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O franciscano fez um ar escandalizado, como se tal hipótese nem 432

pudesse ser questionada.

"Seguramente!" Hesitou. "Excepto, claro, os de Marconi, Fermi e Dante Alighieri, não é verdade? Esses têm aqui os túmulos mas, receio bem, Os seus restos mortais não se encontram na basílica."

Raquel arregalou os olhos.

"Marconi, Fermi e Dante também têm túmulos na basílica?"

"Madonna!, são sabia? Não é em vão que chamam a Santa Croce, basílica fundada pelo próprio S. Francisco, que Deus o tenha eternamente sentado à Sua direita, o tempio dell'Itale glorie!" Fez uni gesto convidativo a indicar o interior da basílica. "Prego, vejam por vós mesmos!"

Os dois visitantes agradeceram ao monge e penetraram enfim na basílica. O historiador apreendeu o interior com o olhar, assimilando quase instantaneamente as características do santuário. A decoração de Santa Croce era mareada pela austeridade franciscana, com a planta em formato de cruz egípcia e as alas separadas por linhas de colunas octogonais. A luz natural jorrava das janelas e dos vitrais no alto, a despejar focos numas partes do chão de tijoleira e a deixar outras partes na penumbra, competindo com a iluminação amarelada das lâmpadas penduradas do tecto. Pairava um cheiro quente a cera no ar, embora não se avistassem velas em parte alguma.

Depois de absorverem o conjunto, Tomás e Raquel deslizaram para a esquerda e, por detrás das colunas, depararam-se com estruturas de mármore enquadradas por pequenas estátuas e separadas por pinturas gigantescas.

"Que é isto?", quis a espanhola saber. "São capelas?" De olhar fascinado a contemplar as estruturas, o historiador abanou a cabeça.

"Túmulos."

Abeiraram-se do segundo sepulcro a contar da esquerda e viram, na base da urna, uma inscrição em caracteres latinos que se iniciava com o nome Galilaeus Galileus.

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"É este o de Galileu?"

Sem pronunciar palavra, Tomás assentiu com a cabeça. Nos minutos seguintes percorreram as duas alas da basílica, sempre a registarem os nomes que iam encontrando, o historiador a identificá-

los em voz baixa e a agente da Interpol a tornar nota num pequeno bloco.

"Enrico Fermi, físico", murmurou ele, passando ao seguinte.

"Leonardo da Vinci." Parou para contemplar o túmulo do autor da Gioconda, antes de recomeçar a andar. "Vittorio Alfieri, poeta e dramaturgo... Eugenio Barsanti, um dos inventores do motor de combustão... Lorenzo Bartolini, escultor..." Estacou diante do seguinte. "Leon-Battista Alberti, arquitecto e autor de uma das mais famosas cifras de criptografia, a cifra de Alberti."

A espanhola ergueu uma sobrancelha, alertada pela observação.

"Ora aqui está um túmulo curioso", constatou. "Não era o Filipe amante da criptografia?"

"De facto", anuiu Tomás, sem tirar os olhos do mausoléu do famoso criptógrafo italiano. "Ele e eu, de resto. Muitas vezes ocultámos mensagens com recurso à cifra de Alberti."

Com esta constatação em mente, prosseguiram a observação das paredes da basílica a estudar os restantes túmulos. Passaram pelo de Leonardo Bruni, entretiveram-se com os de Niccolò Machiavelli e Dante Alighieri, espreitaram furtivamente Os de Ugo Foscolo, Giovanni Gentile e Lorenzo Ghiberti, maravilharam-se com o de Miguel Ângelo, observaram com ar distraído os de Carlo Marsuppini, Raffaello Morghen, Clary, Gioacchino Rossini, Louise di Stolberg-Gedern e detiveram-se por momentos diante do mausoléu vazio de Marconi.

Quando terminaram, recuaram para o corredor central da basílica e contemplaram o conjunto dos túmulos.

"Sabes o que te digo?", perguntou Raquel. "Falta um."

Tomás olhou-a inquisitivamente.

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"Qual?"

