algumas perguntas.
Ele fez uma pausa e acrescentou, a voz incisiva:
- Pode ser aqui ou lá na delegacia.
Carol ficou aturdida. “Mas que diabo dois detetives da Divisão de Homicídios podiam querer”.
falar com o Dr. Stevens? O que quer que a polícia pudesse pensar, o Dr. Stevens não fizera
absolutamente nada de errado. Ela o conhecia bem para ter certeza disso. Há quanto tempo fora?
Quatro anos “. Tudo começara no tribunal noturno…”.
Eram três horas da madrugada e a luz fraca do tribunal esparramava sobre todos uma palidez
doentia. A sala era velha e cansada, indiferente, saturada de cheiro rançoso do medo, que ali se acumulava ao longo dos anos com demãos de tinta descamadas.
Era muito azar de Carol que o Juiz Murphy estivesse novamente de plantão. Ela fora levada
à presença dele apenas duas semanas antes, conseguindo escapar com um sursis. Sua primeira
condenação. Ou seja, a primeira vez que os tiras miseráveis tinham-na agarrado. Ela sabia que, desta vez, o juiz não iria perdoá-la.
O caso em julgamento antes de Carol estava quase terminado. Um homem alto, de aparência
tranqüila, estava parado diante do juiz e dizia alguma coisa a respeito do seu cliente, um homem gordo, algemado, com o corpo todo a tremer. Carol calculou que o homem tranqüilo devia ser advogado. Ele tinha um ar confiante, fazendo com que Carol sentisse que o homem gordo tinha muita sorte por tê-lo como advogado. Ela não tinha ninguém para defendê-la.
Os homens afastaram-se e Carol ouviu seu nome ser chamado. Ela levantou-se, mantendo os
joelhos bem juntos, para impedi-los de tremer. O meirinho empurrou-a gentilmente para a frente. Um funcionário do tribunal entregou o sumário de acusação ao juiz.
O Juiz Murphy olhou para Carol e depois para o papel em sua mão.
- Carol Roberts. Prostituição, vagabundagem, posse de maconha e resistência à prisão.
A última acusação era uma mentira deslavada. O guarda empurrou-a com toda a força e ela
desferira-lhe um pontapé certeiro. Afinal de contas, era cidadã americana e tinha que ser tratada com respeito.
- Você esteve aqui há poucas semanas, não é, Carol?
Carol procurou fazer com que sua voz não soasse trêmula.
- Acho que sim, Meritíssimo.
- E eu a deixei sair com sursis.
- Exatamente, senhor.
- Quantos anos você tem, Carol?
Ela já devia imaginar que iam fazer-lhe aquela pergunta.
- Dezesseis anos. E hoje é o meu aniversário. Feliz aniversário para mim!
Carol desatou a chorar, as lágrimas corriam copiosamente pelo seu rosto e os soluços sacudiam-lhe o corpo todo.
O homem alto e tranqüilo estava de pé, junto a uma mesa ao lado, arrumando alguns papéis e guardando numa maleta de couro. Ao ver Carol soluçando, ele olhou para o juiz e depois ficou a contemplá-la por um momento. Disse então alguma coisa ao Juiz Murphy.
O juiz declarou o tribunal um recesso e os dois homens desapareceram na sala reservada ao
juiz, atrás do tribunal. Quinze minutos depois o meirinho levou Carol até lá. O homem tranqüilo conversava inteiramente à vontade com o juiz.
- Você é uma garota de sorte, Carol! - disse o Juiz Murphy. - Vai ter outra oportunidade. O
tribunal entregá-la-á à custódia pessoal do Dr. Stevens.
"Com que então o cara alto não era um advogado, mas sim um médico"! Carol não se teria
importado mesmo que ele fosse Jack, o Estripador. Tudo o que ela queria era sair daquele tribunal nojento antes que descobrissem que não era o seu aniversário.
O médico levou-a para o apartamento dele, limitou-se a uma conversa trivial que não exigia
nenhuma resposta. Mas com isso Carol pôde recuperar a calma em sua situação. Ele parou o carro diante de um moderno prédio de apartamentos, na Rua 71, de frente para o East River. O prédio tinha porteiro e ascensorista. Pela maneira indiferente como cumprimentaram o médico, era de se imaginar que ele todos os dias chegava às três da madrugada, trazendo em sua companhia uma garota negra de 16 anos.
