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Ruark recostou-se, resmungando, e um silêncio pesado caiu sobre o carro por um longo momento.

- Arkin é de Kimdiss - Gwen disse finalmente, e forçou uma risada. Dirk a conhecia bem demais para ser enganado, contudo ela não estava mais tão tensa como quando vociferara com Ruark um momento antes.

- Não entendo - Dirk disse, sentindo-se muito estúpido, pois todos pareciam pensar que ele deveria entender.

- Você não é um habitante de um mundo exterior - Ruark disse. - Avalon, Baldur, qualquer que seja o mundo, não importa. Vocês de dentro do Véu não conhecem os kavalarianos.

- Ou os kimdissianos - Gwen completou, um pouco mais calma.

Ruark grunhiu.

- Isso foi sarcasmo - explicou para Dirk. - Kimdissianos e kavalarianos, não nos damos bem, sabe? Então Gwen está lhe dizendo que sou preconceituoso e que não deve acreditar em mim.

- Sim, Arkin - ela respondeu. - Dirk, você não conhece Alto Kavalaan, não entende a cultura ou o povo desse planeta. Como todos os kimdissianos, Arkin lhe dirá apenas o pior, mas tudo é mais complexo do que ele está disposto a admitir. Então, lembre-se disso quando este patife loquaz começar a tratar com você. Deve ser fácil. Nos velhos tempos, você sempre me dizia que toda questão tem trinta lados.

Dirk riu.

- É justo - disse - e é verdade. Embora, nestes últimos anos, tenha começado a achar que trinta é muito pouco. Mas ainda não entendo do que trata isto tudo. Este carro, por exemplo... veio com o trabalho? Ou você tem que voar em algo assim porque trabalha para o grupo Jadeferro?

- Ah - Ruark disse em voz alta. - Não se trabalha para o grupo Jadeferro, Dirk. Não, você é um deles ou não é... há apenas duas opções. Se você não é de Jadeferro, você não trabalha para Jadeferro!

- Sim - disse Gwen, sua voz esfriando novamente. - E eu sou Jadeferro. Gostaria que se lembrasse disso, Arkin. Algumas vezes você me aborrece.

- Gwen, Gwen - falou Ruark, parecendo muito agitado. - Você é uma amiga, uma alma gêmea de verdade. Enfrentamos grandes problemas, nós dois juntos. Nunca a ofenderia, não era minha intenção. Além do mais, você não é uma kavalariana, nunca. Primeiro, você é muito mulher, uma mulher de verdade, não uma mera eyn-kethi ou uma betheyn.

- Não? Não sou? Uso o vínculo de jade-e-prata no entanto. - Ela olhou para Dirk e abaixou a voz. - Por Jaan. - falou. - Este é o carro dele, na verdade, e é por isso que estou voando nele, para responder sua pergunta original. Por Jaan.

Silêncio. O vento era o único ruído, mo vendo-se ao redor deles enquanto subiam para a escuridão, agitando os longos cabelos lisos de Gwen e o emaranhado de Dirk. O frio penetrava na fina roupa braquiana, e Dirk se perguntava por que o aeromóvel não tinha capota, apenas um pequeno para-brisa de pouca utilidade. Então cruzou os braços, apertando-os contra o peito, e afundou-se no assento.

- Jaan? - perguntou calmamente. Uma pergunta. A resposta viria, ele sabia, e a temia apenas pelo jeito que Gwen dissera o nome, com um tipo de estranho desafio.

- Ele não sabe - Ruark disse.

Gwen suspirou, e Dirk viu que ela ficou tensa.

- Sinto muito, Dirk. Achei que soubesse. Já faz muito tempo. Pensei... bem, que um dos conhecidos em comum que temos em Ávalon, que um deles certamente teria contado para você.

- Nunca mais vi ninguém - Dirk falou cautelosamente. - Aqueles que conhecemos juntos. Você sabe. Viajo bastante. Braque, Prometeus, Mundo de Jamison - sua voz soava oca e frágil aos próprios ouvidos. Fez uma pausa e engoliu em seco. - Quem é Jaan?

- Jaantony Riv Lobo Alto-Jadeferro Vikary - disse Ruark.

