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no edifício com a capa. Quando Hanson saiu com ela, pensaram que era eu.

- É possível - comentou Angeli.

- Claro que é possível - disse McGreavy. - E, quando descobriram que tinham matado o

homem errado, eles foram até seu consultório, rasgaram suas roupas e verificam que o senhor era na realidade, uma linda moça negra. Ficaram então furiosos e o espancaram até a morte.

- Carol foi morta porque a encontraram no lugar onde eu deveria estar - explicou Judd.

McGreavy meteu a mão no bolso do casaco e tirou algumas anotações.

- Acabei de falar com o capitão da delegacia em cuja jurisdição o acidente ocorreu.

- Não foi acidente.

- Segundo o relatório da polícia, Dr. Stevens, o senhor atravessou a rua descuidadamente,

fora do lugar.

- Não havia nenhum carro e por isso…

- Havia um carro - corrigiu Mcgreavy. - Só que não o viu. Estava nevando e a visibilidade era

péssima. O senhor surgiu no meio da rua inesperadamente. O motorista pisou no freio e derrapou, e o carro o atingiu. Ele entrou em pânico e fugiu.

- Não foi isso que aconteceu. E, além do mais, os faróis do carro estavam apagados.

- E acha que isso é prova que era o mesmo homem que matou John Hanson e Carol Roberts?

- Alguém tentou matar-me - repetiu Judd, insistente.

McGreavy sacudiu a cabeça.

- Não vai adiantar nada, Doutor.

- O que não vai adiantar?

- Espera mesmo que eu saia por aí à procura de um assassino imaginário, enquanto o senhor

fica inteiramente a salvo?

McGreavy fez uma pausa. Sua voz subitamente áspera.

- Sabia que a sua recepcionista estava grávida, Doutor?

Judd fechou os olhos e deixou a cabeça afundar novamente nos travesseiros. “Então era isso”.

que Carol desejava falar-lhe. Ele já imaginava. E agora McGreavy ia pensar “… Judd voltou a abrir os olhos”.

- Não, eu não sabia.

A cabeça de Judd começou a latejar novamente. A dor estava voltando. Ele engoliu em seco,

procurando dominar a náusea. Queria chamar a enfermeira, mas não ia dar aquela satisfação a

McGreavy, de jeito nenhum.

- Andei examinando os arquivos da polícia - disse McGreavy. - Sabe que eu descobri que a

sua linda recepcionista era uma vigarista antes de ir trabalhar em seu consultório.

A cabeça de Judd passou a latejar ainda mais forte. A dor tornou-se insuportável.

- Sabia disso, Doutor? Não precisa responder. Eu responderei pelo senhor. Sabia sim, porque

a tirou de um tribunal noturno há quatro anos, quando ela estava sendo julgada por prostituição.

Não acha que é um tanto estranho um médico respeitável contratar uma vigarista para ser

recepcionista de seu elegante consultório?

- Nenhuma mulher nasce vigarista - disse Judd, com a voz cansada. - Eu estava tentando

ajudar uma garota de dezesseis anos a ter uma oportunidade na vida.

- E aproveitar para ter também um lombo negro à sua disposição, não é mesmo?

- Seu bastardo de mente suja!

McGreavy sorriu, sem qualquer humor.

- Para onde levou Carol depois que a recolheu no tribunal noturno?

- Para o meu apartamento.

- E ela dormiu lá?

- Dormiu.

McGreavy sorriu novamente.

- É um homem incrível, Doutor! Pega uma jovem prostituta bonita e a leva para seu

apartamento, para passar a noite. O que está procurando? Uma parceira para o xadrez? Se não se deitou com ela, Doutor, então é porque talvez seja um homossexual. E adivinha a quem isso o liga? Isso mesmo, a John Hanson. Se se deitou com Carol, então é possível que tenha continuado a levá-la para a cama, até que ela engravidasse. E como pode ter o descaramento de ficar deitado aí e contar-me uma história da carochinha sobre um maníaco que gosta de atropelar as pessoas e fugir em seguida, que se transforma num assassino e sai matando as pessoas a torto e a direito?

