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elementos da seita. Foi a procuradora-geral do TPI quem quebrou o súbito mutismo.

"Este senhor ameaçou a minha vida", disse ela, apontando para Balam. "Além disso, confessou há pouco os homicídios de Éric Garnier e Hervé Chopin em Nice. Parece-me que deve ser o primeiro a ouvir a ordem de prisão."

Marilú pegou no capuz do acólito e arrancou-o, destapando-lhe a face.

"Por suspeita de dois homicídios premeditados e um na forma tentada, considere-se detido", disse com voz de comando. "Faça o favor de se identificar."

A cabeça descoberta de Balam revelou um homem de barba rala e cara larga, os olhos castanhos muito juntos. O acólito lançou um olhar desorientado e interrogativo na direcção de Magus, como se lhe pedisse instruções.

"Já sabes", respondeu o mestre-de-cerimónias em tom críptico.

"Faz o que tens a fazer."

As palavras foram pronunciadas com suavidade, mas para Balam tiveram a força de uma ordem. O acólito ficou lívido e, inseguro, encarou a agente da Interpol.

"Quer... quer os meus documentos?"

"Se fizer o favor."

Balam meteu a mão trémula no bolso da túnica e, depois de respirar fundo, tirou-a apressadamente e levou qualquer coisa à boca.

Acto contínuo, pareceu sofrer um choque e tombou no chão, o corpo a contorcer-se em convulsões violentas. Os polícias caíram sobre ele, tentando reanimá-lo com massagens cardíacas e respiração boca a boca, mas ao fim de alguns instantes Balam estremeceu num derradeiro estertor e imobilizou-se enfim.

"Morreu", constatou Marilú. Apontou para os elementos da congregação. "Revistem-nos!"

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Os carabinieri passaram os acólitos em revista e, minutos mais tarde, entregaram uma mão-cheia de pílulas à responsável da Interpol. Marilú entregou um comprimido a Raquel, que o cheirou.

"Cianeto", identificou ela. "Provoca um ataque cardíaco e mata em alguns segundos."

O olhar de Marilú desviou-se para Magus.

"O senhor está preso."

O chefe da seita pôs as mãos na cintura.

"Isso é que era bom!", devolveu em tom de desafio. "Sob que acusação?"

A confiança de Magus, que parecia em pleno controlo da situação, desconcertou a responsável da Interpol. "Bem...

homicídio."

"Ai sim? De quem?" Indicou com um gesto o cadáver de Balam.

"Com certeza não sou responsável pelos actos tresloucados desse senhor. Ou têm provas de que sou?"

Raquel e Marilú entreolharam-se; ambas sabiam que, apesar das aparências, não havia de facto provas de tal coisa.

"Enfim..."

Vendo as duas agentes paralisadas, a procuradora-geral Agnès Chalnot não se conteve.

"O senhor tentou matar-me!"

"Eu?", admirou-se Magus. Voltou a fazer um gesto para o corpo de Balam. "Quem andou com o punhal na mão, que eu saiba, foi esse senhor, não fui eu."

"Mas incitou-o."

"Isso diz a senhora. Que palavras proferi eu a incitar uma qualquer fantasiosa tentativa de homicídio?"

"Quando eu estava sua prisioneira, disselhe... disselhe que fizesse o que tinha a fazer."

"Em primeiro lugar, ninguém esteve prisioneiro de ninguém", 466

esclareceu Magus. "A senhora e o seu amigo apresentaram-se a Mefistófeles de livre vontade, não foi? E, que eu saiba, vieram para esta sala também pelos vossos próprios pés. Depois eu disse de facto ao meu... uh... companheiro que fizesse o que tinha a fazer. Com isso queria dizer que vos deveria libertar, como é evidente. Que ele se tenha posto com todo aquele teatro não é da minha responsabilidade."

"Teatro? O homem ia-me degolando!"

