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E isso fora tudo o que Judd conseguira descobrir a respeito dela em meia dúzia de sessões.

Ele ainda não tinha a menor pista para descobrir qual era o problema dela. Anne tinha um bloqueio emocional que a impedia de discuti-lo. Ele se recordava ainda das perguntas que fizera nas primeiras sessões.

- O problema que tem envolve o seu marido, Sra. Blake.

Não houvera resposta.

- A senhora e seu marido são compatíveis fisicamente?

- Somos.

Um constrangimento visível.

- Desconfia de que ele tem um caso com outra mulher?

- Não.

Resposta divertida.

- Tem a senhora por acaso, um romance com outro homem?

- Não.

Resposta indignada.

Judd hesitara, procurando a melhor maneira de romper a barreira. Ele se decidira pela técnica

do tiro em esmo, abordando todas as categorias principais até sentir que acertara no alvo.

- Discutem por causa de dinheiro?

- Não. Ele é um homem extremamente generoso.

- Têm problemas com as respectivas famílias?

- Ele é órfão. E meu pai vive na Califórnia.

- A senhora ou seu marido já foram viciados em drogas?

- Não.

- Desconfia de que seu marido seja homossexual?

Uma risada discreta, mas sincera.

- Não.

Ele insistira, porque tinha de fazê-lo.

- Já teve algum relacionamento sexual com outra mulher?

- Não.

Um tom de sinceridade na voz dela.

Judd abordara o alcoolismo, frigidez, uma possível gravidez que ela talvez tivesse medo de

enfrentar. Falara de tudo o que pudesse pensar. E em todas às vezes ela o fitara com os olhos

pensativos e inteligentes, sacudindo a cabeça negativamente. Sempre que ele se tornara mais

insistente, ela se esquivava gentilmente:

- Por favor, seja paciente comigo. Vamos fazer as coisas à minha maneira.

Com outro paciente qualquer Judd já teria desistido. Mas ele sentia que precisava de ajudá-la.

E tinha que continuar a vê-la.

Deixara-a falar sobre qualquer assunto que escolhesse. Ela visitara uma dúzia de países com

o pai e conhecera pessoas fascinantes. Tinha a mente ágil e um bom humor inesperado. Judd descobrira que apreciavam os mesmos livros, a mesma música, as mesmas peças teatrais. Ela era cordial e afetuosa, mas Judd jamais percebera qualquer reação a ele, a não ser como médico. Era uma amarga ironia. Subconscientemente ele vinha procurando alguém como Anne há anos. E agora que ela surgira na sua vida, ele tinha que resolver o problema que a atormentava, qualquer que fosse, mandando-a de volta para o marido.

E, quando Anne entrou naquela manhã em sua sala, Judd afastou-se, esperando que ela se

deitasse no divã.

- Hoje não - disse ela calmamente. - Vim apenas ver se podia ajudar em alguma coisa.

Judd fitou-a, sem conseguir falar por um momento. Ele ficara tão tenso nos dois últimos dias

que a solidariedade inesperada de Anne chegou a irritá-lo. E sentiu um impulso furioso de contar a Anne tudo o que lhe estava acontecendo. Falar-lhe do pesadelo que o estava dominando, sobre McGreavy e suas suspeitas idiotas. Mas ele sabia que não poderia fazê-lo. Ele era o médico e ela a paciente. Pior do que isso: ele estava apaixonado por Anne e ela era a esposa intocável de um homem que ele nem conhecia.

Anne estava parada no meio da sala, fitando-o. Judd sacudiu a cabeça, sem se sentir confiante

o bastante para falar qualquer coisa.

- Eu gostava muito de Carol - disse Anne. - Por que alguém haveria de querer matá-la?

- Não sei.

- A polícia já tem alguma idéia de quem foi o assassino?

"Mas claro que sim!", pensou Judd, amargurado. "Se ela soubesse…". Anne continuava a

fitá-lo, curiosa.

- A polícia tem algumas teorias - explicou Judd, vagarosamente.

