Fui tomado de um pânico irracional. Eu sabia que havia acontecido alguma coisa extraordinária, mas no primeiro momento não pude discernir o que podia ter sido. Enquanto eu estava ali paralisado, a porta que dava para o jardim se abriu e o empregado apareceu.
Olhamos um para o outro. Meu cérebro voltou a funcionar.
— O Senhor.. saiu pelo jardim?
— Não, senhor. Ninguém saiu por aí. Eu esperava encontrá-lo aqui dentro.
Então compreendi. E, arriscando-me a desapontar Richardson, resolvi aguardar a volta do Viajante do Tempo. Aguardar a segunda narrativa, talvez ainda mais estranha que a primeira, juntamente com os espécimes e as fotografias que ele iria trazer. Começo, todavia, a recear que tenha de esperar a vida inteira. O Viajante do Tempo desapareceu há três anos. E, como todos agora sabem, nunca mais voltou.
EPÍLOGO
Tudo que posso fazer é ficar imaginando. Voltará ele algum dia? Talvez tenha viajado para o passado e caído no meio dos peludos selvagens da Idade da Pedra Lascada, bebedores de sangue. Ou nos abismos do Mar Cretáceo. Ou entre os grotescos sáurios, os gigantescos répteis do Jurássico. Pode estar agora mesmo — se cabe usar essa frase — vagueando sobre um recife de coral oolítico infestado de plesiossauros, ou pelas margens de um solitário lago salgado do Período Triásico. Ou, então, se dirigiu para o futuro, para épocas mais próximas da nossa, em que os homens ainda são homens, mas as indagações de hoje estão já respondidas, e resolvidos nossos problemas mais aflitivos. Uma época em que a raça humana terá atingido o seu pleno amadurecimento — porque, de minha parte, não acho que estes nossos dias de tímidas experiências, de teorias fragmentárias e de mútua discórdia sejam o ponto culminante da humanidade!
Repito: de minha parte. Quanto a ele, bem sei — pois o assunto foi discutido entre nós muito antes de ser construída a Máquina do Tempo — bem sei que tinha idéias bastante sombrias sobre o Progresso da Humanidade, e considerava as crescentes conquistas da civilização como um simples amontoado de loucuras, que inevitavelmente desabaria sobre seus artífices e acabaria por destruí-los. Se de fato é assim, só nos resta viver como se não fosse.
Mas para mim o futuro é ainda informe e nebuloso — uma vasta incógnita, iluminada em alguns pontos esparsos pela recordação da história que o Viajante do Tempo nos contou. E eu guardo comigo, para meu consolo, duas estranhas flores brancas — já agora amarelecidas, e secas, e quebradiças — como testemunho de que, mesmo quando a inteligência e a força houverem desaparecido, a gratidão e a ternura mútua sobreviverão no coração do homem.
Fim.
Tradução de Fausto Cunha
Introdução de Jorge Luis Borges
LIVRARIA FRANCISCO ALVES EDITORA S.A.
Copyright © by Emecé Editores para O primeiro Wells e a citação A flor de Coleridge, tirados de Otras Inquisiciones, com autorização.
Título originaclass="underline" THE TIME MACHINE
Revisão: Lúcia Duarte
Impresso no Brasil Printed in Brazil
198 I
Todos os direitos desta tradução reservados à LIVRARIA FRANCISCO ALVES EDITORA S.A. Rua Sete de Setembro, 177 — Centro 20.050 — Rio de Janeiro, RJ
Coleção Mundos da Ficção Científica
Coordenação: Fausto Cunha
A ESPADA DIABÓLICA
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OS DENTES DO INSPETOR
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CONTOS DA TABERNA
— Arthur C. Clarke
CONSTRUTORES DE CONTINENTES
— L Sprague de Camp
O HOMEM QUE VENDEU A LUA
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PARASITAS DA MENTE
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REVOLTA EM 2100
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A AMEAÇA DA TERRA
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OS FILHOS DE MATUSALÉM
— Robert A. Heinlein
O PLANETA DOS DRAGÕES
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AS SETE FACES DO DR. LAO
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OS FRUTOS DOURADOS DO SOL
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PLANETA DUPLO
— Jack Vance
VAMPIROS DO ESPAÇO
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AS CRÔNICAS MARCIANAS
— Ray Bradbury
A LEGIÃO DO ESPAÇO
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STAR KING — A Saga dos Príncipes Demônios
— Jack Vance
CHUNG-LI — A Agonia do Verde
— John Christopher
A MÁQUINA DE MATAR
— Jack. Vance
OS AMANTES DO ANO 3050
— Philip José Farmer
ANTOLOGIA CÓSMICA
— Fausto Cunha (Org.)