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— E nada podemos fazer a respeito — ajuntou a diretora.

— Não podemos fazer nada, exceto continuar a fazer o mesmo que fizemos até agora, isto é, esperar que o exemplo de uma nação que achou o meio de ser humanamente feliz venha a ser imitado. Há muito poucas possibilidades de que isso venha a acontecer, mas pode ser que aconteça…

— A não ser que Rendang Maior aconteça primeiro.

— A não ser que uma Rendang Maior aconteça primeiro — concordou Mr. Menon gravemente. — Enquanto isso temos que continuar nosso trabalho, que consiste na educação. Há mais alguma coisa que o senhor gostaria de saber, Mr. Farnaby?

— Sim. Gostaria de saber muitas outras coisas. Por exemplo, quando começam a ensinar ciência?

— Damos as primeiras aulas de Ecologia quando começamos a ensinar a multiplicação e a divisão.

— Ecologia? Isso não é um pouco complicado?

— É exatamente por esse motivo que começamos logo a ensiná-la. Nunca se deve dar à criança a possibilidade de imaginar que as coisas possam existir isoladamente. Devemos mostrar-lhe logo de início as relações que existem entre as matas e os descampados, entre os poços e os cursos de água e entre as vilas e os campos que as rodeiam. Deve-se insistir muito nesse assunto.

— Deixe-me acrescentar — disse a diretora — que sempre ensinamos a ciência das relações juntamente com a ética das relações. A lei da natureza consiste num balanço perfeito entre o que se toma e aquilo que se dá. Em outras palavras, no equilíbrio. Se transportarmos este fato para o terreno da moralidade, essa deveria ser a lei entre as pessoas. Como já havia dito antes, as crianças têm facilidade em entender uma idéia que lhes é apresentada sob a forma de fábulas de animais e, por isso, contamos versões modernas das fábulas de Esopo, não usando os antigos mitos antropomórficos e sim verdadeiras fábulas ecológicas ricas em moral cósmica. Outra maravilhosa história para crianças é a história da erosão e por isso lhes mostramos fotografias do que aconteceu em Rendang, na Índia, na China, na Grécia, no Oriente, na África e na América, em todos os lugares onde as pessoas gananciosas e estúpidas tentaram tirar sem dar nada em troca, tentaram explorar sem amor ou compreensão. Se tratarmos bem a natureza, ela nos retribuirá do mesmo modo. Se, no entanto, tentarmos feri-la ou mesmo destruí-la, seremos inexoravelmente esmagados. Nesse «caldeirão de poeira», o «Faça aquilo que gostaria de receber» dispensa explicações. As crianças reconhecem e compreendem esse fenômeno com muito mais facilidade do que reconhecem uma família ou uma cidade corrupta. Os danos psicológicos não deixam cicatrizes e elas sabem tão pouco a respeito dos mais velhos… Não possuindo critérios para estabelecer comparações, sua tendência é tomar por certa mesmo a pior das situações e aceitá-la como se fosse parte da natureza das coisas. Enquanto isso, as diferenças entre quatro hectares de campos, quatro hectares de sarjetas e as tempestades de areia são bastante evidentes. A areia e a sarjeta são alegorias e, ao confrontá-las, torna-se fácil para a criança perceber a necessidade da conservação das coisas e daí vir a compreender a necessidade da preservação da moralidade. Torna-se fácil fazê-las entender os conceitos morais em relação às plantas, aos animais e à terra que os mantém. Depois disso, é fácil transpor esses conceitos para as relações entre os seres humanos. Aí está outro ponto importante: ao deixar os fatos da ecologia e as parábolas da erosão, a criança atinge uma ética universal. A Natureza não tem «povo eleito», «terras santas» ou «revelações raras de história». A moralidade e a conservação não justificam sentimentos de superioridade ou reivindicação de quaisquer privilégios especiais. O conceito «Faça aquilo que gostaria de receber» se aplica em nossas relações com todas as espécies de vida nas várias partes do mundo. Somente teremos permissão de viver neste planeta enquanto tratarmos a Natureza com inteligência e compaixão. A ecologia elementar nos leva diretamente ao Budismo elementar.

Após alguns momentos de silêncio, Will disse:

— Apenas há algumas semanas li o livro de Thorwald sobre o que aconteceu na Alemanha Oriental, entre os meses de janeiro e maio de 1945. Algum de vocês por acaso teve ocasião de lê-lo?

Ambos balançaram negativamente a cabeça.

— Então não o façam — aconselhou Will sorrindo irônica e ferozmente. — Estive em Dresden após o bombardeio de fevereiro. Numa só noite, cerca de cinqüenta a sessenta mil civis, na sua maioria refugiados que tentavam escapar aos russos, foram queimados vivos. Tudo isso porque nunca ensinaram ecologia e os primeiros preceitos da conservação ao “pequeno Adolf’’. O acontecimento foi tão bárbaro que é preferível fazer humorismo a discuti-lo seriamente.

Mr. Menon levantou-se e apanhou a pasta.

— Devo ir agora. — Apertando a mão de Will, disse do prazer que tivera em conhecê-lo e que fazia votos de que gostasse da estada em Pala. — Tudo que quiser saber a respeito da educação palanesa — acrescentou — basta que pergunte a Mrs. Narayan. Não encontrará um guia e instrutor que a possa exceder em atributos.

— O senhor gostaria de visitar alguma sala de aula? — perguntou Mrs. Narayan após a saída do subsecretário.

Will levantou-se e, saindo da sala, acompanhou-a através de um longo corredor.

Abrindo uma das portas a diretora disse:

— Matemática. Esta é a 5a série superior, dirigida por Mrs. Anand.

Ao ser apresentado, Will curvou-se respeitosamente. A professora de cabelos brancos deu-lhe um sorriso de boas-vindas e sussurrou:

— Como o senhor pode observar, estamos imersos num problema.

Will olhou em torno. Sentados em carteiras, rapazolas e mocinhas, com os cenhos franzidos, mordendo os lábios em profundo silêncio, estavam concentrados sobre os cadernos. As cabeças inclinadas eram escuras e lustrosas. Acima dos calções brancos ou cáqui e das saias de colorido alegre, os corpos dourados brilhavam no calor. Os rapazolas mostravam o gradeado costal abaixo da pele. Os corpos das mocinhas, mais cheios e delicados, mostravam a intumescência dos pequenos seios, rígidos, altos e elegantes, como se tivessem sido criados por um escultor de ninfas da época do rococó. Todos sentiam-se inteiramente à vontade. Que conforto, pensou Will, viver num lugar onde a «queda» não era mais do que uma doutrina desacreditada!