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depois a telefonista da polícia disse:

- 19º Distrito.

O coração de Judd deu um salto.

- Quero falar com o Detetive Angeli. É urgente!

Lá fora, no corredor, algo estava acontecendo. Judd podia ouvir os sons de vozes afastadas.

Alguém se juntara ao primeiro homem. O que estariam planeando? Uma voz familiar soou ao telefone:

- O Detetive Angeli não está. Aqui é o companheiro dele, Tenente McGreavy. Pode…

- Aqui é Judd Stevens. Estou em meu consultório. As luzes estão apagadas e alguém está

tentando arrombar a porta para matar-me!

Houve um silêncio profundo do outro lado. Finalmente McGreavy disse:

- Olhe, Doutor, por que não vem até aqui e conversamos…

- Mas não posso ir até aí! Alguém está tentando assassinar-me!

Houve outro silêncio profundo e quase interminável do outro lado. McGreavy não acreditava

nele e não ia ajudá-lo. Judd ouviu a porta lá fora se abrir, em seguida vozes soaram na sala de

recepção. Eles já estavam na sala de recepção! Eles não teriam podido entrar se não tivessem uma chave. Mas ele podia ouvi-los aproximando-se da porta de sua sala.

A voz de McGreavy estava soando ao telefone, mas Judd nem escutou. Era tarde demais!

Judd repôs o fone no gancho. Agora não tinha mais importância alguma que McGreavy concordasse em vir. Os assassinos já estavam ali. A vida é um fio muito fino e basta uma fração de segundo para rompê-lo. O medo que dominara Judd transformou-se numa raiva cega. Ele se recusava a ser trucidado como Carol e John Hanson. Ia lutar até o fim. Tateou na escuridão em busca de uma possível arma. Um cinzeiro… um espátula… Eram objetos inúteis. Os assassinos estariam com revólveres. Era um pesadelo kafkiano. Ele estava sendo condenado sem razão alguma por carrascos sem rostos.

Ouviu-os junto à porta interna da sala de recepção e compreendeu que só lhe restava um ou

dois minutos de vida. Com uma calma estranha e impessoal, como se fosse o seu próprio paciente, Judd examinou os seus pensamentos finais. Pensou em Anne e uma sensação terrível de perda o dominou. Pensou em seus pacientes e de quanto precisavam dele. Harrisom Burke. Com uma pontada súbita, ele recordou-se de que ainda não dissera ao superior de Burke que era preciso interná-lo. Ele deixaria as fitas gravadas onde pudessem ser… O coração de Judd deu um salto.

Talvez ele tivesse uma arma com que lutar! Ele ouviu a maçaneta girando. A porta estava trancada à chave, mas era frágil. Judd tateou na escuridão rapidamente, até à mesa onde trancara a fita da última sessão de Burke. Ouviu o rangido da porta sendo empurrada com força. Depois ouviu alguém mexendo na fechadura. "Por que simplesmente não derrubam a porta?", pensou ele. Em algum ponto, no fundo da sua mente, sentiu que a resposta era importante. Mas não tinha tempo para pensar nisso agora. Com os dedos trêmulos, Judd abriu a gaveta na qual guardara a fita. A pressão na porta aumentou, Judd proferiu uma prece rápida, silenciosa. E disse em voz alta:

- Sinto muito as luzes terem-se apagado, Harrison, mas tenho certeza de que darão um jeito

nisso em poucos minutos. Por que não se deita e procura relaxar?

O barulho na porta cessou subitamente. Judd ajeitou a fita no gravador. Apertou o botão.

Nada aconteceu. Mas é claro! Toda a energia do prédio fora desligada. Judd ouviu os homens

recomeçarem a mexer na fechadura. Sentiu-se desesperado e disse bem alto:

- Assim é melhor. Procure ficar o mais confortável possível.

Ele procurou a caixa de fósforos em cima da mesa e acabou encontrando-a. Acendeu um

fósforo. Havia um botão onde estava escrito bateria. Girou o botão. Apertou novamente o botão de play. Nesse momento houve um súbito clique na fechadura e a porta se abriu. A última defesa de Judd fora superada!