"Diz a senhora. Pois eu asseguro-lhe que era tudo teatro, percebeu? Teatro!" Encolheu os ombros com uma expressão ambígua. "Como os carabinieri intervieram, nunca saberemos a verdade, pois não? In dubio pro reo."

Tomás, que se tinha remetido de novo ao silêncio, percebeu que chegara o momento de intervir.

"Vejo-o muito seguro de si..."

Magus cruzou os braços, reforçando a imagem de que nada tinha a recear.

"Quem não deve não teme", sentenciou. Baixou os olhos para o corpo de Balam. "Só um homem me poderia incriminar e ele já aqui não está, pois não?"

Com um movimento fulminante, o historiador português pôs-se ao lado de Magus e puxou-lhe de repente o capuz. "Mas estou eu, caro Axel Seth!"

A cabeça do mestre-de-cerimónias ficou finalmente destapada, exibindo o rosto ossudo do presidente da Comissão Europeia e juiz do Tribunal Penal Internacional.

467

LXX

A descoberta de que o Magus daquela seita satânica era o próprio juiz Axel Seth deixou boquiabertos os procuradores do Tribunal Penal Internacional e os elementos da Interpol e dos carabinieri. A consternação generalizou-se entre os presentes.

"Juiz Seth?!", exclamou a procuradora-geral Agnès Chalnot, incrédula.

"É mesmo o senhor?"

Magus encolheu os ombros.

"O que faço no meu tempo livre é comigo", disse. "Que eu saiba não cometi nenhum crime. Se cometi, cabe-vos a vós prová-lo. Não me parece que seja tarefa fácil."

Os olhares dos dois procuradores saltaram do juiz para Tomás, o único que não parecia surpreendido com a identidade do Magus.

"O senhor sabia quem ele era, professor Noronha?" O historiador anuiu com um movimento da cabeça.

"O nome", disse. "Desde o princípio que o nome do juiz nomeado para este processo me chamou a atenção, em particular quando soube que foi ele que o escolheu. Retirou o apelido dos pais e pôs o nome Seth. Achei estranho e pensei cá para os meus botões: que tipo de pessoa faz uma coisa dessas?"

"Ora essa!", protestou Axel Seth. "Já só faltava acusarem-me também por ter mudado de nome. O senhor não sabe que Seth é um nome bíblico? Seth era o terceiro filho de Adão e Eva e a palavra significa semente em hebraico. Como vêem, não há aqui nada de mal. Porque implicam agora com o meu nome?"

"É verdade que Seth é um nome bíblico", reconheceu o historiador. "Mas Seth é um personagem totalmente secundário no 468

Génesis e praticamente irrelevante na narrativa das Escrituras. Porque diabo iria uma pessoa dar-se ao trabalho de mudar de apelido para adoptar um nome bíblico obscuro? Se mudasse o nome para Abraão ou Noé ou Moisés ou Jesus, tudo bem. Mas.... Seth? Porquê Seth? O

que tinha Seth assim de especial? Lendo a Bíblia, percebemos que a relevância dessa personagem é praticamente nula. Foi isso que desde o início me fez espécie. Porque raio escolheu o juiz o nome Seth?"

"E então?", quis saber a procuradora-geral, impacientando-se. "A que conclusão chegou?"

"Concluí que o Seth adoptado pelo juiz não podia ser o Seth do Génesis. Acontece que a mitologia egípcia tem um deus muito importante com o mesmo nome. Seth era a divindade egípcia da violência, da guerra e do caos, a encarnação do espírito do mal e o precursor do diabo. Seth remete para sethanismo, ou... satanismo."

Os procuradores arregalaram os olhos.

"Perdão?"

"O nome egípcio Seth está na origem do nome Satã, ou Satanás." Tirou do bolso o bloco de notas com o criptograma decifrado e dirigiu-se ao presidente da Comissão Europeia. "O senhor juiz lembra-se de, no final da sessão preliminar no Palazzo Vecchio, eu lhe ter mostrado nesta folha a mensagem de Filipe?"