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Foi uma decisão difícil, mas Judd sentiu-se melhor depois de tomá-la. Vestiu-se, arrumou uma mala com roupas suficientes para cinco dias e depois foi para o elevador.

Eddie ainda não entrara de serviço e o elevador estava ligado ao automático. Judd desceu até

a garagem, no subsolo. Procurou Wilt, o garagista, mas ele não estava por ali. A garagem estava deserta.

Judd localizou o seu carro estacionado a um canto, encostado na parede de cimento. Foi até

lá, pôs a valise no banco de trás, abriu a porta da frente e sentou-se ao volante. Ao estender a mão para a chave de igniçäo um homem surgiu ao lado do carro, como que materializado no ar. O coração de Judd disparou.

- É bastante pontual, Doutor.

Era Moody.

- Não sabia que viria desejar-me boa viagem.

O rosto de Moody se iluminou. Suas feições de querubim se abriram num sorriso largo.

- Eu não tinha coisa melhor para fazer e não consegui dormir.

Judd sentiu-se subitamente agradecido pela maneira hábil como Moody estava controlando

a situação. Ele não fizera qualquer referência ao provável desequilíbrio mental de Judd, insinuando apenas que ele fosse para as montanhas e descansasse um pouco. Logo, o mínimo que Judd poderia fazer era continuar a aparentar que estava tudo normal.

- Cheguei à conclusão de que estava certo e vou até as Catskills para ver se consigo marcar

um ponto no jogo.

- Não precisa ir a lugar nenhum para isso, Doutor. O ponto já foi marcado.

Judd fitou-o com uma expressão aturdida.

- Não estou entendendo…

- É simples. Eu sempre digo que se deve começar a cavar quando se quer chegar ao fundo

de alguma coisa.

- Sr. Moody…

Moody apoiou-se na porta do carro.

- Sabe o que me estava despertando curiosidade em seu probleminha, Doutor? É que parecia

que a cada cinco minutos alguém estava tentando matá-lo… talvez. E esse "talvez" me fascinava. Não havia nada que pudéssemos fazer enquanto não descobríssemos se alguém estava realmente querendo transformá-lo num cadáver ou se simplesmente o senhor estava ficando maluco.

- Mas as Catskillls… - disse Judd, debilmente.

- Ora, Doutor, Jamais pensei que fosse mesmo para as Catskills.

Moody abriu a porta do carro.

- Saia, Doutor.

Aturdido, Judd saiu do carro.

- A viagem foi apenas publicidade. Eu sempre digo que é preciso jogar sangue na água

primeiro quando se quer apanhar um tubarão.

Judd continuava a fitá-lo, sem entender nada.

- Infelizmente nunca conseguiria chegar às Catskills - disse Moody, gentilmente.

Ele foi até a frente do carro e levantou o capô. Judd prostrou-se ao seu lado. Havia três

bastões de dinamite ligados ao distribuidor. Dois fios soltos pendiam da ignição.

- Ia explodir assim que ligasse o carro - disse Moody.

- Mas como pôde…

Moody sorriu.

- Eu já lhe disse que sou dado a insônia. Cheguei aqui por volta da meia-noite. Dei algum

dinheiro ao vigia noturno para sair, e divertir-se um pouco e fiquei esperando nas sombras. E vou ter que dar mais vinte dólares ao vigia noturno. Não quis que o negócio saísse barato.

Judd sentiu uma afeição súbita por aquele homem gordo.

- E viu quem foi?

- Não. Colocaram a dinamite antes de eu chegar. Às seis horas da manhã achei que ninguém

ia aparecer e resolvi dar uma olhada.

Ele apontou para os fios soltos e acrescentou:

- Seus amigos são realmente espertos. Ligaram um segundo fio de maneira que a dinamite

explodisse também se o senhor levantasse o capô totalmente. A mesma coisa aconteceria se ligasse a ignição. Há dinamite bastante para destruir metade da garagem.