McGreavy virou-se bruscamente e saiu da enfermaria, o rosto vermelho de raiva. O latejar

na cabeça de Judd transformara-se numa agonia insuportável, Angeli observava-o, preocupado.

- Está se sentindo melhor, Doutor?

- Tem que me ajudar! Alguém está querendo matar-me!

O apelo soou como um lamento fúnebre aos ouvidos de Judd.

- Quem teria motivos para matá-lo, Doutor?

- Não sei.

- Tem algum inimigo?

- Não.

- Dormiu recentemente com a esposa ou a namorada de alguém?

Judd sacudiu a cabeça, e no mesmo instante arrependeu-se do movimento.

- É herdeiro provável de alguma fortuna? Tem parentes que queira tirá-lo do caminho?

- Não.

Angeli suspirou.

- Então aparentemente não há motivo algum para que alguém queira assassiná-lo. E o que me

diz dos seus pacientes? Acho melhor que nos forneça uma relação, a fim de que possamos investigá-lo.

- Não posso fazer uma coisa dessas!

- Tudo o que estou pedindo é que nos forneça os nomes deles.

- Lamento, mas não é possível - disse Judd, falando com imenso esforço. - Se eu fosse um

dentista ou calista, não haveria o menor problema. Será que não pode compreender? As pessoas que me procuram têm problemas, alguns bastante sérios. Se vocês começarem a interrogá-las, não apenas iriam deixá-las abaladas como também destruiriam a confiança que elas depositam em mim. Eu não teria mais condições de tratá-las. Por isso é que não posso fornecer a relação dos meus pacientes.

Judd voltou a afundar nos travesseiros, exausto. Angeli fitou-o em silêncio por um minuto

antes de perguntar:

- Como se chama o homem que pensa que todo mundo está querendo matá-lo?

- Um paranóico.

Judd viu a expressão no rosto de Angeli e acrescentou rapidamente:

- Não está pensando que eu…?

- Ponha-se no meu lugar, Doutor. Se eu estivesse agora nessa cama e começasse a falar-lhe

do jeito que me está falando, Doutor, o que iria pensar a meu respeito?

Judd fechou os olhos novamente, numa defesa contra as pontadas de dor em sua cabeça.

Ouviu a voz de Angeli acrescentar:

- McGreavy está-me esperando lá fora.

Judd abriu os olhos.

- Espere… Dê-me uma oportunidade de provar que estou dizendo a verdade.

- Como?

- Quem quer que esteja querendo matar-me, irá tentar-lo novamente. Quero que algum polícia

seja designado para acompanhar-me. Assim poderá prender o assassino, em sua próxima tentativa.

- Dr. Stevens, se alguém deseja matá-lo, nem todos os polícias do mundo juntos o poderiam

impedir. Se não o pegar hoje, irá pegá-lo amanhã. Se não o pegar aqui, irá pegá-lo em algum outro lugar. Não importa que seja um rei ou um presidente, não importa que seja um simples Joäo-ninguém. A vida é um fio muito curto. Basta uma fração de segundo para rompê-lo.

- Então quer dizer que não há nada, absolutamente nada, que possa fazer?

- Posso-lhe dar alguns conselhos. Ponha fechaduras novas nas portas de seu apartamento,

verifique sempre se as janelas estão bem trancadas. Não deixe ninguém entrar em seu apartamento, a menos que o conheça. Nem mesmo entregadores, a não ser que tenha encomendado pessoalmente alguma coisa.

Judd assentiu, com a garganta seca e ardendo.

- O prédio em que mora tem porteiro e ascensorista, Doutor. Pode confiar neles?

- O porteiro trabalha no prédio há dez anos, o ascensorista há oito. Eu lhes confiaria a minha

vida.

Angeli assentiu, aprovadoramente.

- Ótimo. Peça-lhes para ficarem atentos. Assim sendo, será difícil alguém entrar no prédio

sem ser visto. E o que me diz do consultório? Pretende contratar uma nova recepcionista?

Judd pensou numa estranha sentada à mesa de Carol e sentiu um tremor de ódio impotente

perpassar-lhe o corpo.

- Não imediatamente.