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- Pelo menos dois. Ouvi-os sussurrando na sala de recepção.

- Disse que trancou a porta que dava para o corredor ao entrar na sala de recepção. Não foi

isso mesmo?

- Foi.

- E que, quando entrou aqui nesta sala, trancou a porta que dá para a sala de recepção.

- Exatamente.

McGreavy foi até a porta que dava para a sala de recepção.

- Eles tentaram forçar a porta?

- Não.

Judd recordou-se de que ficara surpreso com isso.

- É preciso uma chave especial para se abrir do corredor a porta da sala de recepção, não é?

Judd hesitou. Sabia aonde McGreavy estava querendo chegar.

- É, sim.

- E quem tinha as chaves que abriam aquela porta?

Judd sentiu seu corpo ficar vermelho.

- Carol e eu.

A voz de McGravy era afável.

- E o pessoal da faxina? Como é que entra aqui?

- Tínhamos um acerto especial. Carol chegava mais cedo três vezes por semana e deixava o

pessoal da faxina entrar. Eles acabavam de limpar tudo antes da chegada do meu primeiro paciente.

- Parece-me um tanto inconveniente. Por que não lhes permitia entrar aqui livremente, como

acontece em todos os outros escritórios?

- Porque os meus arquivos são altamente confidenciais. Prefiro a inconveniência a ter

estranhos por aqui, sem ninguém de confiança presente.

McGravy olhou para o sargento, para certificar-se de que estava anotando tudo. Satisfeito,

voltou a concentrar-se em Judd.

- Quando entramos na sala de recepção, a porta estava aberta. Não tinha sido arrombada, mas

sim aberta normalmente.

Judd não disse nada. McGreavy continuou:

- Acabou de dizer-nos que somente o senhor e Carol tinham chaves daquela porta. E nós

estamos com a chave de Carol. Pense bem, Dr. Stevens. Quem mais tinha uma chave daquela porta?

- Ninguém.

- Então como acha que os homens conseguiram entrar?

Subitamente Judd compreendeu.

- Eles tiraram uma cópia da chave de Carol quando a mataram.

- É possível - admitiu McGreavy, exibindo um sorriso frio. - Se tiraram mesmo uma cópia,

vamos encontrar vestígios de parafina na chave. Mandarei fazer um teste no laboratório.

Judd assentiu. Teve a sensação de obter uma vitória, mas a satisfação foi de curta duração.

- Na sua opinião, Dr. Stevens, dois homens, e vamos admitir por enquanto que não havia

mulher alguma envolvida, tiraram uma cópia da chave para poderem entrar em seu consultório e matá-lo. Certo?

- Certo.

- Disse há pouco que trancou a porta interna ao passar para a sua sala. Certo?

- Certo.

A voz de McGreavy era quase humilde:

- Mas encontramos a porta aberta também.

- Eles deviam ter também uma chave dessa porta.

- E por que não o mataram depois de abri-la?

- Eu já lhe expliquei: eles ouviram as vozes no gravador e…

- Está querendo-me dizer que dois assassinos desesperados prepararam tudo, apagaram as

luzes, encurralaram-no aqui dentro, conseguiram entrar… e depois sumiram no ar sem tocar num só fio de seu cabelo?

A voz de McGravy tinha um tom inconfundível de desprezo. Judd sentiu uma raiva fria

irromper dentro de si.

- O que está querendo dizer?

- Vou trocar em miúdos, Doutor. Não creio que ninguém tenha estado aqui e não acredito

que estejam querendo matá-lo.

- Não precisa aceitar a minha palavra tão-somente - disse Judd furioso. - E o que me diz das

luzes? E o que me diz do vigia noturno, Bigelow? - Ele está lá no saguão.

O coração de Judd parou por uma batida.

- Morto?

- Não estava quando nos abriu a porta. Houve um defeito na casa de força e Bigelow desceu

ao porão para concertar. Tinha acabado o serviço quando chegamos.

Judd fitou-o por um longo tempo em silêncio, completamente aturdido. Finalmente exclamou:

- Oh!