- Imagino como deve estar se sentindo. Vim apenas para dizer-lhe o quanto lamento o que

aconteceu. Nem mesmo tinha certeza de encontrá-lo hoje no consultório.

- Pensei em não vir trabalhar hoje. Mas… aqui estou. E já que ambos estamos aqui, por que

não conversamos um pouco a seu respeito?

Anne hesitou.

- Não estou muito certa de que haja mais alguma coisa sobre que possamos conversar.

Judd sentiu o coração disparar. “Por favor, meu Deus, não deixe que ela diga que nunca mais”.

vou vê-la “!”.

- Vou para a Europa com meu marido na semana que vem.

- Mas isso é maravilhoso - Judd conseguiu balbuciar.

- Infelizmente desperdicei o seu tempo, Dr. Stevens, e peço-lhe desculpas.

- Ora, não há de quê.

Judd descobriu que estava com a voz rouca. Ela estava saindo de sua vida, o que era terrível.

Mas é claro que ela não podia saber disso. Ele estava sendo infantil. Sua mente dizia-lhe isso

clinicamente, enquanto o estômago sentia uma dor física pela partida dela. Para sempre.

Anne abriu a bolsa e tirou algum dinheiro. Ela tinha o hábito de pagar-lhe em dinheiro depois

de cada sessão, ao contrário dos demais pacientes, que normalmente lhe enviavam um cheque.

- Não - disse Judd rapidamente. - Veio como amiga e eu… lhe sou muito grato por isso.

Judd fez então algo que nunca fizera antes com nenhum outro paciente.

- Gostaria de que voltasse aqui mais uma vez.

Ela fitou-o em silêncio por um instante, com uma expressão serena no rosto.

- Para Quê?

"Porque não posso suportar a idéia de permitir que se vá tão cedo", pensou Judd. “Porque”.

nunca mais encontrarei ninguém como você. Porque a desejo desde da primeira vez em que a vi. Porque eu a amo “. Em voz alta, ele se limitou a dizer”:

- Acho que poderíamos… deixar tudo esclarecido. Quero certificar-me de que já superou o

seu problema.

Ela sorriu, brejeiramente.

- Está querendo dizer que quer que eu volte para receber o diploma de formatura?

- Mais ou menos isso. Vai voltar?

- Se quiser… é claro que sim. Não lhe dei a menor oportunidade de ajudar-me. Mas sei que

é um médico maravilhoso. Se um dia eu precisar de ajuda de verdade, pode ter a certeza que virei procurá-lo.

Ela estendeu a mão e Judd apertou-a. Ela tinha um aperto de mão firme e afetuosa. Ele

tornou a sentir aquela corrente compulsiva que o contato dos dois gerava, admirando-se de ela não sentir coisa alguma.

- Eu virei então na sexta-feira.

- Está certo.

Judd ficou observando-a sair pela porta que dava para o corredor, e depois afundou-se numa

poltrona. Ele nunca se sentiu tão sozinho em toda a sua vida. Mas não podia ficar sentado ali, sem fazer nada. Tinha que haver uma resposta. E se McGreavy não pretendia descobri-la, ele tinha que fazê-lo antes que McGreavy o destruísse. O Tenente McGreavy suspeitava de que ele cometera dois assassinatos. Ele não podia provar que não os cometera. Podia ser preso a qualquer momento, o que significaria a destruição de sua vida profissional. Além disso, estava apaixonado por uma mulher casada, a quem iria ver só mais uma vez. Esse era o lado negro da situação. Mas havia também o lado bom. Judd esforçou-se por pensar nos aspectos favoráveis. E não encontrou absolutamente nenhum.

Capítulo 5

O resto do dia se passou como se ele estivesse debaixo dágua. Uns poucos de pacientes

fizeram referências à morte de Carol, mas a maioria estava tão absorvida em seus próprios egos que não conseguiam pensar em outra coisa além dos seus problemas pessoais. Judd procurou se concentrar, mas seus pensamentos constantemente se afastavam dos pacientes, em busca das respostas para o que acontecera. Mais tarde ele ouviria as gravações, para verificar o que perdera.