A espanhola recuou umas páginas no seu bloco de notas até encontrar o que procurava. Elevou o bloco no ar e apontou ao historiador a frase que haviam arrancado do criptograma.

G O T O s a n t a c r o s s & S E A R C H O V E R S A T A N ' S T O M B

"Satanás", disse ela. "Falta o túmulo de Satanás." Baixou de novo os olhos para o bloco de notas. "Vai a Santa Croce e procura sobre o túmulo de Satanás", leu, traduzindo a frase. Voltou a fitá-lo. "Não podia ser mais explícito."

Uma expressão sarcástica desenhou-se no rosto do português.

"Que eu saiba, Satanás não é um herói italiano", observou num tom sibilino. "Duvido que tenha aqui algum túmulo."

Ignorando o sarcasmo, Raquel apontou para as duas últimas palavras da frase.

"No entanto, o Filipe é aqui muito claro quando diz que procure sobre o túmulo de Satanás. Se calhar é melhor espreitarmos outros pontos da basílica, não achas?"

O historiador fez um gesto largo, abarcando todos os túmulos que se encontravam incrustados nas duas paredes de Santa Croce.

"A referência a Satanás na mensagem do Filipe tem de ser lida de forma simbólica, como é evidente", estabeleceu. "Isso significa que o túmulo de Satanás é um dos que aqui estão, não tenhas dúvidas quanto a isso."

Hesitou, contemplando as placas a identificar cada figura. "A questão é saber qual."

Os olhares dos dois visitantes passearam entre os vários túmulos, tentando arrancar o segredo que um deles escondia. Galilcu, Alberti, Alfieri, Miguel Ângelo, Dante, Da Vinci, Machiavelli, Marconi, Fermi, Rossini, Morghen, Gentile, Barsanti,

"Ay, madre mia", suspirou Raquel, indecisa. "Como vou eu adivinhar 435

qual deles é Satanás?"

"Não estamos a falar de alguém que se chame Satanás", insistiu Tomás. "Basta um indício, uma obra que alguém tenha feito e que estabeleça uma qualquer ligação com o Diabo..."

"Mas o quê?"

"Sei lá", retorquiu o historiador. "Algum destes homens escreveu alguma coisa sobre Satanás ou fez uma pintura sobre o Inferno ou um poema a propósito de qualquer coisa do género?"

O olhar da espanhola percorreu de novo os nomes nas paredes da basílica. Galileu, Alberti, Alfieri, Miguel Ângelo, Dante...

Abriu a boca, presa a este último nome.

"Dante!", exclamou, o olhar incendiado pela epifania. "Dante Alighieri!"

Com uma expressão pensativa, Tomás mordeu o lábio inferior como se ponderasse a ideia.

"Dante? Por causa da Divina Comédia?"

A agente da Interpol agarrou-o pelos ombros e obrigou-o a voltar-se para o sepulcro do grande escritor.

"Sim, Dante!", exclamou, alterada. "Dante! O Inferno de Dante!"

Fez um gesto impetuoso a indicar o túmulo do famoso florentino.

"Dante é a resposta!" Colou-lhe o bloco de notas à cara. "Vai a Santa Croce e procura sobre o túmulo de Satanás, escreveu Filipe. Dante, o autor de A Divina Comédia e o criador do Inferno dos Infernos, é Satanás! Coño!, não é evidente?"

Sem perder tempo, a espanhola acercou-se do túmulo de Dante Alighieri e estudou-o. Era uma estrutura pesada, enquadrada por três estátuas, uma delas inclinada sobre o túmulo. Uma inscrição na base indicava Danti Aligherio.

"Não ouviste o que o monge franciscano disse?", perguntou Tomás.

"O túmulo de Dante, tal como os de Marconi e Fermi, estão vazios."

"E então?!", questionou ela. "Isso só reforça a minha ideia, aliás.

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Foi justamente por este túmulo estar vazio que Filipe o escolheu! Temos de abrir o túmulo de Dante! As ossadas dele não se encontram lá, mas o material que procuramos sim!"