder que podia chegar a se exceder. Mas o conselho veio tarde demais. Stalin já estava tão firme que não podia mais ser derrubado. Decorridos dez anos, seu poder era absoluto. Trotsky tornara-se inofensivo e todos os seus antigos companheiros haviam sido expulsos. Era um deus no meio de um coro de anjos! Estava só, num pequeno e confortável céu, habitado por bajuladores e «homens-sim». Durante esse período, ocupou-se arduamente com o extermínio dos fazendeiros, com a organização de fazendas coletivas, com a indústria de material bélico e com o deslocamento de milhões de camponeses relutantes para as fábricas. Trabalhava tenaz e eficientemente e com uma lucidez que o «Peter Pan» alemão (envolvido pelas fantasias apocalípticas e pela instabilidade dos seus humores) era totalmente incapaz de ter. Compare a estratégia de Hitler com a de Stalin na última fase da guerra. O cálculo frio em oposição aos sonhos compensadores, o realismo cru contra as tolices retóricas de Hitler das quais ele mesmo chegava a se convencer. Dois monstros semelhantes na delinqüência, porém extremamente diferentes nos temperamentos, nas motivações inconscientes e na eficiência. Os «Peter Pans» são excelentes para começar as guerras e revoluções, mas cabe aos «homens músculos» conduzi-las a uma conclusão satisfatória.

Interrompendo-se, Vijaya agitou a mão em direção a um grande amontoado de árvores, que pareciam querer,bloquear-lhes a subida, e disse em outro tom de voz:

— Eis a selva.

Minutos depois, deixaram o clarão da encosta descampada e penetraram num túnel verde e penumbroso que ziguezagueava encosta acima, entre verdadeiros paredões de folhagem tropical. As trepadeiras pendiam dos galhos arqueados e, entre os imensos troncos de árvores, samambaias e rododendros de folhas escuras cresciam em meio a uma densa profusão de arbustos e moitas.

A medida que Will olhava em volta, achava tudo desconhecido e estranho. A atmosfera estava muito úmida e sentia-se o cheiro quente e acre que emanava da luxuriante vegetação e da outra espécie de vida que é a decadência. Abafado pela densa folhagem, Will ouviu a distância o som de machados e o chiar ritmado de uma serra. Subitamente, depois de outra curva, a escuridão verde do túnel cedeu lugar à luz do sol. Haviam chegado a uma clareira da floresta. Meia dúzia de Ienhadores altos, espadaúdos e quase nus se ocupavam em podar os galhos de uma árvore recém-abatida. A luz solar, centenas de borboletas azuis e cor-de-ametista se perseguiam mutuamente, esvoaçando e planando numa dança infindável e sem nexo. No lado mais afastado da clareira, um homem idoso mexia o conteúdo de um caldeirão de ferro que estava sendo aquecido sobre uma fogueira. Nas imediações, um cervo domesticado, de membros finos, graciosamente malhado, pastava tranqüilo.

— São velhos amigos — disse Vijaya. Em seguida, gritou-lhes algo em palanês. Os lenhadores responderam e fizeram sinais com as mãos. Mais uma curva brusca para a esquerda e começaram a subir novamente pelo verde túnel vegetal.

— Falando de «homens músculos», aqueles eram realmente espécimes esplêndidos — disse Will, enquanto deixavam a clareira.

— Esse tipo de físico é uma tentação permanente — disse Vijaya. — No entanto, entre todos eles (e eu trabalhei com muitos) nunca encontrei um só tirano ou um «amante do poder», potencialmente perigoso.

— Isto é outro modo de dizer que ninguém aqui tem a menor ambição — interrompeu Murugan com desprezo.

— Qual é a explicação para esse fato? — perguntou Will.