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Dirk tocou o ombro de Gwen e acenou com a cabeça para cima. Mas ela apenas sorriu para ele e depois riu levemente. Então estendeu o braço até onde a pequena criatura estava e a triturou entre os dedos. Quando abriu a mão diante de Dirk, sua palma tinha apenas pó e tecido morto.

- Há um ninho de espectros arbóreos aqui perto - ela explicou. - Eles trocam de pele quatro ou cinco vezes antes da maturidade e deixam a casca como guardiões, para espantar outros predadores. - Ela apontou. - Ali há um vivo, se estiver interessado.

Dirk olhou e teve um vislumbre fugaz de uma pequena coisa amarela saltitante, com dentes afiados e enormes olhos castanhos.

- Eles voam também - contou Gwen. - Têm uma membrana que vai do braço até a perna e permite que pairem entre as árvores. Predadores, você sabe. Caçam em grupos, podem capturar criaturas centenas de vezes seu tamanho. Mas geralmente não atacam humanos, a menos que seja para defender seu ninho.

O espectro arbóreo havia partido agora, perdido entre o labirinto de galhos do estrangulador, mas Dirk achou ter visto outro brevemente, com o canto do olho. Estudou as árvores ao seu redor. As cascas de pele transparente estavam por todos os lados, vigiando o crepúsculo com ar feroz, todos pequenos e carrancu- dos fantasmas.

- São essas coisas que deixam Janacek tão aborrecido, não são? - perguntou.

Gwen assentiu.

- Os espectros são uma peste em Kimdiss, mas aqui eles realmente encontraram seu elemento. Combinam perfeitamente com os estranguladores, e podem se mover entre os emaranhados mais rápido do que qualquer outra coisa que eu tenha visto. Nós os estudamos muito bem. Estão devastando as florestas. Com o tempo, matariam todas as espécies e morreriam de fome, mas não terão tempo para isso. O escudo falhará antes, e o frio virá. - Encolheu os ombros um pouco cansada e apoiou o antebraço em um ramo baixo e arqueado. Os macacões de ambos há muito haviam se tornado da mesma cor amarela suja que as árvores ao redor deles, mas a manga dela deslizou para cima quando encostou no ramo, e Dirk viu o brilho fosco do jade-e-prata brilhando contra o estrangulador.

- Ainda há muita vida animal?

- Bastante - ela disse. A clara luz vermelha dava à prata um brilho estranho. - Não tanta quanto costumava haver, é claro. A maioria da vida selvagem abandonou a floresta de casa. As árvores estão morrendo, e os animais sabem isso. Mas as árvores dos mundos exteriores são mais resistentes, de algum modo. Onde florestas da Orla foram plantadas, você encontrará vida, ainda forte, ainda sobrevivendo. Os estranguladores, as árvores-fantasma, os viúvos azuis... florescerão até o fim. E terão seus inquilinos, velhos e novos, até que o frio venha.

Gwen movia o braço à toa, para este lado e para aquele, e o bracelete piscava para ele, gritava para ele. Um vínculo, uma lembrança e uma negação, tudo de uma vez, amor jurado em jade-e-prata. E ele tinha apenas uma pequena jóia-sussurrante no formato de uma lágrima, repleta de memórias que se desvaneciam.

Levantou os olhos, passando por um intrincado cruzamento de ramos amarelos dos estranguladores, até onde o Olho do Inferno estava parado em uma fatia do céu escuro, parecendo mais cansado do que infernal, mais compassivo do que satânico. E estremeceu.

- Vamos voltar - pediu para Gwen. - Este lugar me deprime.

Ela não se opôs. Encontraram uma clareira a uma certa distância dos estranguladores que os cercavam, um lugar para estender as plataformas metálicas de seus patinetes. Então subiram juntos para começar o longo voo de volta a Larteyn.

Capítulo 3

Ao voarem de volta por cima das montanhas, Dirk se saiu melhor do que da primeira vez, perdendo por menos do que antes. Mas o progresso não melhorou seu humor. Na maior parte da cansativa viagem, voaram em silêncio, separados, com Gwen alguns metros à frente dele. Seguiram de costas para a quebrada e muda Roda de Fogo, e a silhueta de Gwen parecia a de uma bruxa vagamente delineada contra o céu e sempre fora de alcance. A melancolia das florestas moribundas de Worlorn tinha penetrado na carne dele, e ele via Gwen com um olhar contaminado, a figura de uma boneca em uma roupa tão desbotada quanto o desespero, seu cabelo negro lustroso sob a luz vermelha. Os pensamentos vinham em um caos colorido, enquanto o vento passava por ele, e um deles era mais freqüente do que os demais. Ela não era sua Jenny, e nunca havia sido.