McGreavy encaminhou-se para a porta, acrescentando:

- E faça-me um favor: não me telefone novamente. Pode deixar que eu voltarei a procurá-lo.

O sargento fechou seu bloco ruidosamente e acompanhou-o.

Os efeitos do uísque se dissiparam. A euforia desapareceu e Judd mergulhou numa profunda

depressão. Não tinha a menor idéia do que fazer agora. Estava mergulhado num quebra-cabeças que não tinha nenhuma chave para ser decifrado. Sentia-se como um garoto que gritava "lobo". Só que os lobos eram fantasmas mortais e invisíveis, que pareciam desaparecer toda vez que McGreavy se aproximava. Fantasmas ou… Havia uma outra possibilidade. Era tão terrível que Judd não podia sequer admiti-la. Mas precisava fazê-lo.

Tinha que enfrentar a possibilidade de ele ser um paranóico.

Uma mente excessivamente tensa pode gerar ilusões que lhe parecem reais. Ele andava

trabalhando demais! Há anos que não tirara férias! Era bem possível que as mortes de Hanson e Carol tivesse sido o agente catalizador que empurrara sua mente em algum precipício emocional, no qual os fatos mais insignificantes assumem proporções extremas e despropositadas. As pessoas que sofrem de paranóia vivem num mundo em que as coisas comuns do cotidiano constituem terrores incríveis. O acidente com o carro, por exemplo. Se fosse uma tentativa deliberada de matá-lo, o motorista do carro certamente teria saltado para se certificar de que o trabalho fora feito. E os dois homens que haviam aparecido ali naquela noite. Ele nem sequer se apercebeu se eles estavam armados. A primeira suposição de um paranóico não seria a de que tinham vindo matá-lo? O mais lógico seria imaginar que eram apenas ladrões. Ao ouvirem as vozes em sua sala, tinham tratado de fugir. Se fossem mesmo assassinos, teriam escancarado a porta e tratado de matá-lo. Mas como ele podia descobrir a verdade? Judd sabia que era inútil apelar novamente à polícia. Não havia ninguém a quem pudesse recorrer…

Uma idéia começou a tomar forma em sua mente. Era uma conseqüência do seu desespero.

Mas, quanto mais a examinava, mais achava que não tinha outra saída. Pegou o catálogo telefônico e começou a folhear as páginas amarelas.

Capítulo 9

Às quatro horas da tarde do dia seguinte Judd deixou seu consultório e seguiu para um

endereço no West Side. Era uma casa de apartamentos antiga e decadente, escurecida pelo passar do tempo. Ao parar o carro em frente ao prédio, Judd começou a sentir apreensões. Talvez tivesse anotado o endereço errado. Mas logo uma placa numa janela do primeiro andar chamou sua atenção:

NORMAN Z. MOODY

Investigador Particular

Satisfação Garantida

Judd saltou do carro. Era um dia frio, com muito vento, anunciando a neve que não tardaria

a cair. Ele atravessou rapidamente a calçada gelada e entrou no vestíbulo do prédio.

O lugar tinha o cheiro rançoso de muitas refeições cozinhadas e de urina. Judd apertou o

botão marcado "Norman Z. Moody - 1". Um momento depois soou uma campainha. Ele passou para um corredor escuro e logo encontrou o apartamento 1. Uma placa na porta dizia:

MORMAN Z. MOODY

Investigador Particular

TOQUE A CAMPAINHA E ENTRE

Judd tocou a campainha e entrou.

Evidentemente Moody não era um homem dado a gastar dinheiros com luxos desnecessários.

O escritório parecia ter sido mobiliado por um rato do campo, desses que gostam de pegar e guardar tudo o que se encontra, cego e com um problema de tireóide. Bugigangas se acumulavam em todos os centímetros disponíveis na sala. A um canto havia um biombo japonês, bastante avariado. Perto, um abajur de pé empilhado e, em frente, uma mesa escalavrada no estilo dinamarquês moderno.

Jornais e revistas velhas estavam empilhados por toda a parte.

Subitamente abriu-se uma porta interna e Norman Z. Moody apareceu. Ele devia ter cerca