Carol nunca tinha visto um apartamento como o do médico. A sala de estar era toda branca,
com dois sofás compridos e baixos, forrados com um tecido axadrezado, de tons cremes. Entre os sofás havia uma intensa mesa de café quadrada, com o tampo de vidro. Em cima estava um tabuleiro de xadrez, com as peças esculpidas em cristal veneziano. Quadros modernos estavam pendurados nas paredes. Na parede do vestíbulo havia um receptor de televisão de circuito fechado, mostrando o saguão lá em baixo. A um canto da sala de estar, um bar de vidro fosco mostrando as prateleiras repletas de copos e garrafas de cristal. Olhando pela janela, Carol viu inúmeros barcos lá embaixo, bem pequenos, singrando o East River.
- Os tribunais sempre me deixam com fome - comentou Judd. - Que acha de eu preparar um
pequeno jantar de aniversário?
Ele levou-a para a cozinha, onde Carol ficou observando-o preparar rapidamente uma omelete
mexicana, batatas fritas francesas e muffins ingleses, além de uma salada e café.
- É uma das vantagens de ser solteiro - comentou ele. - Posso cozinhar quando me dá
vontade.
Então ele era solteiro e não tinha mulher em casa. Se ele jogasse as cartas direito, aquilo ia
ser um maná. Quando Carol acabou de devorar a refeição, o médico levou-a para o quarto de
hóspedes. Era todo pintado de azul, com uma cama de casal, sobre a qual estava estendida uma colcha quadriculada. A um canto havia uma cômoda de madeira escura, com ferragens de latão dourado.
- Pode passar a noite aqui - disse ele. - Vou arrumar um pijama para você.
Correndo os olhos pelo quarto muito bem decorado, ela pensou: “Carol, boneca, você tirou”.
a sorte grande! Esse cara está a fim de uma carne negra arrancada da cadeia! E é você quem vai lhe dar isso “! Ela despiu-se e passou a meia hora seguinte debaixo do chuveiro. Quando saiu do banheiro, com uma toalha enrolada no corpo reluzente e voluptuoso, viu que o filho da mãe deixara um pijama em cima da cama. Carol riu, maliciosamente, e não tocou no pijama. Deixou cair a toalha e dirigiu-se para a sala de estar. Ele não estava lá. Ela olhou pela porta que dava para uma pequena saleta. O médico estava sentado ali, sentado a uma escrivaninha grande, na qual havia um abajur antiquado.
A saleta estava atulhada de livros, do chão ao teto. Carol foi prostrar-se atrás dele e beijou-o no pescoço, sussurrando:
- Vamos começar logo de uma vez, meu bem. Você me deixou tão excitada que não me
agüento mais.
Ela comprimiu-se contra ele e acrescentou:
- O que está esperando, papaizinho? Se não me levar para a cama depressa, acho que vou
ficar maluca.
Ele fitou-a, os olhos castanhos, bem escuros, pensativos. A voz era suave quando falou:
- Não acha que já se meteu em encrenca suficiente? Não pode mudar o fato de ter nascido
negra, mas quem lhe disse que precisa ser também uma puta maconheira aos 16 anos de idade?
Carol ficou aturdida, sem saber o que dissera de errado. Talvez ele precisasse excitar-se
primeiro, chicoteando-a por exemplo, antes de chegar ao ponto. Ou talvez ele fizesse o gênero do reverendo. Ia rezar por sua carne negra, reformá-la e depois levá-la para a cama. Ela tentou de novo.
Estendeu a mão por entre as pernas dele, acariciando-o.
- Vamos, meu bem, enfia tudo isso dentro de mim.
Ele desvencilhou-se gentilmente e sentou-a numa poltrona. Carol nunca ficara tão
desconcertada antes. Ele não parecia bicha, é verdade, mas atualmente nunca se sabe.
- Qual é a sua, meu bem? Diga-me do que gosta e farei tudo por você.
- Está certo. Vamos bater um papo.
- Você quer… falar?
- Exatamente.
E como conversaram! A noite inteira. Foi a mais estranha das noites que Carol já vivera. O