Duas vezes durante o voo, Dirk viu - ou pensou ter visto - o jade-e-prata brilhando, atormentando-o, como acontecera na floresta. Desviou os olhos ambas as vezes e observou as nuvens negras, longas e finas deslizarem pelo céu vazio e estéril.

O aeromóvel cinza em forma de arraia e a máquina de guerra verde-oliva não estavam no telhado quando o casal chegou a Larteyn. Apenas o carro amarelo de Ruark, em formato de lágrima, estava estacionado. Aterrissaram perto - o pouso de Dirk foi outro tropeço desajeitado, agora estranhamente sem graça, apenas estúpido - e deixaram os aeropatinetes e as botas de voo no telhado, no lugar em que as tiraram. Perto dos elevadores, conversaram brevemente, mas Dirk esqueceu as palavras assim que as disse. Então Gwen se despediu.

Em seus aposentos na base da torre, Arkin Ruark esperava pacientemente. Dirk encontrou um divã entre as paredes tom pastel, as esculturas e os vasos de plantas kimdissianas. Recostou-se nele, esperando apenas descansar e não pensar, mas Ruark estava ali, rindo e sacudindo a cabeça, fazendo os cabelos loiros platinados dançarem, empurrando uma taça verde alta em suas mãos. Dirk pegou e sentou-se novamente. A taça era de cristal fino e elegante, liso e sem adornos, exceto por uma pequena crosta de gelo derretido. Ele bebeu, e o vinho era muito verde e frio, e um sabor de incenso e canela desceu por sua garganta.

- Você parece muito cansado - falou o kimdissiano, depois de pegar uma bebida para si e largar-se em uma rede sob a sombra de uma planta negra inclinada. As folhas em formato de lança lançavam faixas de sombras em seu rosto gorducho e sorridente. Ele tomou um gole, sugando o líquido ruidosamente, e, por um breve instante, Dirk o desprezou.

- Um longo dia - comentou, vagamente.

- Verdade. - Ruark concordou. - Um dia com kavalarianos, né? É sempre longo. A doce Gwen, Jaantony e, por fim, Garsinho... o suficiente para fazer um dia durar uma eternidade. O que me diz?

Dirk não disse nada.

- Mas agora - Ruark continuou, sorrindo - você já viu. De minha parte, eu queria isso, que você visse. Antes que eu lhe contasse. Mas eu havia jurado contar para você, um juramento para mim mesmo. Gwen tem conversado comigo. A gente conversa, você sabe, como amigos, e eu a conheço e a Jaan desde Ávalon. Mas aqui nos aproximamos. Ela não consegue falar sobre isso facilmente, mas fala comigo, ou falava, e eu posso lhe contar. Nenhuma violação de confiança. Você é quem deve saber, creio.

A bebida tocou seu peito com dedos gelados, e Dirk sentiu o cansaço se dissipar. Era como se tivesse estado adormecido, como se Ruark estivesse falando por um longo tempo e ele tivesse perdido tudo.

- Sobre o que você está falando? - ele perguntou. - O que eu deveria saber?

- Por que Gwen precisa de você - respondeu Ruark. - Por que ela mandou... a coisa. A lágrima vermelha. Você sabe. Eu sei. Ela me contou.

Repentinamente Dirk estava bastante alerta, interessado e intrigado.

- Ela contou para você - ele começou, e então parou. Gwen lhe pedira para esperar, e havia muito tempo ele fizera uma promessa... mas se encaixava. Talvez tivesse que escutar, talvez fosse difícil demais para ela lhe dizer. Ruark saberia. Era amigo dela, Gwen dissera na floresta, o único com quem podia falar. - O que ela lhe contou?

- Você tem que ajudá-la, Dirk t'Larien, de algum modo. Só não sei como.

- Ajudá-la a fazer o quê?

- A ser livre. A escapar.

Dirk colocou a bebida na mesa e coçou a cabeça.

- De quem?

- Dos kavalarianos.

Ele franziu o cenho.

- De Jaan, quer dizer? Eu o conheci esta manhã, ele e Janacek. Ela ama Jaan. Eu não entendo. - Ruark riu, tomou sua bebida e riu novamente. O kimdissiano estava vestido com um traje de três peças com quadros alternados marrons e verdes, como a roupa de um bobo da corte, e estava sentado disparando coisas sem sentido. Dirk se perguntou se o pequeno ecologista era realmente um tolo.