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Dirk se contentou com o papel de perseguidor. O Jadeferro era fácil de ser visto - estavam sozinhos no céu lúgubre -, então não havia perigo de ficar perdido. Voou impulsionado pelos ventos escuralbinos novamente, aceitando o empurrão nas costas enquanto se abandonava a divagações sem objetivo. Mesmo desperto, teve estranhos sonhos com Jaan e Garse, com laços de ferro e jóias-sussurrantes, com Guinevere e Lancelote, os quais - percebeu repentinamente - também haviam quebrado suas promessas.

O rio desapareceu. Os tranqüilos lagos vieram e se foram, assim como a colônia de fungos brancos que formava uma crosta sobre o bosque. Dirk ouviu os latidos da matilha de Lorimaar uma vez, bem atrás dele, os ruídos trazidos pelo vento. Não se preocupou com isso.

Viraram para sul. Janacek era um pontinho negro, brilhando em tons de prata quando um raio de sol capturava a plataforma do aeropatinete. Ficava cada vez menor. Dirk ia atrás, um pássaro manco. Finalmente Janacek começou a fazer uma espiral para baixo, até o nível das copas das árvores.

Era uma região inóspita. Rochosa, em grande parte, com algumas colinas ondulantes e afloramentos de pedra negra com estrias de ouro e prata. Havia estranguladores por toda parte, estranguladores e mais estranguladores. Dirk olhava de um lado para o outro, procurando por uma única árvore-prata, por um viúvo azul, ou uma escura e sombria árvore fantasma. Um labirinto amarelo se estendia ininterruptamente, para todos os lados que sua vista alcançava. Dirk ouvia os barulhos frenéticos dos espectros arbóreos e os viu embaixo de seus pés, voando trechos curtos com suas pequenas asas. O ar ao redor de Dirk estremeceu com o grito de um banshee, e um arrepio cruzou sua espinha sem qualquer razão aparente. Olhou para cima rapidamente, ao longe, e viu um pulso de luz.

Breve e intenso, irritando seus olhos cansados, o repentino feixe de luz que apareceu em sua frente não pertencia a este lugar, não aqui, não a este mundo cinza e crepuscular. Não pertencia, mas estava ali. Irrompendo do bosque abaixo, o selvagem feixe de fogo logo se perdeu no céu.

Janacek era um pequeno boneco de trapo diante dele, perto da luz. O tênue fio escarlate o alcançou e passou por ele, tocando rápida e fugazmente a plataforma prateada. A imagem ficou congelada diante dos olhos de Dirk. Absurdamente, Janacek começou a cair, agitando os braços. Era como uma vara negra deslizando e desaparecendo entre os estranguladores, chocando-se contra os galhos entrelaçados.

Barulhos. Dirk ouviu barulhos. A música desse infinito vento de inverno. Madeira estalando, seguida de gritos de dor e raiva, animal e humano, humano e animal, ambos e nenhum deles. As torres de Kryne Lamiya fulguravam no horizonte, nebulosas e translúcidas, e cantavam um canto de morte.

Os gritos pararam repentinamente; as torres brancas se diluíram no ar, e o vento que empurrava Dirk varreu todos os pedaços para longe. Dirk mergulhou em direção ao bosque e empunhou o laser.

Havia um buraco escuro no topo da folhagem por onde Garse Janacek atravessara durante sua queda: galhos amarelos retorcidos e quebrados, uma cavidade grande o suficiente para o corpo de um homem. Escuridão. Dirk deu uma volta ao redor do buraco e não pôde ver Janacek no chão da floresta, de tão espessas que eram as sombras. Mas, no galho superior, viu um pedaço de tecido rasgado tremendo ao vento e mudando de cor. Em cima, um pequeno fantasma montava guarda solenemente.

- Garse! - gritou, sem se preocupar com o inimigo embaixo, o homem com o laser. Os espectros arbóreos responderam com um coro de chiados.

Ouviu ruído entre as árvores; a luz do laser cintilou novamente. Não para cima, desta vez, mas na horizontal, um impossível raio de sol na penumbra da floresta. Dirk voava em círculos, indeciso. Um espectro arbóreo apareceu no galho bem embaixo dele, estranhamente destemido, seus olhos líquidos encarando-o, as asas abertas tremendo ao vento. Dirk apontou o laser e disparou, até que a pequena criatura se reduziu a uma mancha escura na árvore amarela.

