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como fantasmas a espreitá-lo.

- Li a notícia a respeito de Carol - disse Teri, com alguma excitação na voz. - Foi um crime

sexual?

- Não - respondeu Judd bruscamente.

Ele abriu a porta de sua sala e pediu:

- Por favor, dê-me dez minutos para resolver alguns problemas urgentes.

Entrou no seu gabinete. Consultou a agenda e começou a telefonar para diversos pacientes,

cancelando as consultas para aquele dia. Só não conseguiu falar com três pacientes. O braço e o peito doíam a cada movimento, a cabeça começou a latejar novamente. Pegou dois comprimidos de Darvan numa gaveta e engoli-os com um copo de água. Depois foi até à porta da recepção, abriu-a e chamou Teri. Concentrando-se para tirar do pensamento tudo que não fossem os problemas de sua paciente, pelos próximos cinqüenta minutos. Teri deitou-se no divã, a saia levantada. Começou imediatamente

a falar.

Vinte anos atrás, Teri Washburn fora uma beldade deslumbrante. Ainda restava alguns

vestígios dessa beleza. Ela possuía os olhos maiores, mais suaves e mais inocentes que Judd já vira em toda a sua vida. Havia algumas rugas nos cantos da boca, mas os lábios ainda eram extremamente sensuais. Os seios eram firmes e arredondados por baixo do vestido estampado Pucci, bem justo.

Judd suspeitava de que ela tomava injeções de silicone, mas preferia esperar que ela mencionasse o fato. O resto do corpo de Teri ainda estava em boa forma e as pernas eram particularmente deslumbrantes.

Mais cedo ou mais tarde, a maioria das pacientes de Judd julgavam estarem apaixonadas por

ele. Era a transferência natural do relacionamento paciente-médico para paciente-protetor-amante.

Mas o caso de Teri era diferente. Desde o primeiro minuto em que entrara em seu consultório, Teri estava tentando ter um romance com ele. Procurara seduzi-lo por todos os meios que conhecia - e Teri era, de fato, perita nessa arte. Judd finalmente advertira-a de que, a menos que se comportasse, teria que encaminhá-la a outro médico. Desde então, Teri vinha-se comportando de forma mais comedida. Procurava sondá-lo, descobrir o seu calcanhar-de-aquiles. Um eminente médico inglês é que encaminhara Teri a Judd, depois de um desagradável escândalo internacional em Antibes. Um colunista francês acusara Teri de passar um fim-de-semana no iate de um famoso armador grego, de quem ela estava noiva tendo-se deitado com os três irmãos do armador, enquanto ele voava para Roma a fim de tratar de negócios. O escândalo fora rapidamente abafado e o colunista publicara uma

retratação, sendo em seguida despedido do jornal. Na primeira sessão com Judd, Teri se gabara de que o caso era verdadeiro.

- É incontrolável - dissera ela. - Sinto necessidade de sexo o tempo todo. Jamais fico

satisfeita.

Ela esfregara as mãos nos quadris, erguendo a saia e fitando Judd com uma expressão

inocente:

- Entende o que estou querendo dizer, não é, querido?

Desde a primeira sessão Judd descobrira muitas coisas a respeito de Teri. Ela nascera numa

pequena cidade mineira da Pensilvânia.

- Meu pai era um Polaco estúpido. Todos os sábados de noite se embriagava e dava uma

surra na minha mãe.

Aos treze anos Teri tinha um corpo de mulher e o rosto de um anjo. Descobriu que podia

ganhar alguns níqueis indo para trás dos depósitos de carvão com os mineiros. No dia em que o pai descobrira, aparecera na pequena cabana em que moravam gritando incoerentemente, em polonês, expulsando de lá a mãe de Teri. Trancara a porta, tirara o cinto grosso e começara a espancar Teri.

Ao acabar, violentara Teri.

Judd ficara em silêncio, observando Teri descrever a cena, o rosto desprovido de qualquer

emoção.

- Foi a última vez em que vi o meu pai e a minha mãe.

- Fugiu de casa, não é?

Teri virara no divã, surpresa.

- Como?

- Depois que seu pai a violentou…

- Se eu fugi?

Teri jogara a cabeça para trás, rindo a valer.