Judd ficou paralisado, sem coragem de se mexer, o coração batendo forte.

E então a voz de Burke soou na sala:

- E isso é tudo o que tem a dizer? Nem mesmo está querendo ouvir as minhas provas! Como

é que posso saber que o senhor não é um deles?

A voz de Judd também saiu do gravador:

- Sabe perfeitamente que não sou um deles. Sou seu amigo. Estou tentando ajudá-lo…

Fale-me das provas que descobriu.

- Arrombaram minha casa ontem à noite - disse a voz de Burke. - Queriam matar-me. Mas

sou mais esperto do que eles. Estou dormindo agora no escritório e instalei trancas duplas nas portas, para que não possam me apanhar.

Os sons na sala de recepção haviam cessado. A voz de Judd soou novamente:

- Comunicou o arrombamento à polícia?

- Mas é claro que não! A polícia está do lado deles. Tem ordens para atirar em mim. Mas não

se atreverão a fazê-lo enquanto houver outras pessoas por perto. Por isso é que agora fico sempre no meio de uma multidão.

- Fico contente de que me tenha dado essa informação.

- O que pretende fazer com ela?

- Escutei atentamente tudo o que disse. Está tudo aqui…

Nesse momento, estourou um brado de alerta na mente de Judd: as próximas palavras na fita

eram "na fita gravada".

Ele inclinou-se rapidamente para o aparelho e desligou-o, dizendo em voz alta:

- …na minha mente. E vamos encontrar a melhor maneira de usar essa informação.

Não tinha como tocar o gravador novamente, pois não sabia onde se iniciava a frase seguinte.

Sua única esperança era de que os homens lá fora estivessem de fato convencidos de que estava com um paciente. Mas mesmo que acreditassem, será que isso iria detê-los?

- Caso como esse são mais comuns do que imagina, Harrison - disse Judd.

Ele soltou uma exclamação de impaciência e acrescentou:

- Desejaria que a luz voltasse logo de uma vez. Sei que seu motorista está lá embaixo

esperando e, com certeza, vai subir para ver o que está acontecendo.

Judd ficou imóvel, escutando atentamente. Ouviu cochichos na sala de recepção. O que será

que eles estavam decidindo? Da rua lá embaixo se elevou subitamente o gemido insistente de uma sirene que se aproximava. Os sussurros cessaram. Judd ficou esperando pelo ruído da porta externa se fechando, mas nada ouviu. Será que eles estavam esperando lá fora? O gemido de sirene ficou mais forte. Veio para diante do prédio.

E, de repente, todas as luzes se acenderam novamente.

Capítulo 8

- Aceita um drinque?

McGreavy sacudiu a cabeça com uma expressão carrancuda, examinando Judd. Enquanto

McGreavy o observava sem fazer qualquer comentário, Judd serviu-se de uma dose dupla de scotch.

Suas mãos ainda estavam tremendo. À medida que o calor do uísque começou a se espalhar pelo seu corpo, ele foi relaxando.

McGreavy entrara em seu consultório dois minutos depois de as luzes terem voltado a se

acender. Com ele estava um impassível sargento de polícia, que tomava notas taquigráficas das declarações de Judd.

- Vamos repassar toda a história, Dr. Stevens - pediu McGreavy.

Judd respirou fundo e pôs-se a contar tudo novamente, procurando manter a voz calma e

baixa:

- Fechei o consultório e segui para o elevador. As luzes do corredor se apagaram. Achei que

as luzes dos andares inferiores talvez estivessem funcionando e comecei a descer a escada.

Judd hesitou, revivendo todo o medo que sentira.

- Vi alguém subindo a escada com uma lanterna. Gritei-lhe. Pensava que fosse Bigelow, o

vigia noturno. Não era.

- E quem era, então?

- Eu já lhe disse que não sei. Ninguém me respondeu.

- E o que o faz pensar que estavam subindo para matá-lo?

Uma resposta irritada aflorou nos lábios de Judd, mas ele se conteve. Era fundamental que

McGreavy acreditasse nele.

- Eles me seguiram até aqui.

- Acha que havia dois homens querendo matá-lo?