- Jaan é meu... - Ela hesitou. - Não é fácil explicar. Sou betheyn de Jaan, cro-betheyn de seu teyn, Garse. - Tirou rapidamente os olhos do painel de instrumentos, olhou para ele e voltou a encarar o equipamento. Não havia compreensão no rosto de Dirk. - Marido - ela disse, então, dando de ombros. - Sinto muito, Dirk. Não é exatamente isso, mas é o mais perto que consigo chegar com uma única palavra. Jaan é meu marido.

Dirk, afundado no assento com os braços cruzados, não disse nada. Estava com frio e magoado, e se perguntava por que estava ali. Lembrou-se da joia-sussurro, e ainda assim se questionou. Gwen tivera alguma razão para enviar a gema para ele, certamente, e no devido tempo ela lhe contaria. E, na verdade, dificilmente teria esperado que ela estivesse sozinha. No porto, havia pensado, ainda que brevemente, que talvez Ruark... e aquilo não o incomodara.

Quando ele ficou em silêncio por tempo demais, Gwen o olhou novamente.

- Sinto muito - repetiu. - Dirk. De verdade. Você nunca devia ter vindo.

E ele pensou, ela está certa.

Os três seguiram voo sem falar. Palavras haviam sido ditas, e não as palavras que Dirk teria desejado, mas palavras que não mudavam nada. Ele estava ali, em Worlorn, e Gwen ainda estava ao seu lado, embora repentinamente fosse uma estranha. Eram ambos estranhos. Ele afundou-se ainda mais no assento, sozinho com seus pensamentos, enquanto um vento frio castigava seu rosto.

Em Braque, de algum modo, pensara que a joia-sussurrante significava que ela o estava chamando de volta, que ela o queria novamente. A única questão que importava para ele era se deveria ir, se poderia voltar para ela, se Dirk t'Larien ainda poderia amar e ser amado. Não era nada daquilo, ele sabia agora.

Mande esta lembrança e eu virei, e não haverá perguntas. Essa era a promessa, a única promessa. Nada mais.

Ele ficou zangado. Por que ela estava fazendo aquilo com ele? Ela havia guardado a joia e sentido os sentimentos dele. Ela podia ter adivinhado. Nenhuma necessidade dela podia pagar o preço das recordações dele.

Então, finalmente, a calma retornou a Dirk t'Larien. Ao fechar os olhos com força, pôde ver o canal em Braque novamente e a barcaça negra e solitária que, por um breve momento, parecera tão importante. E lembrou-se da decisão de tentar novamente, de ser como havia sido, de ir até ela e lhe dar o que pudesse dar, o que quer que ela pudesse precisar - por ele, tanto quanto por ela.

Endireitou-se com esforço, descruzou os braços, abriu os olhos e sentou-se de frente para o vento cortante. Então, deliberadamente, olhou para Gwen e exibiu seu velho sorriso tímido.

- Ah, Jenny - ele disse -, sinto muito, também. Mas não importa. Eu não sabia, mas isso não importa. Estou feliz de ter vindo, e você deveria estar contente também. Sete anos é muito tempo, certo?

Ela olhou de relance para ele, então novamente para os instrumentos e passou a língua sobre os lábios de modo nervoso.

- Sim. Sete anos é muito tempo, Dirk.

- Vou conhecer Jaan?

Ela assentiu.

- E Garse também, seu teyn.

Embaixo, em algum lugar, ele ouvia barulho de água, um rio perdido na escuridão. Sumiu rapidamente; estavam movendo-se em alta velocidade. Dirk espiou para baixo pelo lado do aeromóvel, para avistar a escuridão além das asas, depois olhou para cima.

- Vocês precisam de mais estrelas - disse pensativamente. - Sinto como se estivesse ficando cego.

- Sei o que quer dizer. - Gwen respondeu. Ela sorriu, e quase repentinamente Dirk se sentiu melhor do que se sentira havia muito tempo.

- Lembra-se do céu em Ávalon? - ele perguntou.

- Sim. É claro.

- Montes de estrelas. Era um mundo bonito.

- Worlorn tem sua beleza também - ela comentou. - Quanto você conhece daqui?

- Pouco. - Dirk respondeu, ainda olhando para ela. - Sei sobre o Festival, que o planeta é errante, e não muito mais. Uma mulher na espaçonave me disse que Tomo e Walberg descobriram o lugar ao viajarem para o extremo da galáxia.