- Mas eu gostei! Foi a cadela da minha mãe que me expulsou de casa!

Judd ligou o gravador para iniciar a nova sessão e indagou:

- Sobre o que gostaria de falar?

- De trepar. Por que não o analisamos, Doutor, e descobrimos por que você é tão puro?

Judd ignorou o comentário.

- Por que acha que a morte de Carol pode ter sido uma agressão sexual?

- Porque tudo me faz pensar em sexo, querido.

Ela remexeu-se no divã e a saia levantou-se ainda mais.

- Abaixe a saia, Teri.

Ela fitou-o com uma expressão inocente.

- Oh, desculpe… Perdeu uma grande festa de aniversário na noite de sábado, Doutor.

- Fale-me a esse respeito.

Ela hesitou, com uma nota inesperada de preocupação em sua voz:

- Não vai detestar-me se eu contar?

- Já lhe disse que não precisa de minha aprovação para nada, Teri. A única pessoa de quem

deve querer aprovação é de você mesma. O certo e o errado são regras que fabricamos para

podermos relacionar-nos com as outras pessoas. Sem regras, não poderia haver tal relacionamento.

Mas não se esqueça de que as regras são artificiais.

Houve um longo silêncio.

- Foi uma festa com música ao vivo. O meu marido contratou um conjunto de seis músicos.

Judd ficou esperando. Ela virou-se para fitá-lo.

- Tem certeza que não perderá o respeito por mim?

- Quero ajudá-la, Teri. Todos nós já fizemos coisas de que nos envergonhamos, mas isso não

significa que tenhamos de continuar a fazê-las.

Teri examinou-o atentamente.

- Já lhe disse que desconfiava de que meu marido, Harry, é impotente?

- Já.

Ela falava sobre isso constantemente.

- Ele não fez nada comigo desde que nos casamos. Tem sempre alguma desculpa… Pois

bem…

Ela fez uma pausa, torcendo a boca numa expressão amargurada.

- Pois bem… sábado à noite eu me entreguei a todos os seis músicos, enquanto Harry olhava.

Ela começou a chorar, Judd entregou-lhe um lenço de papel e ficou calado, observando-a.

Ninguém jamais dera algo a Teri Washburn sem cobrar bem alto. Ao chegar a Hollywood,

ela arrumara um emprego de garçonete num drive-in, gastando a maior parte do que ganhava com um professor de arte dramática de terceira classe. Uma semana depois o professor convidara-a a morar com ele, obrigando-a a fazer todas as tarefas domésticas e restringindo as aulas ao quarto.

Algumas semanas depois, Teri compreendera que jamais conseguiria um lugar de atriz daquele jeito, mesmo que o professor quisesse arrumá-lo. Deixara-o, então, e conseguira um emprego de caixa na drugstore de um hotel em Beverly Hills. Na véspera do Natal aparecera um executivo da indústria cinematográfica, querendo comprar um presente de último minuto para a esposa. Ele dera o seu cartão a Teri, pedindo que lhe telefonasse. Uma semana depois, Teri fazia um teste para o cinema.

Ela era desajeitada e não tinha a menor experiência, mas três fatores estavam a seu favor. Possuía um rosto e um corpo sensacionais, era extremamente fotogênica e o executivo tornou-se seu amante.

Teri Washburn aparecera em pequenas pontas numa dúzia de filmes, naquele primeiro ano.

Começara a receber correspondência dos fãs. Suas partes nos filmes foram aumentando. Um ano depois seu benfeitor morrera de um ataque do coração. Teri ficara com medo de que o estúdio fosse despedi-la. Em vez disso, porém, o novo executivo a chamara ao seu gabinete e informara que tinha grandes planos para ela. Teri ganhara um novo contrato, um salário maior e um novo apartamento, que tinha um quarto todo espelhado. Os papéis de Teri foram aumentando gradativamente, até que ela se tornou a estrela principal de filmes de classe B. E, finalmente, com o público sempre aumentando as bilheteiras dos seus filmes, Teri Washburn tornara-se uma estrela de filmes de classe A.

Tudo isso acontecera muito tempo atrás. E, pensando em todos esses fatos, Judd sentia pena