Judd sentiu-se subitamente nauseado o estômago embrulhado. Moody fitou-o com uma

expressão de simpatia.

- Anime-se, Doutor. Pense no progresso que já fizemos. Já sabemos duas coisas. Em primeiro

lugar, temos certeza agora de que não está pirado. Em segundo lugar…

Moody fez uma pausa, o sorriso desaparecera-lhe do rosto.

- …Sabemos também que alguém está ansioso por assassiná-lo, Dr. Stevens.

Capítulo 10

Eles estavam sentados na sala de estar do apartamento, conversando. O corpo imenso de

Moody se esparramava sobre o sofá. Moody guardara todas as peças da bomba desarmada na mala do próprio carro.

- Não deveria tê-la deixado no lugar, para que a polícia pudesse examinar? - perguntou Judd.

- Eu sempre achei que a coisa que mais confunde no mundo é o excesso de informações.

- Mas isso iria provar ao tenente McGreavy que estou dizendo a verdade!

- Iria mesmo?

Judd compreendeu imediatamente. McGravy certamente iria pensar que fora ele próprio quem

colocara os bastões de dinamite. Não obstante, parecia-lhe estranho que um detetive particular

ocultasse informações à polícia. Sua impressão era de que Moody se parecia com um iceberg. A maior parte do homem estava oculta sob a superfície, por trás daquela fachada de gordo bonachão de cidade pequena. Naquele momento, ouvindo Moody falar, Judd sentiu-se exultante. Ele não era um insano e o mundo estava subitamente repleto de terríveis coincidências. Havia um assassino à solta. Um assassino de carne e osso. E, por alguma razão ignorada, ele escolhera Judd como seu alvo.

"Meu Deus", pensou Judd, "como nossos egos podem ser facilmente destruídos"! Alguns minutos atrás ele estava pronto a acreditar que era um paranóico. A sua dívida para com Moody era incalculável.

- …Afinal, o senhor é médico - estava dizendo Moody. - Eu sou apenas um velho detetive.

E sempre digo que se deve ir à colméia quando se quer uma abelha.

Judd estava começando a compreender o jargão de Moody.

- Quer saber a minha opinião sobre o tipo do homem ou homens que estamos procurando?

- Isso mesmo. Estamos às voltas com um maníaco homicida que fugiu de um hospício ou

temos que procurar mais fundo?

- Temos que ir mais fundo - disse Judd rapidamente.

- O que o leva a pensar assim, Doutor?

- Antes de mais nada, porque foram dois homens que tentaram arrombar meu consultório

ontem à noite… Eu ainda poderia engolir a história de lunático, mais dois lunáticos trabalhando juntos é demais!

Moody assentiu, aprovando o raciocínio.

- Entendido. Continue.

- Em segundo lugar, porque uma mente desequilibrada pode ter uma obsessão, mas age de

acordo com um padrão determinado. Não sei por que John Hanson e Carol Roberts foram

assassinados. Mas, a menos que eu esteja completamente errado, estou marcado para ser a terceira e última vítima.

- O que o leva a pensar que será o último?

- Porque se houvesse outros para serem assassinados, eles teriam ido apanhá-los assim que

fracassaram na primeira tentativa de matar-me. Em vez disso, porém, eles estão-se concentrando exclusivamente na tentativa de liquidar-me.

- Sabe, Doutor, acho que tem uma inclinação natural para o trabalho de detetive.

Judd franziu o rosto.

- Mas há diversas coisas que não fazem o menor sentido.

- Tais como?

- Em primeiro lugar, o motivo. Não sei de ninguém que…

- Falaremos disso depois. O que mais?

- Se alguém está realmente tão ansioso por matar-me, já poderia tê-lo feito facilmente.

Quando aquele carro me atropelou, tudo que o motorista precisava fazer era dar macha à ré e passar com o carro por cima de mim. Eu estava desmaiado.

- Ah! É nesse ponto que o Sr. Benson entra na história.