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— Para exemplificar — disse Mrs. Narayan —, resumirei o assunto: tomemos um problema matemático que no estado normal levaríamos cerca de meia hora para solucionar. Mas agora se tem a capacidade de distender o tempo de tal maneira que cada minuto equivale subjetivamente a trinta… Começando a trabalhar no problema, em trinta minutos subjetivos estará resolvido. Contudo, esses trinta minutos subjetivos se resumem a um minuto cronológico. Sem que se tenha consciência de qualquer esforço extraordinário e sem a noção de que se está fazendo as coisas apressadamente, trabalha-se com tanta rapidez como qualquer um desses meninos que vemos surgir de tempos em tempos e que são extraordinariamente dotados para os cálculos. Futuros gênios como Ampère e Gauss, ou futuros idiotas como Dase, todos eles tendo em comum, graças a algum arranjo interior, a capacidade de alterar o tempo. Esse dom lhes permite resolver um problema, que consumiria uma hora de trabalho concentrado, em poucos minutos e, em alguns casos, em frações de segundos. Sou uma estudante medíocre, mas através de um transe profundo puderam me ensinar a condensar o tempo, reduzindo-o a um trigésimo da sua duração normal. Disso resultou maior tempo para ampliar os meus conhecimentos, de um modo que seria dificílimo se seguisse os caminhos usuais. O senhor pode imaginar o que acontece quando alguém dotado do coeficiente intelectual (QI) de um gênio é também dotado do poder de alterar o tempo? Os resultados são fantásticos!

— Infelizmente — disse Mr. Menon — eles não são muito freqüentes. Nas duas últimas gerações, tivemos apenas dois «alteradores do tempo» dotados de verdadeira genialidade e cinco ou seis de segunda classe. Mas o que Pala deve a esse pequeno grupo é verdadeiramente inestimável. Por esse motivo, não é para admirar que estudemos com cuidado nossos sonâmbulos em potencial.

— Vocês realmente fazem uma série enorme de perguntas visando a devassar a alma dos seus alunos — comentou Will depois de curto silêncio. — Que farão quando souberem as respostas?

— Nós os educaremos de acordo com elas — disse Mr. Menon. — Indagamos o físico e o temperamento da criança e, após obtermos as respostas, separamos aquelas que são mais tímidas, mais tensas, mais sensíveis, bem como as introvertidas, e as reunimos num grupo único que, pouco a pouco, vai sendo ampliado. A princípio algumas crianças que têm tendência para a sociabilidade indiscriminada vão sendo introduzidas. Depois, uma ou duas crianças (miniaturas de homens e mulheres minúsculos) agressivas e com ambição de mando são colocadas no grupo. Chegamos à conclusão de que esse é o melhor método para fazer com que as crianças dotadas dos três temperamentos mais dessemelhantes aprendam a se entender, desenvolvendo ao mesmo tempo a tolerância mútua. Após alguns meses de convivência cuidadosamente controlada, estão capacitadas para admitir que pessoas de diferentes origens têm tanto direito à vida quanto elas mesmas.

— E os fundamentos são explicitamente ensinados à medida que vão sendo progressivamente aplicados — disse Mrs. Narayan. — Nos cursos elementares ensinamos em termos de analogia com os animais domésticos. Os gatos apreciam o isolamento, enquanto os carneiros gostam de se agrupar. As martas são ferozes e não podem ser domesticadas. Os porquinhos-da-índia são mansos e amigáveis. A qual grupo você pertence? Ao grupo dos homens-gatos, dos homens-cordeiros, dos homens-porquinhos-da-índia ou dos homens-martas? Quando falamos sobre o assunto usando fábulas de animais, qualquer criança entende a existência da diversidade dos seres humanos e, através dessa compreensão, admite a necessidade da indulgência e do perdão mútuos.

— Mais tarde, ao serem iniciados na leitura do Gita — disse Mr. Menon —, falamos a elas sobre a ligação entre a constituição individual e a religião. Os homens-cordeiros e os homens-porquinhos-da-índia gostam dos rituais, das cerimônias públicas e das emoções revivificadas. Suas preferências temperamentais podem ser orientadas no «caminho da devoção». Os homens-gatos gostam de estar sós e suas meditações solitárias podem levá-los ao «caminho do autoconhecimento». Os homens-martas querem fazer coisas, e o problema é desviar sua agressividade para o «caminho dos atos desinteressados».

— E a estrada que conduz ao caminho dos atos desinteressados foi o que tive ocasião de ver ontem? Será que, para atingi-lo, temos que cortar lenha e escalar montanhas?

