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elas

convencer

os

políticos?

Eu

respondo-vos:

corrompendo-os. O sector financeiro tem ao seu serviço três mil lobistas, ou seja, mais de cinco por cada membro do Congresso. Os bancos contribuíram com generosas ofertas às campanhas dos políticos e, em troca, exigiram desregulação. Fizeram isso corrompendo os políticos, mas também uma outra instituição."

Um novo sinal desencadeou uma nova mudança de imagem na tela, agora para os logotipos de várias universidades; reconheciam-se Harvard, Yale, Columbia e outras.

"Os economistas, que também podemos considerar suspeitos de crimes contra a humanidade", disse. "As instituições financeiras, e em particular os bancos de investimento, queriam deitar a mão a lucros fabulosos e crescer a um ponto em que a sua falência não poderia ser permitida sob pena de pôr toda a economia em risco, não é verdade?

O que fizeram elas? Corromperam os políticos para que se mudassem as leis e se desregulassem os mercados. Mas, para que isso fosse possível, era necessário criar um ambiente ideológico adequado. Quem iria fornecer esse ambiente?"

Carlo del Ponte apontou enfaticamente para os logotipos das universidades.

"Os economistas, claro! Foram os economistas que criaram a ideologia da desregulação e venderam ao eleitorado e aos consumidores a ficção de que os mercados se podiam regular a si mesmos e a sua desregulação abriria as comportas a uma riqueza desmesurada." Sorriu num aparte. "Tinham razão, claro. A 401

desregulação

permitiu

o

enriquecimento

desmesurado..,

dos

banqueiros." Retomou o tom neutro. "Na verdade, a ideologia da desregulação foi tão bem sucedida que os economistas americanos conseguiram até exportá-la para a Europa. A Islândia, por exemplo, tinha uma economia perfeitamente saudável, com excedentes orçamentais e uma dívida ridícula. Mas em 2001 teve a infeliz ideia de acreditar nas baleias da desregulação e mudar as suas leis. Num punhado de anos, os seus bancos desregulados acumularam Uma dívida seis vezes superior ao PIB anual do país e a Islândia entrou em colapso."

O procurador fez um gesto para a mesa e os seus colaboradores introduziram uma nova imagem na tela, desta vez de um homem engravatado.

"Gostaria de processar por crimes contra a humanidade uma centena de economistas que nos andaram a vender essa ideologia, mas se tiver de escolher apenas uni, a minha opção vai para este suspeito."

Fitou o rosto do homem engravatado e pôs as mãos na cintura, como se o enfrentasse em duelo. "Glenn Hubbard, director da Columbia Business School e presidente do conselho económico do presidente George W. Bush. Nessa qualidade, concebeu uma série de cortes fiscais, como a redução de impostos sobre dividendos de acções e a eliminação do imposto sobre a propriedade, alterações que quase só ajudaram Os ricos. O professor Hubbard assinou em 2004 um texto muito influente a elogiar os derivados e o processo de securitização de hipotecas, alegando que eles protegiam os bancos e aumentavam a estabilidade financeira."

A afirmação arrancou gargalhadas no salão.

"O professor Hubbard trabalha também a soldo de grupos que fornecem peritos legais para testemunhar em processos a favor de pessoas acusadas de fraude. Por exemplo, dois banqueiros do Bear Stearns foram processados por fraude no esquema da securitização.

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Aflitos, contrataram um desses grupos de peritos, o The Analysis Group, que pagou cem mil dólares ao professor Hubbard para testemunhar a favor desses banqueiros. Os suspeitos foram ilibados." O procurador apontou para o rosto na tela. "O professor Hubbard é um exemplo de tudo o que está mal na profissão dos economistas. Ao propagarem a ideologia da desregulação, e ao deixarem-se comprar pelos banqueiros, muitos economistas tornaram-se cúmplices activos neste crime contra a humanidade e merecem, por direito próprio, sentar-se no banco dos réus."

Carlo del Ponte voltou-se na direcção do juiz.

"Meritíssimo, muitas outras pessoas deveriam também ser indiciadas neste processo, e talvez venham a sê-lo numa fase posterior, mas não posso terminar sem indiciar os responsáveis máximos, os homens que deixaram que tudo isto acontecesse sob a sua tutela, em alguns casos, senão todos, deixando-se comprar por estes interesses financeiros."

O procurador fez um sinal para a mesa e quatro rostos familiares encheram a tela, desencadeando um bruá emocionado na plateia e uma trovoada de flashes no Salone dei Cinquecento.

"Os presidentes Ronald Reagan, George H. Bush, Bill Clinton e George W. Bush!", proclamou Carlo dei Ponte numa voz alterada, tentando fazer-se ouvir por cima do rumor conturbado da multidão e da tempestade de diques das máquinas fotográficas. "Foram eles que deram cobertura a todo o processo de desregulação. O presidente Truman tinha na sua mesa uma frase que dizia: the buck stops here, ou seja, eu sou o responsável por tudo. Pois estes presidentes são os responsáveis máximos e não os podemos deixar fugir às suas responsabilidades."

O alvoroço prolongou-se no salão e Cano dei Ponte teve de fazer uma pausa para o deixar morrer. Quando isso aconteceu, dirigiu um último sinal à sua mesa e um novo rosto apareceu na tela, 403

desencadeando um tumulto ainda maior.

"O nosso último suspeito de crimes contra a humanidade na Segunda Grande Depressão é este homem", berrou por cima do rebuliço. "Barack Hussein Obama."

A agitação no grande salão do Palazzo Vecchio era total e o juiz Axel Seth viu-se obrigado a intervir, batendo várias vezes com o martelo na mesa e apelando à ordem.

"Ordem!", gritou Seth. "Ordem!" Bateu de novo com o martelo.

"Ordem ou mando evacuar a sala imediatamente! Ordem!"

Quando a algazarra acalmou e voltou a ser apenas um burburinho, o juiz considerou restabelecidas as condições mínimas e fez sinal ao procurador para que prosseguisse.

"Obrigado, meritíssimo", devolveu Cano dei Ponte, voltando-se para o rosto fixado na tela. "O presidente Barack Obama não é minimamente responsável pelo colapso de 2008, uma vez que na altura nem sequer estava em funções. Mas é responsável pela subsequente Segunda Grande Depressão, devido às suas acções e omissões.

Manteve à frente da Fed o sucessor de Alan Greenspan, Ben Bernanke, o homem que deixou a bolha do imobiliário crescer sem nada fazer e que chegou ao cúmulo de afirmar, no auge da bolha, que não havia bolha nenhuma. O senhor Bernanke foi também ao Congresso com Hank Paulson pedir setecentos mil milhões de dólares para salvar os bancos da crise que os próprios bancos haviam provocado, transferindo assim para as contas públicas os erros do sector privado. Como prémio por esta maravilhosa actuação, o presidente Obama manteve-o em funções."

O burburinho no salão reacendeu-se, mas não muito.

"Não contente com isso, o presidente Obama escolheu para seu principal conselheiro económico o nosso amigo Larry Summers, indiciado neste processo por crimes contra a humanidade pelo seu papel activo na lei da desregulação dos derivados. A seguir, o presidente Obama escolheu para secretário do Tesouro o presidente da Fed de Nova Iorque durante a 404