Então moveu-se novamente, circulando em espiral até que encontrou uma abertura entre os estranguladores, larga o suficiente para que pudesse descer. O chão da floresta era lúgubre; os estranguladores, completamente entrelaçados, deixavam passar apenas um décimo da fraca luz do Olho do Inferno. Imensos troncos erguiam-se por todos os lados, com galhos amarelos e disformes, rígidos e nodosos. Dirk se ajoelhou - o musgo espalhado pelo chão estava se decompondo - e soltou as botas da plataforma prateada. Então as sombras se abriram entre os estranguladores e Jaan Vikary apareceu. Dirk olhou para cima.

O rosto de Jaan estava marcado por linhas de expressão. Estava coberto com sangue e, nos braços, carregava um corpo flácido com o mesmo cuidado que uma mãe levaria o filho doente. Garse tinha um olho fechado e o outro estava faltando, arrancado com a metade do rosto. Sua cabeça descansava gentilmente contra o peito de Jaan.

-Jaan...

Vikary estremeceu.

- Atirei nele - disse. Tremendo, derrubou o corpo.

Capítulo 14

Não havia outro som na imensidão da floresta que não o da respiração ofegante de Vikary e os chiados fracos dos espectros arbóreos.

Dirk se aproximou de Janacek e o virou. Pedaços de musgo estavam presos ao corpo, sugando o sangue como esponjas. Os espectros arbóreos haviam despedaçado sua garganta, então a cabeça de Garse pendeu de forma quase obscena quando Dirk o moveu. Suas roupas grossas não forneceram proteção; os animais o morderam por todos os lados, transformando o tecido-camaleão em farrapos encharcados de vermelho. As pernas de Janacek, ainda unidas pela inútil plataforma de metal do aeropatinete, foram quebradas na queda; fragmentos de ossos afiados saíam pelas duas panturrilhas, em fraturas quase idênticas. O rosto, totalmente roído, era o pior. Seu olho direito desaparecera. O sangue que escorria da órbita vazia caía lentamente pela bochecha até o chão.

Não havia nada a ser feito. Dirk ficou olhando, impotente. Deslizou discretamente a mão pelo bolso da jaqueta de Janacek e envolveu a pedrardente na mão, depois se levantou para encarar Vikary.

- Você disse...

- Que nunca atiraria nele. - Vikary completou. - Sei o que disse, Dirk t'Larien. E sei o que fiz. - Falou muito lentamente, cada palavra saindo de seus lábios como se fosse chumbo. - Não queria isso. Nunca. Pretendia apenas pará-lo, derrubá-lo do aeropatinete. Ele caiu em um ninho de espectros arbóreos. Um ninho de espectros arbóreos.

A mão de Dirk apertava com força a pedrardente. Não disse nada.

Vikary estremeceu; sua voz ficou mais agitada, e havia um toque desesperado em seu tom.

- Ele estava me caçando. Arkin Ruark me avisou quando falei com ele rapidamente pelo visor em Larteyn. Ele disse que Garse se unira ao Braiths, que jurara me abater. Não acreditei. - Tremeu. - Eu não acreditei! Mesmo assim, era verdade. Ele veio atrás de mim, me caçando com eles, exatamente como Ruark dissera. Ruark... Ruark não está comigo... nós nunca... os Braiths vieram no lugar dele. Não sei se ele... Ruark... talvez eles o tenham matado. Não sei.

- Parecia confuso e cansado. - Eu tinha que deter Garse, t'Larien. Ele conhecia a caverna. E tenho que pensar em Gwen também. Ruark disse que Garse, em sua loucura, prometera entregá-la para Lorimaar, e eu o chamei de mentiroso, até que vislumbrei Garse atrás de mim. Gwen é minha betheyn, e você é korariel. São minha responsabilidade. Eu tinha que viver. Você entende? Nunca pretendi fazer isso. Fui atrás dele, abrindo caminho com o laser... Os filhotes no ninho estavam todos sobre ele, aquelas coisas brancas, e os adultos também... queimei todos eles, queimei e o tirei de lá.