— Somente em casos especiais utilizamos o método de cortar lenha e de escalar montanhas — disse Mr. Menon. — Generalizando, podemos dizer que a reorientação da força é o caminho que leva a todos os «caminhos».

— Que quer dizer com isso?

— O princípio em que se baseia é muito simples. Utilize a força produzida pelo medo, pela inveja, pela administração excessiva de nor-adrenalina ou por uma necessidade imperiosa e que no momento tenha que ser contida. Oriente-a de modo a que não seja nociva a ninguém. Não permita que seja reprimida e que venha a causar dano a si mesmo. Despenda seus empreendimentos que, se não forem úteis, tenham pelo menos o mérito de ser inócuos.

— Eis aqui um caso simples — disse a diretora. — Uma criança zangada ou frustrada é capaz de acumular força bastante que resulte numa explosão de choro, de palavrões ou mesmo numa briga. Se a força gerada é suficiente para provocar qualquer uma dessas coisas é também suficiente para fazê-la correr, dançar ou mesmo dar cinco suspiros profundos. Mais tarde lhe mostrarei uns números de dança. Por ora, limitemo-nos à respiração. Qualquer pessoa que estiver irritada e que respire profundamente cinco vezes, libera grande parte de sua tensão, tornando mais fácil para si mesma agir de modo racional. Por isso ensinamos às nossas crianças que toda a espécie de exercícios respiratórios deve ser usada todas as vezes que estiverem zangadas ou perturbadas. Qual dos dois antagonistas pode inspirar mais profundamente e levar maior tempo expirando e dizendo simultaneamente OM? É um duelo que termina, quase que invariavelmente, com uma reconciliação. Existem porém ocasiões em que os exercícios de respiração ficam inteiramente deslocados. Nesses casos, há um pequeno jogo baseado no folclore local e que pode ser usado por uma só criança, quando necessário. Toda criança palanesa aprende as lendas budistas que na maioria são como histórias de fadas, onde alguém sempre tem a visão de um ser celestial. É como se fosse um Bodhisattva numa explosão de luzes, jóias e arco-íris. Simultaneamente com a gloriosa visão, sempre há uma olfação igualmente deliciosa. Os fogos de artifício geralmente são acompanhados por perfume de inefável delicadeza. Pomos em ação todas essas fantasias tradicionais. Não é necessário que todas se baseiem em experiências utópicas como aquelas induzidas pelo jejum, pela privação dos sentidos e pelos cogumelos. Dizemos às crianças que os sentimentos violentos são como os terremotos. Estes nos sacodem com tal força que provocam rachaduras na parede que separa nosso íntimo da universal e multi-dividida natureza de Buda. Quando alguém fica zangado é como se algo dentro dele se rachasse, deixando escapar através da fenda um sopro do celestial perfume do Saber. Um perfume semelhante ao champak, ao ylang-ylang ou às gardênias, porém infinitamente melhor. Por essa razão, não se deve perder essa divindade que acidentalmente escapou. Ela estará presente todas as vezes que se zangar. Inale-a, respire-a, encha os pulmões com ela, uma, duas ou mais vezes.

— E as crianças conseguem fazer isso?

— Depois de algumas semanas de aprendizado a maioria delas o faz com absoluta naturalidade. Algumas chegam mesmo a sentir o perfume. O velho refrão repressivo «não faça isso» passou a ser expresso em termos de «faça isso». Este novo refrão está cheio de compensações. Forças potencialmente perigosas têm sido analisadas de modo a se tornarem inócuas, podendo mesmo, em certas ocasiões, ser usadas no bom sentido. Nesse intervalo desenvolvemos a percepção das crianças, mediante um ensino cuidadoso, que é progressivamente ministrado com o modo correto de usar a linguagem. Elas são ensinadas a prestar atenção a tudo o que vêem e ouvem. Pedimos que observem até que ponto seus sentimentos e desejos interferem na observação do mundo em que vivem. Fazemos com que sintam como determinados hábitos de linguagem afetam não só seus sentimentos, seus desejos, mas também suas sensações. O que meus olhos e ouvidos registram é uma coisa. Até que ponto meu estado de espírito, a palavra que uso e os objetos que estou perseguindo dão sentido a um ato é coisa completamente diferente. Por aí se vê que tudo se envolve em conjunto dentro de um processo educacional único. Damos um treino simultâneo em percepção e imaginação, que equivale à aplicação prática da fisiologia e da psicologia. É também um treino na prática da ética e da religião, um treino de autoconhecimento e de como se usar a linguagem. Resumindo, a unidade psicossomática é treinada sob todos os ângulos.