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Os acólitos, como era previsível, não os largaram. As reacções do par eram diferentes; o homem parecia paralisado, mas a mulher mostrava-se inconformada e só se calou quando viu Balam retirar um punhal do interior da túnica.

"Então, señorita Raquel de la Concha?", perguntou o chefe da segurança com a voz impregnada de sarcasmo. "Que se passa?"

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Esboçou um gesto com o punhal. "A minha laminazinha fez-lhe perder o pio? Se ela tem este efeito mágico só por aparecer, imagine como será quando começar a trabalhar..."

"O senhor... o senhor não se atreva!"

Balam aproximou a lâmina do capuz e passeou a ponta diante da cara tapada.

"Aqui quem dá as ordens não é a señorita!" , rosnou num tom ameaçador. "Sou eu e a minha laminazinha." O punhal rodopiou-lhe na mão. "Sabe que foi com esta queridinha que degolei o meu primeiro cordeiro nesta história? Na verdade foram dois cordeirinhos tenros, dois francesinhos que também resolveram armar-se em espertos.

Apanhei os idiotas em Nice e eles não ficaram para contar a história." Girou de novo a lamina entre os dedos, parecia uma ventoinha. "Com a minha amiguinha fiz os primeiros sacrifícios, com a minha amiguinha farei Os últimos." Imobilizou o punhal com a ponta voltada para a base do pescoço da mulher.

"Os vossos."

"Afaste essa faca!", protestou ela, o medo a espreitar pela voz.

"Isso é... isso é crime de homicídio na forma tentada!"

A observação arrancou uma gargalhada incrédula ao acólito e à congregação.

"Crime de homicídio na forma tentada!?", riu-se ele, quase a soletrar a frase e virando a cara em redor para comungar com os seus companheiros. "Olhem para a señorita da Interpol a falar caro, hem? Parece que está a testemunhar em tribunal, a idiota!" Fez uma careta e voltou a imitar o que acabava de ouvir. "Isso é crime de homicídio na forma tentada!" A risada prolongou-se por uns segundos mais e acabou por morrer. Nessa altura Balam fitou-a de novo, os olhos a chisparem, a lamina outra vez com a ponta colada à base do pescoço da mulher. "Acabou-se a reinação, cabra! Passa para cá o DVD!"

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A mulher projectou a cabeça para ele, numa postura de desafio.

"Não sei do que estás a falar, imbecil."

A resposta foi recebida por Balam como se a prisioneira tivesse cuspido nele. O chefe da segurança fez um sinal silencioso a Mefistófeles, que apertou a mulher com mais força. Nessa altura Balam colou o punhal ao pescoço dela e virou-se para o homem.

"Espero, para o seu bem e o dela, que o senhor seja mais inteligente, professor Noronha", disse num tom carregado de ameaças. "Onde está o DVD?"

O refém abanou a cabeça.

"Não o tenho."

"No entanto, disse esta tarde em tribunal que o iria apresentar amanhã de manhã."

"Ai disse?", devolveu o homem num tom sibilino. "Olhe, não o tenho."

"Não o encontrou?"

"Não."

"Nem sabe onde encontrá-lo?"

O homem não respondeu de imediato, vacilando quanto à resposta que deveria dar.

"Talvez."

"O que quer isso dizer?"

"Talvez quer dizer talvez."

Sem saber como prosseguir o interrogatório, se calhar até perdido no rumo que a conversa tomara, Balam deu um passo para trás e encarou o seu dirigente como se aguardasse ordens.

"Que faço, poderoso Magus?"

"Se o DVD não apareceu, é melhor que não apareça", retorquiu o mestre-de-cerimónias, atirando um olhar enfastiado para o casal à sua mercê. "Faz o que tens a fazer."

Os acólitos que seguravam os dois prisioneiros aplicaram-lhes um 457

golpe nas costas com os cotovelos e obrigaram-nos a ajoelhar-se, a cabeça inclinada para a frente. Balam foi buscar um banco de madeira e pousou a cabeça da mulher sobre a cadeira.

"Por te teres armado em parva, vais tu primeiro, minha linda", disse entre dentes. "E vou fazer de modo que morras devagar e com muita dor, ouviste?"

"Largue-me!", protestou ela. "Socorro!", berrou de repente.

"Ajudem-me!"

Balam e o resto da congregação riram-se.

"A berraria não te levará a sítio nenhum, grande palerma", escarneceu ele. "Já passa da meia-noite, os Uffizi estão por nossa conta. Podes berrar à vontade que ninguém te ouve!" Inclinou-se sobre ela e aproximou a boca do ouvido. "Aliás, até prefiro que grites.

Dá-me tusa, sabias? Parecem gritos de prazer..."

Uma nova gargalhada percorreu a sala.

"Ajudem-me!"

O chefe de segurança acocorou-se diante dela e pôs-se a estudar o melhor local para aplicar o primeiro golpe. Escolheu o ponto vulnerável mesmo na base do pescoço. Depois encostou a ponta aguçada do punhal ao sítio escolhido e preparou-se para premir a lâmina.

"Parem com isso!"

A ordem foi dada por uma voz que se ergueu do meio da multidão. Apanhados de surpresa, Balam, Magus e os acólitos viraram as cabeças na direcção de quem acabara de falar.

"Que se passa?", perguntou o mestre-de-cerimónias, tentando destrinçar o elemento da congregação que os interrompera. "Quem disse isso?"

A massa humana que rodeava os prisioneiros e os seus algozes começou a movimentar-se para abrir espaço e um dos acólitos, de túnica e rosto ainda tapado por um capuz, avançou para o espaço central.

"Fui eu", disse. Apontou para os dois prisioneiros ajoelhados 458

diante de Balam. "Não os matem."

Magus não estava a entender esta iniciativa inesperada de um dos seus seguidores.

"Ora essa! Porquê?"

O acólito pôs a mão sobre o capuz que lhe ocultava por completo as feições e puxou-o para trás, destapando-se. Um "oooh" surpreendido encheu a sala.

"Porque sou eu o Tomás Noronha."

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LXIX

Ainda Magus e os seus seguidores não se tinham refeito da surpresa quando as portas da sala se abriram com grande fragor e violência e um grupo de homens armados e uniformizados invadiu o espaço no meio de enorme aparato.

"Polícia!", gritou uma voz, identificando-se. "Todos de mãos no ar! Que ninguém se mexa!"

O mestre-de-cerimónias e os seus acólitos ficaram por momentos paralisados, sem capacidade de reacção. Os carabinieri tomaram posição em redor da congregação e apontaram-lhe as armas, impondo na sala uma nova relação de forças.

"Que vem a ser isto?", protestou Magus, recuperando a presença de espírito. "Porque estão a interromper esta cerimónia privada? Façam o favor de sair!"

Do meio dos carabinieri destacou-se uma mulher à paisana.

"Silêncio!"

Mefistófeles e o seu comparsa largaram os dois prisioneiros, que se puseram imediatamente de pé e se viraram para os polícias.

"Porque levaram tanto tempo?", perguntou a mulher. Abriu a túnica e exibiu o microfone escondido na lapela. "Não me ouviram gritar por socorro?" Apontou para Tomás. "Se não fosse o professor Noronha, estes energúmenos tinham-nos decapitado!"

"Peço desculpa, senhora professora", respondeu a mulher à paisana. "Os corredores são muito longos e levámos mais tempo do que prevíamos a chegar aqui."